COMUNIDADE

Balanço do Seminário Segurança se Faz em Comunidade e com Respeito à Diversidade indica possibilidades de interlocução na comunidade

 

"Quem sente medo de andar à noite na UnB?". Pergunta foi feita durante a mesa sobre diversidade e gênero. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Durante os dias 29 e 30 de março, a UnB realizou o seminário Segurança se Faz em Comunidade e com Respeito à Diversidade. Além dos debates de abertura, o encontro teve ciclo de palestras e plenária. O evento foi organizado pelo Decanato de Extensão (DEX) e pretendeu iniciar as conversações sobre o tema, com contribuição de diversos setores da Universidade. Espera-se que esses elementos contribuam à elaboração de uma política de segurança para a instituição no futuro. “O evento abre espaço de interlocução, para que a gente siga debatendo e pactuando normas de convivência. Enfrentamos na Universidade questões críticas e polêmicas”, observa a professora Mônica Nogueira, membra da comissão organizadora.

 

Um exemplo do que seria abarcado por uma política como esta é o acesso de banheiros por pessoas transgênero. Na prática, uma mulher trans, pode, por exemplo, usar um banheiro feminino. Contudo, quando alguma outra mulher se sente incomodada com o fato, a queixa segue para os profissionais de segurança, que, muitas vezes, não sabem como proceder. “Uma política serviria para construir normas de convivência e parâmetros para a atuação profissional”, explica Mônica. “Esse é um processo educativo e político. A Universidade se diversificou muito nos últimos tempos, então é preciso acompanhar isso. Precisamos ocupar o papel de vanguarda na sociedade, mas, antes, devemos fazer a lição de casa”, destaca.

 

O público do evento, realizado no auditório da ADUnB, foi composto majoritariamente por profissionais que atuam na segurança da Universidade. “O seminário foi importante para inaugurar a aproximação entre setores direta e indiretamente ligados à segurança da Universidade. Deixou claro que temos muito a fazer", avalia a docente. "Além disso, foi um espaço de formação e escuta dos profissionais de segurança da UnB. Identificamos abertura e disposição para estabelecimento de agenda comum sobre o tema segurança entre Diretoria de Segurança (DISEG/PRC), Diretoria de Diversidade (DIV/DAC), Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (CAEP/IP) e Ouvidoria. Agora precisamos diversificar os canais de contato com professores e estudantes, principalmente."

Decano André Reis palestra no painel sobre drogas e saúde mental. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

PALESTRAS – Na tarde de quarta-feira (29) aconteceu o ciclo de mesas de debate. O primeiro abordou a necessidade de debater uso e abuso de drogas na Universidade. A mesa de diálogo também tratou sobre segurança e saúde mental. Participaram Alexandre Costa, do CAEP; Nazareth Malcher, do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas (CRR/FCE) e o decano de Assuntos Comunitários (DAC), André Reis. Maria Ivoneide de Lima, da Ouvidoria da UnB, mediou a conversa.

 

A professora Nazareth Malcher abordou o uso problemático de substâncias no ambiente universitário. Citando dados do primeiro levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras, publicado em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad/MJ), Malcher enfatizou que o maior problema de abuso está na bebida. Segundo os dados, 72% dos universitários consomem álcool. “O grande consumo está no álcool e não nas drogas ilegais. 19% indicam uso com risco moderado e 3% risco alto para desenvolvimento de dependência. 18% já dirigiram sob efeito da droga e 27% já pegaram carona com motorista alcoolizado”, compartilhou.

 

“Precisamos mudar a ideia de que o problema está só nas drogas ilegais. Precisamos pensar nas ações considerando as drogas legais. Há uso de drogas e de álcool aqui. Não podemos fechar os olhos”, frisou.

 

O segundo painel, também mediado por Maria Ivoneide de Lima, da Ouvidoria da UnB, tratou de segurança e diversidade na perspectiva de gênero, raça, etnia e orientação sexual. Participaram Suzana Xavier, diretora da Diversidade (DIV/DAC); Anna Tulie, discente do curso de Comunicação Organizacional e transfeminista, e Sílvia Badim, Coordenadora dos Direitos da Mulher da DIV.

 

“Cinquenta por cento dos estudantes que entram na UnB pelo Enem são por cotas raciais e sociais. Ou seja, praticamente 50% são periféricos. E a periferia é negra. Então são negros e a maioria é mulher”, pontuou Suzana Xavier. “Na mídia, a UnB está registrada como local de violência. Precisamos rever o nosso exemplo, que está muito deturpado."

 

A estudante Anna Tulie reforçou a necessidade de a Universidade enxergar e conviver com a diversidade. “As mulheres ocupam os postos de trabalho mais precários da estrutura funcional. São sempre as maiores vítimas da estrutura social. A vulnerabilidade das mulheres negras não tem dado nem mesmo um passo atrás. Pelo contrário, só aumenta. Embora as políticas para LGBTs e negros estejam se desenvolvendo dentro da política institucional, isso se dá de forma rasa e superficial”, disse. “Na Universidade, a marginalização se manifesta pelo não acesso desse grupo ao universo acadêmico. Sequer temos dados de quantas são mulheres negras. Menos ainda, quantas são pessoas trans. O que temos são políticas pontuais e com objetivo silenciador”, prosseguiu. 


“MULHER É MAIS FRÁGIL” – Aproveitando a oportunidade de falar para um público masculino, a professora Sílvia Badim lançou uma provocação, incitando o grupo a refletir sobre o tema e como o machismo reforça as desigualdades. “Por que temos medo de ser mulher na sociedade?”, perguntou. Uma das respostas ouvidas foi a de que a mulher é mais frágil. Em réplica, Badim afirmou que o Brasil é quinto país em violência contra mulher. “Mulher sofre mais violência na sociedade. É mais perigoso ser mulher”, disse.

 

“Dentro da UnB tivemos um crime no qual um aluno matou uma aluna. Um feminicídio. Morta por um machismo estrutural, aqui dentro. Aqui convivemos com violências, casos de estupros em festas, assédio entre alunos, professores, técnicos. Dentro de todas as estruturas da instituição”, apontou. Por fim, Badim sugeriu a formação de redes de atenção, para que evidências de relacionamentos abusivos não sejam ignoradas e também para que os funcionários da segurança façam uma “escuta acolhedora e que não desqualifique as reclamantes”, quando forem procurados em casos de relatos de violências de gênero.

 

Finalizando as atividades, o terceiro painel do dia abordou segurança patrimonial, inteligência, infraestrutura e investimento. Participaram Edmilson Lima, diretor de Segurança (DISEG/PRC); Bruna Caporalini, da Diretoria de Gestão de Materiais (DGM/DAF); Marcelo Ladeira, do Departamento de Ciência da Computação (CIC), e Alexandre Bezerra (DGM/DAF), como mediador.

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