TRIBUTO

Na véspera dos dois anos do feminicídio contra Louise Ribeiro, intervenções homenageiam memória da estudante e abordam resistência feminina

 

Integrantes do coletivo Ipê Rosa deixaram seus recados em homenagem a Louise e em favor da união feminina. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Nas paredes do centro acadêmico de Biologia (CABio) da UnB, mensagens e desenhos em tinta guache mantêm viva a lembrança de um acontecimento trágico, mas que fez ressaltar o poder da união feminina. “Minas resistem”, “Somos todas irmãs”, “Nenhuma a menos”, dizem algumas das inscrições pintadas durante a intervenção #LouisePresente, realizada na tarde desta sexta-feira (9) pelo coletivo Ipê Rosa. Como parte das atividades pela Semana da Mulher, a ação homenageou a memória da estudante Louise Ribeiro, vítima de feminicídio na UnB em 10 de março de 2016.

 

Formado por alunas do curso de Biologia logo após o assassinato, o coletivo foi pensado como espaço feminino de acolhimento, discussões e desabafos. Apesar da dor em recordar o fato, levar um novo colorido às paredes do ambiente de convivência dos estudantes é um símbolo de resistência e uma forma de sensibilizar a comunidade acadêmica para a necessidade de combater a violência contra a mulher e seu ápice: o feminicídio.

Centro Acadêmico de Biologia se transformou em espaço para recordar Louise Ribeiro. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“Essa intervenção serve para manter viva a memória da Louise, para que as pessoas não se esqueçam do que aconteceu. Locais como o nosso centro acadêmico, o Jardim Louise Ribeiro e o Instituto de Ciências Biológicas sempre serão espaços dela e um lembrete para que outro caso assim não aconteça”, manifestou a estudante Gabriella Ferreira, uma das integrantes do coletivo. “Apesar da tristeza inevitável, queremos perpetuar isso de forma positiva”, acrescentou.

 

Amiga de Louise, a graduanda Tainah Barcat pintou a frase Miracles happens every day (Milagres acontecem todos os dias). A estudante assassinada tinha uma tatuagem dizendo o mesmo. “É muito bom saber que há pessoas querendo fazer com que ela seja lembrada. Ao mesmo tempo, essa intervenção só existe porque aconteceu toda essa situação lamentável”, desabafou.

 

Além do CABio, o Jardim Louise Ribeiro, no Instituto de Ciências Biológicas (IB), recebeu parte da intervenção. Uma árvore florida confeccionada em papel cartão, com um poema dedicado à Louise, foi deixada ali. A ideia é que a comunidade interaja, acrescentando suas próprias mensagens. Um piquenique entre mulheres também fez parte da programação.

 

FLORES DE RESISTÊNCIA – Batizado com o nome de Louise, o jardim do IB foi repaginado no final de 2017 para receber plantas nativas do Cerrado. Para a execução do projeto paisagístico, foram adquiridas 1.080 mudas e 17 quilos de sementes de 12 diferentes espécies arbustivas e herbáceas. Um ipê rosa plantado em 2016 já compunha a paisagem, incrementada com macela, cajuzinho do campo, margaridas nativas e carobinha. 

Visita ao Jardim Louise Ribeiro fez parte das homenagens à estudante e esteve na programação da Semana da Mulher UnB. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Na última quinta-feira (8), durante as atividades da Semana da Mulher UnB, a comunidade acadêmica pôde conhecer um pouco mais da ideia, realizando um tour pelo jardim. Além de homenagear, o local tem função de ensino e pesquisa. Alunos de disciplinas do IB e da Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV) estiveram presentes e tiveram a oportunidade de visualizar o florescimento das primeiras espécies.

 

Professora da disciplina Manejo de Ecossistemas, Isabel Schimidt orientou os estudantes ao longo da visita. Durante o semestre, eles poderão desenvolver projetos experimentais no jardim. “Aqui é possível estudar como as plantas nativas e as indesejadas estão crescendo, quais são os polinizadores que visitam o jardim, qual é a melhor forma de fazer sinalização das espécies”, enumera a docente.

 

Uma das colaboradoras na concepção do projeto, a arquiteta e paisagista Mariana Siqueira também acompanhou a visita. Ela explica que há um mito de que não é possível planejar um jardim com plantas do Cerrado. Além de contrariar essa prerrogativa, a decisão de readequar o espaço carrega um simbolismo.

 

“Sempre se diz que a mulher tem um lugar predeterminado na sociedade, mas isso pode ser repensado. Essa é a conexão que estamos sugerindo: é preciso mudar a relação com o Cerrado e com o feminino. Aqui, podemos contemplar os dois assuntos em um mesmo espaço de transformação”, afirma.

 

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