SEMANA UNIVERSITÁRIA

Palestra com nomes do movimento hip hop do DF agita comunidade acadêmica. Debate foi seguido por edição especial da Batalha da Escada

 

Vera Verônika, Flávio Renegado, Camila Ribeiro, Heitor Valente e GOG no anfiteatro 9, em atividade da XVII SemUni. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

"A quem possa interessar, a proposta é mudar/ O que vem da boca, reflete sua forma de pensar/ Não é apenas se vestir, investir na imagem/ É traduzir, resistir, persistir na mensagem." A poesia de autoria do rapper Genival Oliveira Gonçalves, ou simplesmente GOG, é trecho da música A quem possa interessar..., do disco Aviso às Gerações, de 2006.

GOG foi um dos convidados na mesa Universidade e resistência cultural, nesta quarta-feira (25), no anfiteatro 9. Ele expressou sua mensagem ao lado dos rappers Vera Verônika, Flávio Renegado e Heitor Valente. A mediação foi feita por Camila Ribeiro, coordenadora do Circuito Universitário de Cultura e Arte da União Nacional dos Estudantes (CUCA/UNE). A conversa fez parte da programação da XVII SemUni.

“Resisto todo dia enquanto mulher negra”, disse Vera Verônika, educadora brasiliense com mais de duas décadas no rap. Em 2017, ela lançou seu terceiro disco, Mojubá. Para ela, o hip hop traz em suas letras anseios para que haja mudança, ajudando a pregar a resistência e transformá-la em luta.

Para Flávio Renegado, rapper da periferia de Minas Gerais, é preciso ocupar os espaços ociosos da Universidade, a exemplo do que tem sido feito pelo Coletivo Batalha na Escada, que se reúne no Teatro de Arena do campus Darcy Ribeiro todas as quartas-feiras, às 18h, para rimar os dilemas da sociedade. “O outro lado está se organizando nas brechas que a gente deixa. Tem que ocupar esse espaço com gente preta, de luta”, disse.

Do alto de seus 30 anos de carreira, com 11 discos gravados, GOG é pioneiro no hip hop candango. Ele reconhece que a Universidade – considerada inalcançável para um jovem de periferia como ele, nos anos 1980 – tornou-se mais inclusiva, mas lembra que ainda hoje há "gente que não quer abrir os muros".

GOG vê a universidade mais aberta ao jovem de periferia, mas reconhece que ainda há barreiras a serem derrubadas. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Durante o debate, o rapper brasiliense Heitor Valente falou sobre o trabalho que desenvolve no Projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo), desenvolvido em centros de internação infanto-juvenil do DF, e em como professor na Escola Parque da Cidade/Promoção Educativa do Menor (EPC/PROEM) e no Centro de Ensino Médio Asa Norte (CEAN).

Ele entende que o sistema lida sempre da mesma forma com os movimentos de contracultura: “Primeiro, finge que não existe, depois, marginaliza, e por fim, se apropria”. “Rap é boca a boca, é Paulo Freire, é pedagogia do oprimido”, enfatiza.

BATALHA
– A Batalha das Batalhas, edição especial da Batalha da Escada para a Semana Universitária, aconteceu logo após a mesa, no Teatro de Arena. O evento foi o ápice das batalhas de rimas itinerantes que passaram pelos campi de Ceilândia, Gama e Planaltina, além do Instituto Federal de Brasília (IFB) da Cidade Estrutural, para divulgar a programação da SemUni.

Além da tradicional batalha de MCs, vencida pelo rapper Vyleno, a programação teve atrações musicais do DF, como Heitor Valente, MOVNI e MarMitos, apresentações de dança de rua, e um espaço de experiência para que o público tivesse contato com os quatro pilares da cultura hip hop: dança, beat, rap e grafite.

"Tivemos a chance de discutir o hip hop inserido no ambiente universitário, e mostrar que não existe distinção entre o saber periférico e a ciência produzida na Universidade", comemorou Leonardo Ribeiro, membro da Batalha da Escada.

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.