OPINIÃO

 

Marcello Ferreira

Vice-diretor do Instituto de Física da UnB. É doutor em educação em ciências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 

 

 

Olavo Leopoldino da Silva Filho

Professor associado do Instituto de Física. É doutor em física pela Universidade de Brasília.

Marcello Ferreira e Olavo Leopoldino da Silva Filho

 

Entre 12 e 16 de dezembro, com sede na Universidade de Brasília, no Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo), no Centro Internacional de Física (CIF) e no Instituto de Física (IF), associaram-se três eventos organizados pela UnB em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Sociedade Brasileira de Física (SBF) e o respectivo Programa de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF): o II Encontro Nacional do MNPEF (En-MNPEF), a VIII Escola Brasileira de Ensino de Física (EBEF) e a XI Escola de Física Roberto A. Salmeron (EFRAS), compondo os Encontros Integrados em Física e seu Ensino 2022 (EIFE 2022).

Tratou-se de um evento de grande porte que congregou três ações tradicionais do cenário nacional em Física e seu ensino, em vias de internacionalização. Ele foi voltado para um público amplo de pesquisadores, coordenadores de curso, professores universitários, professores da Educação Básica e estudantes de final de graduação (com ênfase nas licenciaturas) e pós-graduação em Ensino de Física ou Ensino/Educação de/em Ciências. Os eventos, ainda que unidos em uma única proposta, mantiveram seus objetivos originais de forma integrada, como se pode verificar em: Os registros das atividades encontram-se consolidados no Canal do YouTube do MNPEF.

O En-MNPEF foi voltado para a formação de professores da Educação Superior e Básica e, nessa segunda edição, seguiu a proposta de divulgar, compartilhar e debater novas metodologias e possíveis linhas de atuação no ensino da Física. A ênfase está nos desdobramentos recentes da ciência, bem como conhecimentos contemporâneos que podem contribuir para o aprimoramento da qualidade da Física e seu ensino. Assim, tratou-se de um encontro para repensar a reflexão e a prática do professor.

A EBEF, em sua oitava edição, foi um evento destinado a professores docentes de cursos de mestrados profissionalizantes em ensino de Física, prioritariamente do Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF). Foi também aberta à participação de estudantes e pesquisadores em ensino de Física, com o principal objetivo de contribuir para uma mudança de paradigmas nesta ciência e em seu ensino, em especial nas disciplinas do MNPEF: superar o padrão da narrativa em sala de aula, centrada no professor e baseada em aulas expositivas e listas de problemas, e perseguir o paradigma da aprendizagem ativa e significativa, centrada no estudante e baseada em atividades colaborativas, na diversidade de estratégias de ensino e de recursos instrucionais.

Já a EFRAS, em sua décima primeira edição, é uma escola de caráter nacional e internacional já tradicional do Instituto de Física UnB, sempre guiada por uma temática da Física e seu ensino, e que contempla minicursos, palestras e apresentações de trabalhos dos inscritos, promovendo um meio apropriado para a formação de estudantes de final de graduação e de pós-graduação, bem como sua interação com professores e estudantes brasileiros e estrangeiros. Nesta edição conjunta, a Escola manteve a ênfase no ensino de Física, abordando assuntos de interesse para a formação inicial e continuada de professores de pós-graduação e graduação.

Os EIFE 2022, assim, constituíram uma reunião numerosa, consistente e significativa de coordenadores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação e graduação em Física, na consolidação de encontros envolvendo centros de pesquisa, programas de formação, escolas e professores da Educação Básica. Além de uma programação científica diversa e coerente com a perspectiva formativa do MNPEF, na interface entre conteúdos, referenciais teóricos e metodológicos, pesquisa translacional e desenvolvimento didático, foram realizadas atividades integradoras, acadêmicas e culturais relevantes ao desenvolvimento da área de Física e seu ensino no Brasil, sobretudo diante da consolidação do MNPEF como Programa de Pós-Graduação (PPG) de relevante inserção e impacto social e de excelência nacional (avaliado em 2022 com nota máxima pela Capes), bem como das perspectivas de criação do Doutorado Nacional Profissional em Ensino de Física (DNPEF).

A programação do evento contemplou conferências, minicursos, mesas redondas, sessões de apresentações orais de trabalhos, sessões de apresentações de pôsteres, oficinas, reuniões acadêmicas entre coordenadores e estudantes, visitas a espaços de experimentação da UnB, apresentações culturais e exposição de produtos educacionais em Física (sequências didáticas, aplicações tecnológicas/computacionais, simulações, experimentos, notas de aulas, livros, audiovisuais e demais derivações). A temática integradora foi a comemoração dos 100 anos de nascimento do antropólogo, historiador e sociólogo Darcy Ribeiro, grande intelectual brasileiro, defensor da educação pública, gratuita e de qualidade e idealizador da UnB, cujo nome do principal campus, inclusive, presta-lhe tributo. Essa perspectiva deu tessitura ao conjunto de conferências, minicursos, trabalhos e apresentações que compuseram o evento.

