OPINIÃO

 

Maria Eduarda Krasny é estudante de letras - português, coordenadora de Mulheres e Gênero no DCE Honestino Guimarães, gestão A Gente que Lute. Travesti, negra e moradora da Ceilândia.

 

 

Maria Célia Orlato Selem é coordenadora da coordenação LGBT da Diretoria da Diversidade/UnB. Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas.

 

 

Hiury Cassimiro Milhomem é assistente social da DIV/UnB. Mestrando em Política Social na UnB.

Maria Eduarda Krasny, Maria Célia O. Selem, Hiury C. Milhomem 

 

Ao construir a Semana da Visibilidade Trans da Universidade de Brasília no mês de janeiro, a Diretoria da Diversidade, o Diretório Central dos Estudantes, o Decanato de Extensão e a Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Acadêmica, em parceria com a UnBTV, puderam impregná-la de vários sentidos. No presente ano, abraçará, em especial, a ideia de que tornar-se visível, é, também, tornar-se crível. Ou seja, precisamos ver para acreditar que há outros modos de vida, outras identidades, outras eroticidades, outras sexualidades, outras formas de amar e, em particular, crer na existência denominada trans para além de estereótipos e preconceitos.


O preparo das atividades dessa semana envolve encontros de estudantes e pesquisadoras, pesquisadores e pesquisadories trans, docentes, gestoras e gestores e técnicas, técnicos e técniques da UnB. Por outro lado, tão importante quanto a programação proposta são as trocas possibilitadas nesses encontros, as afetações entre as múltiplas identidades, onde as pessoas trans protagonizam espaços pedagógicos, tendo como perspectiva o direito à vida com dignidade, respeito, afetos e amor.


Sabemos que no Brasil as existências trans são constantemente ameaçadas em seu direito à vida: são excluídas da família, da escola, dos cuidados em saúde, da vivência religiosa, da proteção da segurança pública, do mercado de trabalho e até mesmo do afeto! Precisamos de uma sociabilidade mais cidadã, que abra horizontes afetivos e profissionais mais amplos. Ou seja, distantes de situações de violência a que substantivo contingente de pessoas trans é empurrado por um violento regime moral cisheteronormativo que associa os corpos trans apenas à exploração sexual.


No sentido de exaltar existências destoantes do regime cisnormativo, de pensar a pluralidade humana em sua sempre prenhe diversidade, enxergamos na Semana da Visibilidade Trans um espaço vitrine. Momento em que as telas do computador, do celular ou do tablet aparecem como janelas onde vidas se expressam em suas produções acadêmicas, alegrias, expectativas profissionais e inquietações dentro da universidade (na graduação e nos cursos de pós), na sociedade brasileira, e em particular, durante uma pandemia. Entende-se a vitrine não como o vidro que separa, mas o vidro que permite ver, ver-nos, vermos unes aes outres, mesmo numa conjuntura cheia de intolerâncias, de vírus contagiosos, de calendários letivos reformulados continuamente, conforme índices de vacinações e taxas de contágios. O tempo pós-vitrine virá, poderemos rir e nos abraçar. Desde já, plantaremos o que estar por vir. A vitrine vai se desfazer como uma estufa, para que colhamos nossa semeadura por uma universidade mais inclusiva e TransFormadora.

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