OPINIÃO

Suylan de Almeida Midlej e Silva é professora do Departamento de Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Administração na Universidade de Brasília. Atualmente cursa pós-doutorado no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. É líder do grupo de pesquisa Estado e Sociedade no Combate à Corrupção (GESOCC).

 

Suylan de Almeida Midlej e Silva

 

O combate à corrupção é um desafio coletivo: Estado e sociedade precisam caminhar juntos.  

 

A corrupção é preocupação recorrente em todo o mundo e seu enfrentamento vem sendo capitaneado por várias nações há tempos e tempos. Mas o tema ganhou outra dimensão desde 2003, quando foi celebrada a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Muitos países são signatários desse documento, incluindo o Brasil. No entanto, o fenômeno da corrupção ainda precisa ser debatido de forma mais responsável e menos espetacularizada, sobretudo por se tratar de um problema não apenas moral e ético, mas de gestão pública, e que requer ser encarado com políticas públicas que possibilitem a institucionalização não só do seu combate, mas também da sua prevenção.

 

Há 20 anos a Assembleia Geral das Nações Unidas também escolheu o 9 de dezembro para celebrar o Dia Internacional contra a Corrupção. E essa é uma boa oportunidade para trazermos à tona a importância do tema e de suas consequências. Inúmeras atividades têm acontecido neste dia em vários países, promovidas pela sociedade civil organizada e por instituições diversas, tendo a mídia ocupado um importante papel nessa divulgação. Um dos objetivos tem sido chamar a atenção das autoridades para que providências sejam tomadas e para que o Estado assuma mais protagonismo nesta luta.

 

Sem dúvida, o papel do Estado é de muita relevância, e os modelos de governança pública são decisivos no processo de prevenção e combate da corrupção. Um dos pilares de uma boa governança é a transparência. Decisões e ações precisam ser tornadas públicas de forma clara e acessível. É necessário saber onde e como os recursos públicos estão sendo empregados, quais os atores envolvidos e os resultados alcançados. A ausência de transparência implica em outro pilar fundamental, a participação social.

 

Pesquisas têm apontado a importância do controle social para o monitoramento das ações estatais de forma geral. E, no caso do combate à corrupção, a participação da sociedade civil organizada, em sua pluralidade de instituições formais e informais, mas também de cidadãos, tem sido fundamental. Essa participação pode ocorrer de várias formas, desde a ocupação em espaços de decisão sobre políticas de combate à corrupção e integridade pública, até a participação em canais de denúncias, mecanismo que tem auxiliado no desvendamento de muitos crimes de corrupção.

 

Porém, para que o combate à corrupção ocorra de maneira satisfatória é preciso haver a sua institucionalização, com criação de mecanismos efetivos que garantam transparência e controle social, além de toda a estrutura de implementação necessária para a detecção e punição dos crimes. Dessa forma, é possível considerar que estejamos diante de uma governança pública colaborativa ou democrática. 

 

O Dia Internacional contra a Corrupção tem um papel importante na pauta deste tema tão incômodo a todos nós. Os danos são inúmeros e é preciso haver não só conscientização, mas ação. A narrativa de que a corrupção é algo endêmico e cristalizado nas sociedades não pode justificar sua naturalização. O enfrentamento da corrupção é um desafio coletivo, da sociedade e das autoridades públicas.

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