EXCELÊNCIA

Selecionadas pelo edital Atlânticas, a doutoranda Daiana Sousa e a docente Angele Martins dão a cara da mulher negra para a ciência do país

Edital Atlânticas, do Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, ofertou bolsas para custear pesquisas fora do país em 2024 e 2025. Imagem: Divulgação

 

Duas integrantes da comunidade universitária foram selecionadas para representar o Brasil e a ciência brasileira no exterior: Daiana Sousa, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Estudos Comparados sobre as Américas (PPGECsA/ELA/ICS), e Angele Martins, docente do Instituto de Ciências Biológicas (IB). Elas fazem parte de grupo de 86 selecionadas em chamada direcionada a mulheres negras, quilombolas, indígenas e ciganas.

 

O edital Atlânticas, do Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, de 2024, ofereceu, a partir de uma parceria entre Ministério da Igualdade Racial (MIR) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), bolsas para custear pesquisas fora do país em 2024 e 2025.

 

As bolsas geraram oportunidades inéditas para Daiana e Angele, ambas mulheres negras. “Foi a primeira vez, em toda a minha formação acadêmica, que tive o privilégio de poder estudar sem precisar trabalhar”, diz Daiana. “Desde 2016, quando concluí meu doutorado, buscava uma oportunidade como esta. Estudo a evolução morfológica de serpentes da família Leptotyphlopidae e somos apenas cinco especialistas no mundo, sendo que uma delas vai me orientar agora”, comemora Angele.

Daiana Sousa foi ao México pesquisar sobre justiça reprodutiva. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

VIDA E CARREIRA – A fala de Daiana Sousa reflete a história de uma mulher de 43 anos que, para se tornar advogada, fazer dois mestrados e criar os filhos, sempre teve que trabalhar. “A vida toda tive jornadas de 40 horas semanais e tive que equilibrar essa rotina com os estudos para ter o que tenho hoje”, afirma a doutoranda, que é professora universitária e teve nota máxima em todos os quesitos de sua candidatura à bolsa.

 

Daiana embarcou para a Universidade Autonôma Metropolitana, em Xochimilco, México, em outubro de 2024 para fazer doutorado-sanduíche. Retornou no início de fevereiro. “Foi uma experiência transformadora. Pude coletar dados fundamentais para entender os itinerários de acesso a direitos reprodutivos de meninas vítimas de violência sexual”, conta. “Já de volta ao Brasil quero dar continuidade à minha pesquisa, com o compromisso de contribuir para a construção de um futuro com mais justiça reprodutiva para essas meninas”, acrescenta.

 

A doutoranda investiga os desafios enfrentados por meninas de 10 a 14 anos que engravidaram em decorrência de violência sexual e encontram barreiras para acessar o direito ao aborto legal.

 

OPORTUNIDADE RARA – Angele Martins explica que, com o pós-doutorado, terá acesso a espécies que não são emprestadas para o Brasil. “Muito material está em instituições europeias e africanas e terei acesso até a materiais históricos de espécies que podem ter sido extintas e ninguém sabe”, afirma.

Angele Martins vai à Alemanha aprofundar estudos sobre serpentes. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

A docente do IB será supervisionada por Cláudia Koch no Museu Koenig, em Bonn, na Alemanha. “Atualmente somos as que mais trabalham com essa comparação sistemática de anatomias das serpentes popularmente conhecidas como cobras-cegas e essa oportunidade me permitirá aprofundar em espécies africanas”, pondera.

 

Uma das principais aplicações do trabalho de Angele é a biodiversidade de composição dos grupos de serpentes. Em seu último trabalho, ela conseguiu descrever espécies e gêneros novos para a Amazônia. Com a comparação, ela pode expandir a lógica “para entender a anatomia e evolução de serpentes como um todo”, acrescenta.

 

EDITAL – O Programa Beatriz Nascimento é uma iniciativa interministerial para impulsionar a trajetória de mulheres cientistas pertencentes a grupos historicamente marginalizados. Além do MIR e do CNPq, também integram a iniciativa o Ministério das Mulheres, o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

Entre os objetivos do programa estão a ampliação do acesso a bolsas no exterior, o fomento às redes de cooperação acadêmica internacional e a promoção de ações de educação e divulgação científica. Com essa iniciativa, o Brasil avança na inclusão e no reconhecimento de mulheres negras, indígenas, quilombolas e ciganas como protagonistas da ciência e da inovação.

 

*com colaboração do Ministério da Igualdade Racial.

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