OPINIÃO

 

 

 

Viviane de Melo Resende é doutora em Linguística, professora associada do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) e diretora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília.

 

 

Mônica Celeida Rabelo Nogueira é doutora em Antropologia Social, professora da Faculdade UnB Planaltina (FUP) e coordenadora do Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT) da Universidade de Brasília.

Viviane de Melo Resende e Mônica Nogueira

 

A realidade de mulheres pesquisadoras e docentes do ensino superior vem ganhando atenção crescente nos últimos anos. Embora sejamos maioria em muitas das instituições de ensino superior – como na Universidade de Brasília, em que somamos 51,1% do conjunto de docentes e 53,5% de estudantes de pós-graduação –, pesquisas revelam que mulheres enfrentam mais obstáculos para progredirem na carreira acadêmica.

 

Muitas das dificuldades que se impõem às mulheres estão associadas à maternidade. Por isso, foi com entusiasmo que recebemos a notícia da aprovação, na última sexta-feira, 23, da Resolução no 12/2020, pela Câmara de Pesquisa e Pós-Graduação (CPP), que dispõe sobre credenciamento e recredenciamento de docentes em licença maternidade nos programas de pós-graduação. Em junho, a CPP já havia aprovado a Resolução no 04/2020, assegurando direitos às estudantes de pós-graduação em licença maternidade. Juntos, esses dois normativos representam avanços no enfrentamento de barreiras de gênero no trabalho acadêmico e científico, muitas vezes sutis, mas sempre presentes.

 

A desigualdade de gênero na vida acadêmica não se dá em função exclusiva da maternidade e dos cuidados com a família, mas esses são fatores preponderantes nas histórias de muitas mulheres universitárias. A maternidade e os cuidados com bebês e crianças levam à necessidade de tomar tempo, tomar ar, emergir das demandantes rotinas de pesquisa e produção acadêmica, e como o padrão de exigência sobre mulheres e homens em torno da manutenção da vida está longe de ser o mesmo, não é incomum que as mulheres-mães-pesquisadoras vejam-se em condições de difícil concorrência.

 

Em sua pesquisa sobre o tema, Marília Moschkovich (2015) aponta desigualdades de gênero inclusive em áreas acadêmicas em que mulheres, sendo maioria, encontram barreiras para se afirmarem. Tendo analisado dados de trajetórias docentes em uma universidade pública brasileira, a pesquisadora entendeu que o fato de serem maioria em certas áreas do conhecimento não garante às mulheres as posições mais destacadas nesses campos científicos. Docentes do sexo feminino têm menos chance que os do sexo masculino de alcançar o topo da carreira, segundo sua pesquisa.

 

Dados do CNPq de 2015 confirmam: embora as mulheres representem maioria entre pessoas tituladas com mestrado e doutorado no Brasil (Venturini, 2017), e também sejam maioria entre bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado, a situação se inverte quanto à distribuição de bolsas de produtividade em pesquisa, as mais prestigiosas no país. A presença masculina ainda se eleva quanto mais alto o reconhecimento na escala hierárquica dessas bolsas PQ, nos níveis 1A e SR, como aponta Moema Guedes (2014).

 

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