OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Historicamente, a ciência tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento industrial, introduzindo novos produtos e processos, que impulsionaram a inovação e, como consequência, o surgimento de novas indústrias e o aumento da produtividade. Portanto, investir em ciência é essencial para o crescimento industrial e o bem-estar da sociedade.

 

Nas últimas décadas, o conhecimento científico tem sido exponencial, causando grandes mudanças nos costumes e causando alterações nas políticas econômicas globais. A bola da vez é a Inteligência Artificial (IA) que representa uma mudança disruptiva global, com possíveis efeitos tanto no aumento da produtividade em vários setores da economia, quanto na perda de empregos em larga escala e o aumento da desigualdade entre as economias.

 

Convidada a coordenar os debates sobre a Neoindustrialização, um dos temas da 5ª Conferência Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI), que será realizada em junho de 2024, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) organizou debates de temas importantes, como transição energética, inteligência artificial, agricultura familiar, bioeconomia e transição ecológica. O relatório desses debates, com a participação de 62 convidados foi entregue recentemente ao coordenador da 5CNCTI, o físico Sérgio Rezende, ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

O relatório enfatiza desafios, sugestões e recomendações para um desenvolvimento industrial virtuoso nas próximas décadas. Entre eles, a necessidade de investimento na formação de recursos humanos qualificados e em políticas para fixação de talentos. As recomendações apresentadas incluem também a estruturação de programas para o desenvolvimento de manufaturas de baixo carbono, o estímulo a parcerias entre empresas e instituições de pesquisa.

 

Foi também sugerido, com respeito ao aprimoramento do ambiente regulatório, a criação de um ambiente favorável aos investimentos em inovação, proporcionando incentivos e reduzindo entraves burocráticos. Em relação aos minerais estratégicos, recomenda-se o investimento do conhecimento geológico para avaliar a disponibilidade de minerais e criar rotas de produção e incentivar a instalação de plantas industriais que agreguem valor ao produto bruto.

 

Com respeito à agricultura familiar, ela oferece oportunidades significativas, incluindo a produção agroflorestal, cultivo de sementes orgânicas, geração de insumos orgânicos e contribuição para metas de descarbonização e considerar que essa atividade é também um importante gerador de empregos e renda em todo o país. Uma agricultura familiar baseada em práticas agroflorestais pode ser um catalisador para a transformação social, promovendo inclusão socioeconômica e desenvolvimento local.

 

No setor da saúde, foi ressaltado que a interseção entre políticas de inovação, políticas públicas de saúde e industrialização, onde a regulação e a colaboração entre diversos atores desempenham papeis cruciais. Este setor é pioneiro no alinhamento entre inovação, política industrial e de serviços, com investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), impulsionando transformações significativas. Com uma contribuição de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), gerando 9 milhões de empregos e representando 35% do esforço nacional em P&D, a indústria desempenha um papel crucial como catalisador da transformação tecnológica.

 

Por questões históricas, a industrialização do Brasil aconteceu tardiamente. No entanto, o Brasil possui recursos humanos qualificados que atuam em pesquisa em várias áreas de conhecimento. A comunidade científica atua principalmente nas universidades públicas e em institutos de pesquisa federais e estaduais. Fortalecer essas instituições e as agências de fomento, certamente, vai contribuir para o bem-estar das futuras gerações e consolidar a soberania do País. Oxalá, isso aconteça.

 

Publicado originalmente, em 28 de março, no portal Monitor Mercantil

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.