OPINIÃO

 

Elizabeth Ruano-Ibarra é professora visitante do Ceam. Professora permanente de Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGECsA). Bolsista em produtividade e pesquisa PQ2. Membra do Comitê Gestor do INCT Caleidoscópio e da Rede Discurso e Gênero (Redige). Coordenadora do Grupos de Estudos Interdisciplinares sobre Gênero (Greig).

 

 

Maria Carmen Aires Gomes é professora titular do Ceam/UnB. Membra da Redige e do Comitê Gestor do INCT Caleidoscópio. Tesoureira da ALED. 

 

 

Viviane de Melo Resende é docente do IL e do Ceam. Professora permanente de Programa de Pós-Graduação em Linguística e coordenadora do Laboratório de Estudos Críticos do Discurso. Pesquisadora do CNPq, coordena o INCT Caleidoscópio. É presidenta da Associação Latino-americana de Estudos do Discurso, membra da REDLAD e da Redige.

 

 

 

Viviane de Melo Resende, Elizabeth Ruano-Ibarra e Maria Carmen Aires Gomes

 

Com liderança da ONU Mulheres, em 2015 o 11 de fevereiro foi instituído como o dia das mulheres e meninas na ciência, data que desde 2019 passou a integrar o calendário de eventos das Nações Unidas. Desde então fevereiro é celebrado como o mês internacional de meninas e mulheres na ciência, quando nos mobilizamos para visibilizar suas contribuições e conquistas e destacar a importância de políticas para mulheres no campo científico. Desde 2016, nesta que é a primeira gestão conduzida por uma mulher, a Universidade de Brasília tem envidado esforços de combate à desigualdade de gênero com medidas concretas, a exemplo da Coordenação de Mulheres da Secretaria de Direitos Humanos. Há ainda amplas demandas por serem discutidas e atendidas, como declarado no manifesto do Fórum de Mulheres da UnB em abril de 2021.

 

O campo acadêmico e universitário não é alheio às desigualdades de gênero na sociedade. Embora 48,7% dos grupos de pesquisa da UnB certificados pelo CNPq sejam liderados por mulheres, ainda se observa exclusão dos espaços de liderança científica. Segundo o último anuário estático da UnB, em 2021, dentre estudantes ingressantes na graduação, 50,9% foram mulheres; 51,6% nos cursos de mestrado e 52,5% no doutorado, e de acordo com dados da Coordenadoria de Estudos em Gestão de Pessoas (Code), 51,4% do corpo técnico são mulheres e 45,24% do corpo docente são mulheres doutoras. Diante de dados de paridade em ingressos de estudantes e entre servidoras, como se explica que somente 32% das bolsas PQ1A, categoria mais elevada definida pelo CNPq, sejam usufruídas por professoras na UnB? Esses dados ilustram os chamados ‘teto e muros de vidro’, metáforas cunhadas pela epistemologia feminista para denunciar a invisibilidade dos constrangimentos à ascensão socioprofissional e ao deslocamento horizontal das mulheres no interior de um mesmo nível hierárquico.

 

Muitos indicadores apontam o caráter estrutural das desigualdades de gênero que dificultam a projeção das mulheres na carreira acadêmica, e não apenas em nossa universidade. Entre eles, a falta de políticas de reconhecimento da dupla jornada; a ausência de políticas afirmativas para meninas e mulheres em editais científicos e tecnológicos; a discriminação de gênero, consciente e inconsciente; o descaso com o maternar; o assédio, explícito ou irritantemente camuflado nos mais variados contextos. Tudo isso opera para manter a projeção do trabalho de mulheres nas ciências aquém do possível, desejável e necessário.

 

Atento a essas demandas, o INCT Caleidoscópio - Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas Múltiplas Insurgências, apoiado pelo CNPq e sediado na UnB, investirá em observatórios de violências e vulnerabilidades que atingem mulheres em geral e mulheres na ciência em especial; em incubadoras sociais com ênfase na colaboração intergeracional na formação, do pós-doutorado ao ensino médio, e em uma política de divulgação científica voltada à sensibilização de futuras gerações para a importância de mulheres nas ciências e das ciências para a melhoria de vida de todas as mulheres.

 

As iniquidades e violências de gênero são profundamente entrelaçadas ao patriarcado e ao racismo, sistemas opressivos que negam a dignidade e os direitos humanos. As múltiplas insurgências contra esses sistemas compartilham o objetivo de desafiar as normas sociais que os perpetuam, o que demanda investimento em políticas que abordem o problema de maneira enfática. Fevereiro é, por isso, uma oportunidade de celebrarmos o protagonismo e refletirmos sobre como podemos estimular e criar soluções para que mais mulheres ocupem espaços de destaque no mundo acadêmico.

 

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