OPINIÃO

Diana Lúcia Moura Pinho é professora associada do Departamento de Enfermagem. Doutora em psicologia pela Universidade de Brasília, foi a primeira diretora do Campus UnB Ceilândia.

Diana Pinho


Em agosto, a UnB Ceilândia (FCE) comemora 15 anos altiva, ativa, vigorosa, brilhante e cheia de energia, contribuindo com o cumprimento da missão da UnB em ser uma universidade inovadora e inclusiva, comprometida com as suas finalidades: ensino, pesquisa e extensão integrados para a formação de cidadãos/ãs empenhados na busca de soluções democráticas, transformando realidades e contribuindo para o desenvolvimento local e regional do Distrito Federal e Entorno.  

A origem da FCE está no Plano de Expansão da UnB (2005/07) e no Programa de Apoio ao Plano de Expansão das Universidades Federais/Reuni (Decreto 6.096 de 04/2007). A expansão foi revisitada pelo Conselho Universitário da UnB 9 de maio de 2008, quando se homologou a implantação do Campus Ceilândia.  

O campus foi inaugurado em 26 de agosto de 2008. As atividades acadêmicas (primeiro dia de aula) tiveram início dois dias depois, com o desafio de ampliar e criar novos cursos na área da saúde. A oferta inicial foi de 240 vagas semestrais distribuídas entre os cursos de Enfermagem; Farmácia; Fisioterapia; Saúde Coletiva; Terapia Ocupacional e, em 2013, Fonoaudiologia. Os cursos de Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia foram os primeiros ofertados em instituição pública no DF e Entorno. O 1º vestibular em 2008 teve 2.301 candidatos inscritos para as 240 vagas.  

O funcionamento da FCE teve início no Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ) da Universidade de Brasília. As instalações provisórias foram utilizadas por dois meses, enquanto se aguardava a adequação do espaço cedido pela SEE/DF - Centro de Ensino Médio 04/CEM 4, ao lado da estação de metrô da Guariroba. Passados mais de dois meses, ocorreu a primeira mobilização estudantil, com interrupção do fluxo de veículos na Avenida Hélio Prates em Ceilândia, para chamar a atenção da sociedade para as condições de funcionamento no NPJ.

Seguimos então para o segundo espaço provisório, no CEM 4, em 26 de outubro daquele ano. Esse espaço, planejado e adaptado pela CEPLAN/UnB, contava com facilidades de biblioteca; laboratórios; sala multiuso; sala de professores e seis salas de aula para abrigar a FCE por três semestres, até a conclusão das obras do campus definitivo, prevista para março de 2009.

Houve sucessivos atrasos desde novembro de 2009, após quatro semestres de funcionamento provisório e sem a entrega das obras. As instalações provisórias chegaram ao limite da capacidade de atendimento. As expectativas frustradas pela falta de condições das instalações físicas, associada à crise política no governo do Distrito Federal à época, desencadeou um forte tensionamento e mobilização dos segmentos da comunidade universitária e da sociedade, especialmente os movimentos sociais de Ceilândia. Neste cenário tem origem o movimento estudantil da FCE denominado “Sem Campus”.

Estes movimentos organizados realizaram mobilizações, traduzidas em paralisação de atividades acadêmicas por melhores condições de infraestrutura. Houve ocupação de espaços físicos da Reitoria da UnB por duas vezes, audiências públicas na Câmara Legislativa do DF, com Governadores do DF, Ministério Público e Ministério da Educação. Somado aos movimentos, o Conselho da FCE deliberou pela suspensão do vestibular e do semestre 2012/1, decisão encaminhada ao Consuni em setembro de 2011.

O Conselho, após muito debate com a participação da comunidade externa, especialmente os movimentos sociais de Ceilândia e, cotejando os benefícios e os prejuízos que poderiam advir com a interrupção do fluxo dos cursos e do acesso dos jovens à Universidade, deliberou pela manutenção do vestibular, o adiamento da oferta do curso de Fonoaudiologia e encaminhou para uma solução emergencial alternativa em novembro de 2011, na qual a gestão superior da UnB, assumiria a obra da Unidade de Ensino e Docência/UED, previamente contratualizada pelo GDF. Apesar de considerar a solução distante da ideal, essa era a estratégia que se mostrava mais adequada para o momento. Ao mesmo tempo, o Consuni constituiu uma comissão para acompanhar as ações junto ao governo do DF, a administração superior da UnB e o MEC para agilizar conclusão das obras.  

As dificuldades não desanimaram a comunidade universitária da FCE, sempre vigilante e participativa. Dedicou o primeiro ano de existência do Campus à construção do Projeto Político Pedagógico da FCE e, o segundo ano à proposta da criação e implantação da Pós-graduação em Ciências e Tecnologias em Saúde (Mestrado e Doutorado), aprovada pela CAPES em dezembro de 2010.  

Fomos avançando para consolidação do campus UnB em Ceilândia. O espaço físico definitivo era uma arena de luta para todos, que não nos imobilizava e nem nos impedia de pensar e implementar novos projetos. Como todo processo de transformação não ocorre de forma passiva, a implantação da FCE foi marcada por desafios, conflitos, insatisfações e medos, resultando em momentos de grandes tensionamentos envolvendo os segmentos da comunidade universitária em busca de condições que garantissem a implantação do Campus UnB Ceilândia na sua plenitude – o ensino, pesquisa, extensão e inovação, contribuindo para a formação de cidadãos/ãs envolvidos com a transformação social.

O caminho construído, do Campus Darcy Ribeiro para o Campus UnB Ceilândia, representa o cumprimento do compromisso social da universidade e a ousadia, que possibilitou a igualdade de oportunidade de acesso e a socialização de seus benefícios para um território, considerado até então, “periférico”.
 
Vida longa UnB e FCE. Valeu a pena!

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.