OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Informação é saúde. Saúde pública, no caso. A crise do coronavírus tem reforçado a importância de investirmos na informação e nos canais de comunicação adequados como ação fundamental para a saúde, a ordem pública, a coordenação do país e para a própria sanidade mental (quem não está se sentindo como um boxeador que tomou um uppercut no primeiro round ?).

 

Mesmo em época em que precisamos tanto da informação para orientar as nossas condutas e os pensamentos, há muitas fake news circulando por aí. Até pessoas mais “esclarecidas” (com o perdão do emprego inadequado do termo) e com mais anos de estudos formais costumam acreditar em conteúdos falsos e/ou duvidosos que circulam nas redes sociais e no boca a boca informal.

 

No Irã, várias pessoas morreram de intoxicação por beberem álcool adulterado, ao acreditarem no boato de que bebidas alcoólicas curariam a Covid-19. E olha que lá o álcool é proibido! Ainda no Irã, uma multidão ateou fogo em um hospital em Bandar Abas (sul do país), onde havia pacientes com o novo coronavírus. Receosos de que ali poderia ser um local de propagação da doença, um grupo de pessoas atacou o hospital, que passou a ser pejorativamente apelidado por elas como Corona Hospital.

 

Episódios desse tipo relevam, inclusive e lamentavelmente, um impulso de anticivilização e de falta de solidariedade, compaixão e empatia. Revelam, também, a desinformação sobre o vírus: o que é, como se propaga, os riscos, a cura etc. Portanto, o bem informar é uma responsabilidade do Estado, das organizações em geral e de cada pessoa para com a democracia, a civilização, a humanidade, a cultura, conosco mesmos.

 

Desde a prensa de Gutemberg e, posteriormente, o Iluminismo, a humanidade passou a ler muito mais. Aos poucos, o acesso a livros e jornais deixou de ser restrito a uma mínima parcela social para se tornar quase que universal. Os índices de analfabetismo têm caído nas últimas décadas, enquanto que os de escolaridade têm crescido. Informação é (i)matéria cada vez mais abundante, por meio de texto, vídeo, foto, áudio etc, etc, etc.

 

Mas, muitas vezes o que fica são tweets, memes e títulos de lacração nas redes sociais, nas quais – não raro – o indivíduo costuma ter mais influência do que muitas organizações tradicionais de comunicação. A entrega desse prestígio aos indivíduos tem vantagens, como horizontalizar o processo de edição, produção e difusão da informação. Mas, também apresenta riscos, como a forma amadora de lidar com a informação, sem qualquer noção das consequências de uma determinada publicação, cujo conteúdo não foi averiguado e contextualizado.

 

Esse cenário deposita ainda mais responsabilidade na imprensa e nas instituições, que precisam assumir, dentro do possível, um certo controle sobre as informações que dizem respeito a si, para que conteúdos de caráter interno (ainda que de interesse público) não sejam distorcidos e usados inapropriadamente.

 

Há uma máxima na Ciência da Informação de que “informação é o que transforma estruturas”. Informação é como o poder. O espaço comunicativo vai ser ocupado. Melhor que o seja pela informação séria, íntegra, bem intencionada e tratada.

 

Em tempo de coronavírus, todos precisamos de referências para nos comportarmos, situarmos, pensarmos e mantermos (ou recuperarmos) a lucidez.

 

Até a próxima!

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