Quando se chega ao final, é preciso buscar uma nova saída para, a partir de então, obter sucesso. É o que ensina a sabedoria chinesa. Profundo conhecedor dela, o professor, escritor e teórico da literatura Wang Meng, esteve na UnB nesta terça-feira (22) e se referiu ao compatriota filósofo Confúcio para abordar os desafios da China moderna em inovar e manter suas tradições milenares.
A vinda de Meng foi uma saudação à relação científico-acadêmica que mais cresceu entre a UnB e um país estrangeiro nos últimos dez anos, como destacou o vice-reitor da Universidade, Enrique Huelva. Há esse mesmo período de tempo, funciona no campus Darcy Ribeiro o Instituto Confúcio (IC), que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão, incluindo a formação de grupos de estudos que incentivam a elaboração de trabalhos de iniciação científica, dissertações e teses relacionadas à língua e a cultura chinesas.
Desde 2008, o IC, vinculado ao Instituto de Letras, já atendeu 824 estudantes que demonstraram interesse em se relacionar com a cultura oriental – 428 da comunidade externa e 396 estudantes, professores e servidores técnico-administrativos da UnB. A Assessoria de Assuntos Internacionais (INT) da Universidade também coordena programa de intercâmbio com o Beijing Institute of Technology.
O auditório da Reitoria esteve lotado para a conferência, que contou com tradução consecutiva. Celebrado por Enrique Huelva como um dos expoentes da literatura contemporânea, Wang Meng tem uma trajetória ligada à política de seu país. Na juventude, ainda no início da carreira, escreveu obra A New Newcomer to the Organization Department (O novato no Departamento de Organização, em tradução livre) que lhe tirou do anonimato, mas também marcou seu nome por controvérsia. Apontado como divulgador de posicionamento ideológico de direita, em plena China comunista da década de 1950, acabou sendo exilado por 16 anos, cumprindo trabalhos forçados na província de Xinjiang.
Após esse período, retornou às graças do Partido Comunista e galgou cargos, entre eles o de ministro da cultura daquele país entre 1986 e 1989. O escritor publicou 60 trabalhos, dentre eles contos, romances e ensaios. Foi traduzido para 20 idiomas – nunca para a língua portuguesa. No encontro desta terça, o palestrante falou sobre os aspectos fundadores da cultura chinesa, desde a formação da escrita na região, há cerca de 3 mil anos. Ele destacou o impacto da cultura chinesa nos países próximos, no idioma e em aspectos culturais.
Segundo Wang Meng, a principal característica da China é “a expressão da bondade humana, que não é apenas um conceito, como também um valor e uma crença”. Fazendo a conexão com a China de hoje, o escritor afirmou que o país enfrenta desafios para equilibrar o modo de vida atual aliando globalização e modernização a tradição cultural e desenvolvimento sustentável.
Ele ressaltou que, apesar de tradicional, a China é adaptável, e segue em constante aprendizado com culturas estrangeiras, como a estadunidense, a europeia e a latino-americana. Nada disso muda a posição ancestral do país entre as civilizações, como ressalta Wang Meng. “A cultura chinesa oferece complemento para a cultura ocidental”, enfatizou.
Além do vice-reitor Enrique Huelva, participaram da abertura da conferência o embaixador da República Popular da China no Brasil, Li Jinzhang, e Rogério Lima, chefe do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB e presidente da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic).