OPINIÃO

Andréa Fernandes Considera é museóloga, professora do Curso da Museologia da Universidade de Brasília e conselheira do Conselho Federal de Museologia.

Andréa Fernandes Considera

 

Os museus são instituições cujas origens remontam aos gabinetes de curiosidades criados a partir das descobertas europeias de novas regiões, com o advento das grandes navegações no século XV. Portanto, podemos dizer que os museus surgem da necessidade humana de conhecer, interpretar e elaborar pensamentos críticos sobre tudo que nos cerca; é o lugar de aprendizado, compreensão e construção de conhecimento para o futuro.

 

O Conselho Internacional de Museus (ICOM), criado em 1946, de tempos em tempos atualiza a definição do que é um museu e estas atualizações são fundamentais, uma vez que estamos falando de uma instituição do tempo presente, que, atenta às demandas da sociedade, precisa estar sempre conecta às mudanças sociais. Atualmente o ICOM adota a seguinte definição: "um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimentos". (Definição aprovada em 2022)

No Brasil, o primeiro museu oficialmente criado foi o Museu Real (atual Museu Nacional) no Rio de Janeiro, estabelecido por Dom João VI em 1818 com o objetivo de estudar os recursos naturais do país e sua utilidade para a indústria da época.

 

Até o final do século XIX, os museus brasileiros eram prioritariamente dedicados as ciências naturais. Esta situação começou a se transformar a partir da década de 1920, quando o Museu Paulista (SP) e o Museu Histórico Nacional (RJ), ainda que em movimentos distintos, desenvolveram narrativas históricas para a comemoração do centenário da independência nacional. Na mesma época, o Brasil inaugurou seus primeiros museus de artes plásticas.

 

Logo surgiu a necessidade de um profissional com conhecimentos para além das coleções específicas do museu. Os especialistas em cada assunto (biologia, mineralogia, história, antropologia, artes, dentre outras áreas de conhecimento) não eram suficientes para orquestrar sozinhos as atividades de preservar, gerenciar a pesquisa e documentação dos acervos, construir curadorias e exposições, elaborar projetos educativos não formais, atender as necessidades de diálogo entre a comunidade e o acervo que a representa, enfim, uma série de saberes específicos do campo museológico.

 

Neste contexto, surgiu no Brasil o primeiro curso de museus em 1932, no Museu Histórico Nacional (RJ), para formar este profissional tão inovador para a época. Esta formação específica se tornou uma profissão regulamentada pela Lei nº 7.287 de 18 de dezembro de 1984 e pelo Decreto nº 91.775 de 15 de outubro de 1985. Assim, comemoramos em dezoito de dezembro, o Dia do Museólogo.

Na Universidade de Brasília, o curso de museologia estava previsto desde a idealização da UnB na década de 1960, mas só em 2009 a criação do curso se efetivou, formando desde então bacharéis aptos a receberem o registro profissional de museólogo.

 

Diferente do que muitos podem imaginar, o objeto de trabalho dos museólogos não são os objetos do passado, e sim, a humanidade que há em cada artefato, ou seja, as pessoas que elaboraram e usaram estes objetos e seus contextos de vida.

 

Além disso, os museus são instituições do presente; os objetos que neles preservamos são escolhas do nosso tempo e é ofício do museólogo, por meio das atribuições da profissão, estabelecer diálogos críticos entre o que fizemos no passado e o que fazemos no presente para a construção do futuro.

 

Desta forma, os museólogos atuam cercados de objetos do passado, mas com tecnologias inovadoras e parcerias com várias áreas do conhecimento e um olhar sempre atento ao papel dos museus como elementos proporcionadores de reflexões críticas para o que viremos a ser no futuro.

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