Estiveram presentes nos EIFE 2022 311 inscritos, entre autoridades da administração superior da UnB (reitora, decanos e diretores) e da Capes (diretor e coordenadores), a presidenta da SBF, palestrantes brasileiros e internacionais, docentes e discentes da UnB e de outras instituições públicas de ensino, interessados e, com destaque, os coordenadores, professores e estudantes de pós-graduação das 61 instituições públicas de ensino superior integrantes do MNPEF. Para viabilizar essas participações, destacou-se o significativo apoio financeiro da Capes, bem como os esforços de estudantes de diferentes regiões do Brasil – mormente professores da Educação Básica – que, mesmo com contingências, se mobilizaram para apresentar suas produções e participar do evento.

Foram submetidos 100 artigos, 85 dos quais aprovados para apresentação oral e com a publicação de 74 deles como artigo em número especial da Revista do Professor de Física, editada pelo Instituto de Física da UnB, a partir de análise de critérios de qualidade e pertinência, cotejados pela avaliação ad hoc de 32 especialistas em Ensino de Física do Brasil.

Esta composição, portanto, objetivou reunir e divulgar (sem compromissos filogenéticos, mas com intensa preocupação identitária) motivações, resultados e inflexões que projetam um ângulo da produção translacional e do desenvolvimento do ensino de Física no âmbito do MNPEF. Ela o fez retomando as perspectivas dos eventos que lhe sustentam e suas principais contribuições, projetando, como tendência e – quiçá – paradigma, um clássico jamais superado: a necessidade de clareza e rigor – sem ortodoxia – de convicções, propósitos e métodos para o ensino de Física, com referenciamento social e cultural, científico, inclusivo e consciência de sua contemporaneidade e de suas tendências.

A área de pesquisa e desenvolvimento em Ensino de Física, como se sabe, vem se dedicando, desde a década de 1960, no Brasil e no mundo, a estudos relacionados à didática, à aprendizagem, ao currículo, ao contexto educativo e à formação de professores. Tem buscado fazê-lo com base em um quadro epistemológico, teórico e metodológico próprio, coerente à sua perspectiva interdisciplinar e com mutualismo aos conteúdos científicos específicos, com atenção a uma perspectiva social e inclusiva e com íntima relação com a educação básica. Os resultados dessas investigações têm sido evidenciados em reflexões e formulações teóricas, produções educacionais e rupturas paradigmáticas, bem como intensificados nas relações entre os saberes e os sujeitos. É isso que tem legitimado e destacado a produção acadêmica relacionada e o que nos motivou a organizar os eventos e compor o presente Dossiê da Revista do Professor de Física, também organizado na forma de livro, sob a generosa edição da Livraria da Física, intitulado “Fundamentos, pesquisas, contemporaneidades e tendências no ensino de física no Brasil”.

Em caráter eminentemente descritivo e aplicado, os EIEF 2022 (II En-MNPEF, VIII EBEF e XI EFRAS) buscaram consolidar contribuições apresentadas pelos participantes e repisar o protagonismo da UnB na pesquisa nacional e internacional em ensino de física. Os temas, os referenciais e as metodologias são bastante diversos, transversalizando abordagens em conteúdos científicos e sua didática; incursões epistemológicas; relações psicológicas da aprendizagem; materiais e tecnologias digitais aplicadas ao ensino; metodologias ativas; experimentação e investigação; resolução de problemas e conceitualização; currículo; avaliação; abordagens ciência-tecnologia-sociedade; alfabetização, letramento e divulgação científica; ensino em espaços não formais; tendências e inovações etc. Também tiveram ênfase descrições decorrentes de aplicações educacionais, abrangendo: sequências didáticas; materiais instrucionais; soluções computacionais e outras tecnologias digitais; roteiros experimentais etc. (FERREIRA; SILVA FILHO, 2021).

As contribuições deram-se em fundamentos, pesquisas, contemporaneidades e tendências no ensino de Física no Brasil, passando por temas clássicos e de fronteira e por abordagens que recuperam discussões sociais, políticas, organizacionais, de diversidade e inclusão. Uma característica que se pode haurir do conjunto de textos é a renovada tentativa translacional de aproximar abordagens acadêmicas voltadas para o ensino da Física à concretude da atuação na Educação Básica. 

É essa translação que particularmente buscamos harmonizar nos EIEF 2022 e nas publicações dele derivadas. Desejamos que este compilado seja, além de um registro, uma fonte longínqua de consulta, investigação e de inspiração para novas reflexões e novas práticas em Física e seu ensino.

 

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