Tânia Fontenele
No início de Brasília, eram poucas mulheres, mas a gente valia por mil. A gente fazia de tudo. Era um desafio viver sem água e luz, numa cidade toda em construção. Valeu a pena tanto sacrifício para ver nascer a nova capital do Brasil. Pena que a gente não é lembrada...”.
Maria Luíza Mendes (2010) chegou em 1958 em Brasília
A historiografia sobre a construção da nova capital do Brasil, Brasília, é marcada pela exaltação da performance do presidente Juscelino Kubitschek (JK), dos arquitetos Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, do paisagista Burle Marx e dos candangos (trabalhadores das obras), todos homens. Raramente as mulheres foram lembradas ou mencionadas nesse momento histórico.
Nossa pesquisa apresenta dados coletados para a realização do filme documentário Poeira e Batom no Planalto Central – 50 mulheres na construção de Brasília, em que se evidencia a existência de significativo número de mulheres que trabalhavam em vários ofícios: lavadeiras, professoras, cozinheiras, prostitutas, engenheiras, parteiras, administradoras dos escritórios das obras, donas de casa, dentre outras profissões.
Elas trabalharam em condições precárias, moraram em casas de madeira ou acampamentos improvisados, sem água e luz. Sacrificaram-se no meio da poeira das construções para a consolidação de Brasília e, no entanto, raramente foram lembradas. Discute-se, nesse trabalho, a necessidade de valorização da memória oral das mulheres que participaram da construção de Brasília e a visibilidade do trabalho feminino, fato recorrentemente ocultado na historiografia da nova capital do Brasil.
A construção de Brasília é apresentada como uma das faces do “novo” Brasil, sendo atribuído o adjetivo de cidade revolucionária justamente porque representava a superação de um contexto social, político e, principalmente, econômico na década de 1960. Representava um marco desenvolvimentista proporcionado com a transferência da capital, localizada próxima do mar (Rio de Janeiro), para o centro do Brasil. Essa mudança estimulou a abertura de estradas, postos de trabalhos para homens e mulheres, e a conquista de um espaço geográfico considerado desértico.
Tratava-se de construir uma cidade toda planejada no centro do Brasil, com projeto dos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que são considerados referência internacional por sua importância e inovadora proposta urbanística e arquitetônica. Em menos de quatro anos, a cidade foi erguida no centro do Brasil, numa área desabitada para implementar o desenvolvimento social e econômico dessa região. Brasília representou, para o governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956/1961), a maneira mais rápida e eficaz de desenvolver o interior, de modernizar e integrar o país, enfim, de corrigir e reordenar o curso de nossa história, num processo logo intitulado “a construção de um novo Brasil” (OLIVEIRA, 2005, p. 22).
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Referências Bibliográficas
FONTENELE, Tânia M. (2010). Poeira e Batom no Planalto Central - 50 mulheres na construção de Brasília. Brasília: Athalaia: 2010.
OLIVEIRA, Márcio de. Brasília: o mito da trajetória da nação. Brasília: Paralelo 15, 2005.
PERROT, Michelle. (2015). Minha História das Mulheres. 2.ed. São Paulo: Contexto.
RAGO, Margareth (2000). Epistemologia feminista, gênero e história. In: PEDRO, Joana Maria e GROSSI, M Pilar (Orgs). Masculino, feminino, plural. Florianópolis: Editora Mulheres. p.21-42.
REIS MADSON, Carlos. Mulheres Invisíveis. Correio Brasiliense, Brasília, p.13, 20 Abr. 2015.
Entrevistadas do filme Poeira e Batom. [Entrevista cedida a] Tânia Fontenele. Brasília, 2010. 1 arquivo. Mp3
CARVALHO, Helena Maria Viveiros de Sousa
CINTRA, Marta
KOUZAK, Salam
MENDES, Maria Luíza
OLIVEIRA, Iara Pietricovsky de