CELEBRAÇÃO

Graduanda em Antropologia e presidenta da Associação de Estudantes Indígenas fala sobre conquistas e significados da presença desses alunos na instituição

 

Vista externa da Maloca
Inaugurada em dezembro de 2014, no campus Darcy Ribeiro, a Maloca é espaço de convívio para estudantes indígenas. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O Dia Internacional dos Povos Indígenas, estabelecido pela Organização das Nações Unidas em 1955, é celebrado no dia 9 de agosto. Desde a assinatura de um convênio com a Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2004, a Universidade de Brasília realiza seleções específicas para indígenas. A ação, que busca trazer mais diversidade para o ambiente acadêmico e enriquecer as experiências dos estudantes, ficou suspensa entre 2013 e 2015, quando foi retomada com a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica.

 

A próxima seleção, que prevê 72 vagas em 21 cursos para o primeiro e o segundo semestres de 2018, será no dia 28 de outubro.

 

“Nossa maior contribuição é ser parte do projeto diversificado e pluralista de Darcy Ribeiro, trazendo contribuições ricas sobre nosso mundo”, conta o estudante indígena do mestrado em Direitos Humanos Jósimo Puyanawa. “Trazer os indígenas para cá significa tornar a Universidade mais próxima e rica. Além disso, o nível superior nos permite dar retorno às nossas comunidades e sermos nós os protagonistas da nossa segurança e sobrevivência.”

 

Atualmente, 67 indígenas oriundos de 15 povos – Baniwa, Baré, Potiguara, Atikum, Fulni-ô, Tikuna, Pankararu, Macuxi, Kariri-Xocó, Kokama, Tupinikim, Paraxó, Tukano, Tuxa, Puyanawa –, distribuídos em sete estados, estão matriculados na instituição, sendo 42 na graduação e 25 da pós-graduação.

 

“Estamos mais empenhados não apenas no ingresso, mas no acompanhamento da trajetória acadêmica desses alunos, que trazem novas perspectivas enriquecedoras para a Universidade”, afirma a decana de Ensino de Graduação, Cláudia Garcia. “Desejamos que eles retornem como alunos da pós e professores da nossa UnB.”

 

Em entrevista à Secretaria de Comunicação da UnB, a graduanda em Antropologia e presidenta da Associação de Estudantes Indígenas da Universidade de Brasília (AEIUnB), Braulina Aurora, do povo Baniwa, fala sobre as conquistas e os significados da presença desses alunos na instituição.

 

Brasulina Aurora falando e olhando para o lado
Braulina Aurora, da etnia Baniwa, é aluna de Antropologia na UnB: "O conhecimento absorvido na Universidade se soma aos de nossos povos na luta pelos direitos". Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

O que a Maloca, espaço de convivência indígena, significa para você?


Eu diria que demonstra que indígenas estão presentes e sempre estiveram. Em termos de instituição, o espaço significa marcar nossa presença na academia como povos indígenas. Estamos trabalhando para que ela seja um pouco da nossa casa.

 

Cada estudante tem um pedaço ali, seja no conto, artesanato, canto ou dança. O local oferece laboratório de informática e espaço para estudos em grupo e individual, além de abrigar a coordenação indígena, que é parte da Diretoria da Diversidade (DIV) da UnB, e tem o papel de acompanhar os alunos, conforme a necessidade.

 

Quais as principais mudanças sentidas após a construção da Maloca?

 

Após a conquista do espaço, passamos a sentir como se lá fosse nossa segunda casa, um espaço onde nos encontramos para planejar nossas demandas e trabalhos em prol dos povos indígenas.


Quanto ao coletivo, o espaço está nos aproximando, mas ainda há muito a fazer para que todos se sintam bem acolhidos. A nossa diferença precisa ser respeitada, pois, apesar de sermos todos indígenas, cada um tem suas especificidades de cultura e língua.

 

Temos trabalhado bastante para que essas coisas, além de serem respeitadas, sejam valorizadas na Maloca.

 

O que a presença indígena significa na Universidade?

 

Uma diferença positiva. Nesses 13 anos de presença, temos conquistado, além do espaço, a oportunidade de poder falar da nossa realidade e de como é ser indígena neste século, em que se usa tecnologia do conhecimento não indígena. Além disso, representa a consciência de não deixar de lado nossas tecnologias, pois os dois conhecimentos só vêm somar à luta pelos nossos direitos.

 

Quais perspectivas o restabelecimento do vestibular indígena traz?

 

A retomada é um avanço para o nosso grupo e a expectativa é muito grande e positiva. Existe a possibilidade de ser decepcionante, pois pode ter muita ou pouca procura. Mas estamos retomando algo que estava parado. Os debates do nosso grupo nos levam a crer que os que vão vir para a UnB serão aqueles que abraçarão a causa da militância de estudantes indígenas na Universidade e no movimento indígena.

 

Temos muitos desafios pela frente, mas estamos trabalhando junto com a Universidade para que todos se sintam acolhidos. Podemos avaliar esse trabalho como marco na retomada do vestibular. Mas nosso maior desafio é a permanência até concluir o curso.

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