Encerrada na última quinta-feira (25), a Semana da África da UnB movimentou o campus Darcy Ribeiro com diversas atividades que levaram a comunidade acadêmica a repensar conceitos sobre o povo e a cultura africana. Por meio do entretenimento e da reflexão, as atividades – que envolveram cinema, dança, esporte, gastronomia, música, vestuário e palestras – provocaram diálogos sobre o continente. Os alunos africanos do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G) estiveram à frente da organização da Semana.
Patrícia Machado, estudante de Línguas Estrangeiras, prestigiou os dois principais dias do evento, quarta (24) e quinta-feira (25). “Achei importante essa iniciativa porque alguns estudantes são muito fechados, dos dois lados. Assim, podemos passar a perceber uns aos outros”, disse. Ela aguardava a palestra Quais os desafios de integração (no continente) e de inserção da África na sociedade global?, do professor moçambicano Aninho Mucundramo Irachande.
O docente do Instituto de Ciência Política da UnB também evidenciou suas expectativas sobre o evento. “Espero conseguir gerar interesse por realidades diferentes. Historicamente, a África não é muito tratada na universidade, mas isso vem aumentando de forma gradual”, afirmou. Durante a palestra, ele deixou a seguinte provocação: “Temos pouquíssimas disciplinas sobre a África, considerando que temos um universo de 40 mil alunos."
O professor defendeu também a internacionalização da Universidade a destinos diferentes dos usuais, como Europa e EUA. “Para chegarmos a isso, é preciso difundir realidades diferentes da nossa. A África parece mais natural nesse sentido, dado o nosso processo de formação por imigração.”
SER ESTRANGEIRO NA UnB – “É preciso que tanto os alunos estrangeiros quanto os brasileiros se olhem nos olhos e não se julguem. É preciso estar disposto a conhecer o que cada um traz do seu mundo”, foi o que disse o administrador de empresas Johnys Eckert, da Guiné Bissau. Ex-estudante da UnB pelo PEC-G, ele ministrou a palestra Africanos da UnB: a mágica dos resultados para a vida e o estudo.
Johnys nunca havia saído para passar tanto tempo fora de seu país quando foi aceito para estudar na capital do Brasil. “Eu jogava basquete e já tinha saído para competições, mas era rápido”, conta. Para ele, a solidão e a ausência da família foram os principais desafios no início, aplacados pelo uso de tecnologias de transmissão de mensagens e por videoconferências. “Na África, as famílias são muito incubadoras, então temos muita proximidade. As decisões são tomadas pelos mais velhos. Ao chegar aqui, temos que arcar com o peso de cada escolha que fazemos”, diz, ao lembrar das dificuldades.
Hoje, Johnys ajuda estrangeiros recém-chegados, atuando como voluntário do Programa Migração Cultura, do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (CAEP) da UnB. “Passei por isso, a cultura do meu país é muito diferente. Para se adaptar, eu aconselho a abstração da cultura de origem. Em nenhum momento estou falando de negá-la, somente de estar aberto para perceber a cultura do outro”, propõe.
“Quando cheguei, não havia o tipo de recepção que existe hoje. Contudo, a Universidade se caracteriza por não ter um tipo de ensino fechado e isso me ajudou muito a conhecer pessoas, assim como o basquete”, compara.
Já graduado e com projetos de entrar para o mestrado, Johnys atua com consultoria particular em administração e coaching. “Aprendi muito na UnB. Ela me deu ferramentas para seguir o que eu já tinha traçado e agarrei todas as oportunidades que apareceram", agradece.