De fala baixa e mansa, quase um sussurro, dona Eulinda conta sobre o destino que dá para o dinheiro que recebe com o trabalho na Central de Reciclagem do Varjão (CRV). “Moro com uma filha e um neto no Setor de Oficinas do Varjão e vou conseguir a minha casa!”, diz a catadora de 60 anos.
Recentemente, a CRV firmou um termo de compromisso com o campus Darcy Ribeiro para participar do programa Coleta Seletiva Solidária na UnB. O projeto, que se estende aos outros campi, prevê a separação dos resíduos recicláveis na Universidade e a sua destinação às associações e cooperativas de catadores.
Com 25 mulheres associadas, a Central faz o trabalho de separação, pesagem e venda dos resíduos sólidos recolhidos no Darcy Ribeiro e em outros locais em Brasília. Elas trabalham em um galpão, divididas em grupos de três ou quatro, como conta Daiany da Costa. “A gente faz a divisão dos materiais pelo tipo e pela cor”.
As catadoras separam caixas de leite, papéis e plásticos dos resíduos orgânicos que acabam indo parar no lixo seco e não geram renda para elas. Os materiais têm valores diferentes. Enquanto um quilo de latinhas de alumínio acrescenta R$ 3,20 no orçamento familiar, as embalagens de leite valem R$ 0,10 por quilo.
Ana Carla Rodrigues, responsável pela Central, conta que a coleta de papel foi o grande diferencial da parceria com a UnB. “O papel branco quase não vem”, explica. Segundo a catadora, o projeto acrescentou pelos menos duas bags – sacolas em que são acondicionados os materiais pra a reciclagem – para cada grupo por quinzena. “Aumentou cerca R$ 200 reais [a cada quinze dias]”.
As catadoras recebem quinzenalmente e, com o dinheiro da próxima venda, a catadora Viviane de Oliveira planeja comprar a bicicleta que o filho mais novo pediu de aniversário. “Vou ver. Se não der, eu dou um jeito”, completa.
O PROJETO - O Núcleo da Sustentabilidade é ligado ao Decanato de Extensão e surgiu como uma adequação à legislação federal. A professora Izabel Zaneti, coordenadora do Núcleo, explica que ele é responsável pela parte didática e a Prefeitura do Campus pela parte administrativa. “Nosso papel é implantar uma metodologia educativa e definir junto com a cooperativa como se desenvolverá a coleta”, explica.
Em cada campus, o programa tem um coordenador da UnB e uma cooperativa responsável por coletar os resíduos sólidos recicláveis. As associações são escolhidas por meio de edital de chamada pública e assinatura de termo de compromisso.
A parte administrativa engloba a elaboração do edital, o recebimento da documentação, o acompanhamento do repasse de resíduos.
Cleiton Alves, coordenador da limpeza no campus Darcy Ribeiro, diz que a adequação à legislação é importante para a Universidade e para as cooperativas. “Neste mês, por exemplo, entregamos à CRV cerca de duas toneladas de papel em seis viagens de caminhão”.
De acordo com o prefeito do campus, Marco Aurélio Oliveira, a Universidade cumpre sua função de entidade ambientalmente responsável ao ajudar a promover a reciclagem dos resíduos adquiridos com recursos públicos. “O papel social da UnB é muito importante. Estamos produzindo renda e alcançando o tripé fundamental de pesquisa, ensino e extensão”.