MEIO AMBIENTE

Um ano após evento em Brasília, especialistas fazem balanço sobre progressos e desafios para a proteção e universalização dos recursos hídricos

Mesa de abertura contou com presença da reitora da UnB e autoridades das agências reguladoras de águas nacional e distrital. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Clima, saneamento básico, gestão dos recursos hídricos, qualidade da água, saúde, biodiversidade, tecnologia e desenvolvimento sustentável. Essas temáticas permearam as discussões do 8º Fórum Mundial da Água (FMA), sediado em Brasília em março de 2018. Um ano após a realização do evento, pesquisadores, gestores públicos, representantes de entidades e comunidade acadêmica avaliaram os avanços nas pautas e apresentaram um panorama dos encaminhamentos da edição durante o seminário 8ºFMA +1 – Reflexões e Aprendizado, recebido na UnB nos dias 25 e 26 de abril.

 

Com programação no auditório Roberto Salmeron, da Faculdade de Tecnologia (FT), o seminário abriu espaço para a troca de experiências e saberes proporcionados pelo fórum. “Professores e alunos que se envolveram no evento trouxeram à tona o aprendizado para suas carreiras e unidades acadêmicas, além dos avanços nas diversas reflexões feitas sobre a água”, diz a professora da Faculdade de Tecnologia Conceição Alves, presidente da comissão organizadora do seminário.

 

Durante a atividade, foi lançado o relatório da 8ª edição do FMA. Publicado pela World Water Council (WWC), com apoio da Agência Nacional de Águas (ANA), o documento reúne informações sobre as atividades desenvolvidas antes e durante o evento internacional, além do legado deixado para os próximos anos. A participação inédita do poder judiciário nos debates é um dos destaques. O relatório menciona ainda a ampla inclusão da comunidade em atividades com acesso gratuito na Vila Cidadã, espaço montado pela primeira vez no fórum mundial.

 

Para fortalecer os estudos sobre os recursos hídricos na UnB, pesquisadores da instituição se reuniram no seminário para implementar uma rede de cooperação pela água. A iniciativa busca integrar as diferentes unidades acadêmicas que atuam na temática. "Por meio desse pacto, iremos aproximar pesquisadores e alunos da área e identificar possibilidades de desenvolvimento de projetos em comum", destaca Conceição Alves.

 

DE OLHO NA ÁGUA – Assuntos de amplitude nacional e internacional foram destaque na programação. Entre elas, a regulação do saneamento básico, pauta que tem motivado recentes debates no Congresso Nacional, com a tramitação da Medida Provisória 868/18. O dispositivo atualiza o marco legal do setor no Brasil, com a transferência da responsabilidade de regulação dos serviços de saneamento, até então exercida pelos municípios, para a ANA. A proposta, no entanto, é vista com divergências por diferentes especialistas.

 

Os defensores acreditam que a aprovação pode trazer um avanço para a universalização do acesso ao saneamento básico. Por outro lado, entre os contrários existem questionamentos quanto aos desdobramentos da medida. “Nas entrelinhas do texto, há várias facilitações para o tratamento mais flexível do setor de saneamento, o que pode permitir uma participação mais ampla do setor privado”, aponta Conceição Alves.

 

Entraves e progressos no alcance das metas sobre água propostas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, também estiveram no cerne das discussões. Dados do último Relatório Mundial da ONU para Desenvolvimento dos Recursos Hídricos apontam como desafios globais recentes o fornecimento de água e de saneamento para a população mundial. Atualmente, dois bilhões de pessoas vivem em países que experimentam estresse hídrico ou não dispõem de serviços de saneamento.

 

No Brasil, a situação também é preocupante: 17% da população não tem acesso a água potável e quase 50% não possui esgoto tratado. Moderador da sessão sobre o tema, Glauco Kimura é chefe da assessoria de assuntos estratégicos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa). Ele acredita que o Brasil precisa otimizar suas estratégias e ampliar as frentes de atuação para cumprir as metas previstas nos ODS.  

 

“Se fala em bilhões em investimentos para se alcançar a Agenda 2030. Mas esses recursos são dispendidos na construção de estações de tratamento de esgoto, que são muito caras. Não existem formas de tratar o esgoto usando tecnologias mais baratas e conhecimento sociais?”, questionou aos palestrantes. A exemplo, ele mencionou o programa Um milhão de cisternas, que levou tecnologias sociais para acesso a água de qualidade à população do semiárido brasileiro.

 

EXTENSÃO – O seminário 8ºFMA +1 – Reflexões e Aprendizado foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais e Recursos Hídricos da UnB, em parceria com a Adasa e a ANA. O evento encerrou uma série de atividades realizadas pelo projeto de extensão Água em Debate, resultante de um Termo de Execução Descentralizada (TED) entre UnB e ANA.

 

Iniciado em conjunto com as atividades do fórum mundial, o projeto promoveu, ao longo de um ano, palestras, debates, mostras, exposições e outras ações, com o objetivo de replicar no ambiente acadêmico as questões aprofundadas durante o FMA.

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