OPINIÃO

 

 

Lucas Vieira Barros é graduado em Engenharia Elétrica, mestre em Engenharia de Telecomunicações e doutor em Geociências. Foi chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília por cerca de 18 anos. Professor de graduação e pós-graduação dos cursos de Geologia e Geofísica do Instituto de Geociências da UnB.

 

 

Brandow Lee Neri é graduado em Geofísica pela Universidade de Brasília, com projeto de conclusão de curso na área de Infrassom, uma das quatro tecnologias de verificação do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares. É aluno de mestrado no Programa Geociências Aplicadas e Geodinâmica do Instituto de Geociências da UnB.

 

 

Lucas Vieira Barros e Brandow Lee Neri

 

O Observatório Sismológico (SIS) da Universidade de Brasília (UnB) detectou e localizou a explosão ocorrida em Beirute em 4/8/2020, às 15:10:42 (UTC) e 12:10:42 (hora de Brasília), usando dados de três estações de infrassom da rede IMS (International Monitoring System).

 

O SIS - UnB colabora com uma organização das Nações Unidas, com sede em Viena – Áustria, que tem como objetivo verificar o cumprimento do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT). O Brasil participa desta organização com dados de suas estações e também com informações provenientes da análise e interpretação dos dados de uma Rede Mundial com 321 sensores geofísicos (Rede IMS), que cobre todo o planeta. Qualquer explosão nuclear, seja em ambiente subterrâneo, ambiente subaquático ou na atmosfera, com potência equivalente a no mínimo 1 quiloton de TNT (Trinitrotolueno – material explosivo), pode ser detectada por essa rede.

 

O SIS - UnB opera estações com duas tecnologias dessa rede localizadas em Brasília: uma sísmica (apropriada para detecção de explosões subterrâneas) e uma infrassônica (apropriada para detecção de explosões atmosféricas). Em função da distância e da energia, a explosão em Beirute não foi registrada por estas estações em Brasília. Entretanto, três estações de infrassom, pertencentes a essa rede mundial de monitoramento, a cujos dados o SIS – UnB tem acesso, localizadas na Alemanha (código I26DE, 2500 km de Beirute), na Tunísia (I48TN, 2400 km de Beirute) e na Costa do Marfim (I17CI, 5000 km de Beirute), registraram esse evento, figuras 1, 2 e 3, respectivamente.

 

A estrela amarela na Figura 4 mostra a localização da explosão que ocorreu em Beirute. Os raios azimutais de cada estação apontam para a fonte de ondas infrassônicas. Apesar das distâncias das estações, a orientação calculada no processamento interativo dos dados obteve resultado satisfatório. Essa análise, feita com apenas três estações de infrassom, pode ser melhorada usando também dados de estações sísmicas.

 

Essa explosão foi registrada por estações infrassônicas assim tão distantes devido à carga do explosiva (o USGS -United States Geological Survey, estimou uma magnitude 3,3 na Escala Richter). A direção de propagação dos ventos, que ajudam na propagação das ondas infrassônicas para grandes distâncias, estações no lado leste não registraram esse evento. A energia liberada pela explosão foi muito maior do que a um terremoto de magnitude 3,3, pois, enquanto um terremoto (por ser subterrâneo) tem a maior parte de sua energia convertida em ondas sísmicas, essa explosão foi superficial e, por isso, pouca energia foi  transformada em ondas sísmicas, cuja amplitude dá uma medida de sua magnitude.

 

Se uma explosão nuclear subterrânea, com potência de 1kt (15 vezes menor do que a bomba de Hiroshima), libera energia equivalente à de um terremoto de magnitude 4, então essa explosão em Beirute pode ter liberado uma energia de cerca de 0,3 quiloton (cálculos preliminares).

 

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