OPINIÃO

Aldo Paviani  é geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília, membro da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do Instituto Histórico Geográfico do DF (IHG.DF) e do Núcleo do Futuro da UnB/Ceam. Doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Aldo Paviani

 

Festeja-se em Brasília os 63 anos da inauguração da capital federal pelo então presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. De forma determinada, o governo de Juscelino se empenhou, tornando real a transferência da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Essa ideia perdurou cerca de 150 anos, isto é, desde o Império. Tiradentes, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, pensava em transferir a capital para São João del Rei, no interior de Minas Gerais. Muitos outros também tiveram esse desiderato, mas nenhum deles foi estabelecido e confirmado. Como escreve Adirson Vasconcelos em sua obra A mudança da capital, Juscelino afirmou: “Os tempos passaram, venceram-se as tempestades, e Brasília aí está”.

De fato, em menos de quatro anos, as obras de engenharia, os principais edifícios foram erguidos, bem como blocos para residências na Asa Sul e destinados aos congressistas e altos funcionários federais. Os edifícios da Praça dos Três poderes também foram concluídos no tempo certo para a inauguração, tal como havia sido pensado. Mas, antes mesmo da inauguração, houve necessidade de dar abrigo aos operários e migrantes recém chegados. Por isso, no alto do espigão, ao oeste do Plano Piloto e na vertente hidrográfica oposta à do lago Paranoá, abriu-se espaço para Taguatinga, em 1958. Nessa localidade, os trabalhadores ganharam lotes, talvez como estímulo ou como compensação para os trabalhadores e funcionários trazidos do Rio de Janeiro. Essa nova localidade, inicialmente intitulada “cidade satélite”, posteriormente recebeu a designação de Região Administrativa (RA III).

Realizada com sucesso, a transferência e implantação, Brasília, se consolidou, mesmo tendo havido tratativas para o retorno ao Rio, por parte de saudosos do litoral. De fato, houve movimentos nesse sentido, mas não prosperaram diante do pleno funcionamento de todos os entes necessários ao funcionamento da capital como. Trabalhou para isso intensamente o presidente Kubitscheck, que logo construiu o aeroporto, denominado, posteriormente, Aeroporto Internacional JK, em sua homenagem. Essa também foi boa iniciativa tanto que, de inicio, se dizia que Brasília era a capital “aérea” do Brasil, pois os voos se tornaram uma forma rápida de acesso à cidade e vice-versa. Os políticos atuaram no Congresso Nacional e, de forma usual, retornavam às suas bases eleitorais todas as quintas e retornando às segundas-feiras, fato que colaborou para que a capital se consolidasse com o passar dos anos, tornando irreversível o retorno ao Rio.

Considere-se que, ao longo do período, Brasília teve aumento populacional significativo, extrapolando o projeto inicial. Os núcleos espalharam-se no território do DF, a partir do primeiro núcleo, Taguatinga, em 1958, como referido. A esse núcleo seguiram-se as localidades do Gama e Sobradinho (1960), bem como outros assentamentos. Houve ampliação do antigo município goiano de Planaltina e Brazlândia, este como distrito de Luziânia. Ainda devem-se somar, as demais regiões administrativas (RAs), distantes umas das outras. Atualmente são 34 RAs, todas dependentes dos empregos oferecidos pelo Plano Piloto. Nele predominam as atividades de serviços, uma vez que as indústrias insipientes estabele3ceram-se no de Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), um núcleo não muito distante do centro histórico.

Por essas e outras questões, Brasília gerou área metropolitana, a AMB, com núcleos urbanos goianos, externos ao DF. Com isso, a capital ficou mais complexa, porquanto esses municípios conotam, em primeiro lugar, falta de empregos em relação à força de trabalho existente nas localidades. A esse fato, seguiram-se problemas de pobreza e deficiência em infraestrutura nessas cidades. Pensa-se que isso poderá ser resolvido com a colaboração federal e significativos investimentos para elevar a qualidade de vida dessa população vizinha a Brasília. É o que se deseja.

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