AUDIOVISUAL

Acervo Animatógrafo contém 45 anos de história do cinema de Pedro Jorge de Castro

"Sou o primeiro cineasta de Brasília a ganhar o Troféu Candango, no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, com o Brinquedo Popular do Nordeste (1977). Um ano antes, já tinha recebido outro prêmio, na primeira Mostra Nacional do Filme Documentário, realizada em Curitiba (PR), com o filme Chico da Silva (1976)", destaca o cineasta. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

Professor da UnB por 28 anos, cineasta há 45, Pedro Jorge de Castro reúne experiência, prêmios e extensa obra, agora disponível para apreciadores e estudantes de cinema no portal Acervo Animatógrafo. Ciente de que faz parte da história do audiovisual brasileiro, Pedro conversou com a reportagem do UnB Notícias, relembrou dias de estudante e compartilhou um pouco do que sabe sobre a sétima arte. 

 

O jovem cearense Pedro Jorge de Castro havia assistido a um ou dois filmes na vida quando, em meados dos anos 1960, desembarcou na capital italiana perseguindo o sonho de ser arquiteto. Bastou, entretanto, uma única aula de arquitetura cênica para descobrir a verdadeira vocação: o cinema. Assim, começou a carreira do cineasta e professor, hoje aposentado, da Faculdade de Comunicação da UnB (FAC).

 

Pedro não se lembra com precisão, mas acredita que o primeiro filme que viu foi Anastasia - A princesa esquecida (1956). Influenciado pelas artes plásticas, pela arquitetura e por clássicos do cinema italiano com os quais teve contato durante os anos de estudo na universidade Libera Università Internazionale degli Studi Sociali, em Roma, ele revive uma época em que era possível ver figuras notáveis, a exemplo Sophia Loren, circulando pela capital italiana.

 

“Enquanto as produções europeias custavam de 30 a 50 milhões de dólares, os italianos faziam filmes admiráveis no mundo inteiro, com poucos trocados, como eles diziam. Mas, é porque o filme deles é a cinematografia italiana dos anos 1920, 1930, 1940, 1950, 1960 que, segundo eles, é filha do Renascimento”, aponta.

 

Para o professor, a cinematografia italiana o ensinou a se dedicar a tudo que produziu e a “fazer no capricho”. “Porque eu não tenho o direito de errar. Esses caras indicavam o caminho com precisão, trabalhavam de um modo simples e seguro. Diretores italianos, por exemplo, não gritam no set de filmagens. Luchino Visconti, uma das referências mais importantes que já existiu, dizia que temos que respeitar os atores, porque eles fazem direto para a câmera aquilo que nós não temos coragem de fazer. Cabe à direção apenas dizer o que é necessário ser feito”, pontua.

"Na época da universidade, até dizíamos que em Roma os deuses andam pelas ruas como se fossem gente, daí passava Federico Fellini e sentava na pizzaria", brinca Pedro Jorge. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

CAMINHO PREMIADO – Desse modo, Pedro construiu uma filmografia premiada com curtas e longas-metragens, documentários e programas de televisão.

 

Com o curta Brinquedo Popular do Nordeste (1977), tornou-se o primeiro cineasta de Brasília a ganhar o Troféu Candango, no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro. Na 15° edição do evento, Em Memória de Dona Maria I (1979) foi exibido na Sessão de Encerramento e, na 43°edição, foi homenageado.

 

Nos longas Calor da Pele (1993) e Tigipió - Uma questão de amor e honra (1985), o cineasta conta que realizou as gravações em cinco semanas.

 

Para ele, o roteirista é um visionário e o diretor um vidente, pois, um supõe que ali tem algo interessante e outro dá vida ao momento, respectivamente. “Roteiro não é filme, é uma literatura que tem a intenção de convocar e provocar imagens e quem é o grande provocador dessas imagens é o diretor”, explica.

 

“Quando o ator assume o personagem, um dos dois vai para a clandestinidade e, geralmente, é o ator. Às vezes, é tão boa essa substituição, o personagem é tão importante, que, quando a obra acaba, o outro quer sair da clandestinidade e vir para vida, mas não tem espaço pra ele”, elabora. Para exemplificar, cita filmes como O Poderoso Chefão (1972), Sissi: A Imperatriz (1956) e Lawrence da Arábia (1962), em que atores e atriz ficaram marcados por seus protagonistas.

 

No início dos anos 1970, ao retornar para o Brasil, Pedro recebeu o convite de Marcos Antônio Rodrigues Dias, na época, professor do Departamento de Comunicação da UnB (atualmente Faculdade de Comunicação) para também tornar-se docente na instituição. Assim, em 1972, o cineasta começou a lecionar na Universidade e aqui permaneceu por 28 anos.

 

LITURGIA DO SET – No momento, o professor comanda o Instituto Acervo Animatógrafo, espaço dedicado à conservação de suas produções. Recentemente, suas obras foram lançadas digitalmente no portal Acervo Animatógrafo, projeto coordenado pelo produtor cinematográfico Leonardo de Sena. O espaço reúne 22 curtas e longas-metragens, fotos nos sets de filmagem e eventos, roteiros digitalizados, recortes de jornais e entrevistas.

 

Além dos arquivos da filmografia do cineasta, o acervo contém o 91º Semestre, um compilado de videoaulas lecionadas pelo professor sobre cinema, sobre temas como roteiro, iluminação e direção cinematográfica. O docente explica o título da produção visual: “fizeram as contas, e viram que dei 91 semestres de aula [na FAC]”.

 

Ao digitalizar as obras, Pedro lamenta não ter encontrado negativos de importantes produções como Tigipió - Uma Questão de Amor e Honra (1985), Em memória de Dona Maria I (1979) e O Homem que Ensinou a Voar (1982), com relatos da vida do aeronauta Santos Dumont feitos por pessoas que conviveram com ele em sua estadia pela França. Esses originais possibilitariam a conversão dos filmes para resolução 4k.

 

O professor lembra que uma das entrevistadas, Madame Tissandier, comadre de Dumont, defendia uma representação da dimensão humana do inventor. "Achava que o Brasil expunha a imagem do amigo e compadre Messias somente como herói da aviação. Mas faltava o homem. Fiz compromisso de que essa seria a parte mais importante do filme e ela fez um depoimento emocionante. E esses negativos não sabemos onde estão”, lamenta.

 

Com 45 anos de história na cinematografia, Pedro analisa que a sensibilidade e humildade foram fatores que o guiaram na concepção de suas produções. “Às vezes, falávamos para os estudantes que dá para ver onde está a competência: é entre o entendido e o pretendido. Por isso, é interessante que você primeiro anuncie a sua obra, para que a gente tente imaginá-la e, depois, vamos ver se corresponde ao enunciado”, ensina.

 

O projeto Acervo Animatógrafo foi realizado em colaboração com a Cinese Audiovisual, junto a Candiá Produções, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC). Os materiais em vídeo possuem legendas em Closed Caption e interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e os documentos também podem ser traduzidos em Libras, por meio da ferramenta VLibras.

 

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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