O último 25 de abril marcou o início de uma mobilização mensal na Universidade de Brasília em combate à violência contra a mulher. No Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas (Maloca), estudantes, professores e especialistas se reuniram durante o Dia Laranja Pela Eliminação da Violência contra as Mulheres para participar da aula pública que tinha como tema “Violência contra as mulheres: o que é, o que fazer, como encaminhar?”.
Promovido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem) e pela Diretoria de Diversidade (DIV/DAC), o evento contou também com o apoio da ONU Mulheres Brasil e da campanha “UNA-SE pelo fim da violência contra as mulheres”, também coordenada pela organização.
Coordenadora do Nepem e professora do Departamento de Sociologia, Lourdes Bandeira trouxe dados e referências sobre como a violência contra a mulher é tratada no país desde os tempos mais remotos, quando era vista como algo normal e permitido. E ressaltou que hoje, com a Lei Maria da Penha, as mulheres ganharam um instrumento valioso para a prevenção e o combate à violência contra elas.
“A Lei Maria da Penha ampliou o conceito, a abrangência e a complexidade da violência praticada contra a mulher ao classificá-la de cinco formas: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, o que foi uma inovação no sistema jurídico. E isso é muito importante, porque geralmente a violência física e a sexual são precedidas de violências anteriores, como as morais, com desqualificações, humilhações, controle, etc.”, afirmou Bandeira.
A professora aconselhou as presentes no evento a conhecerem a fundo a lei e a estarem sempre acompanhadas de uma cópia dela, pois nem sempre os funcionários de delegacias, por exemplo, estão qualificados para entender e colocá-la em prática. “Temos uma lei maravilhosa, mas temos dificuldades na sua aplicação”, constatou.
Contudo, incentivou as mulheres a nomear e a denunciar a violência sempre. “Isso é uma necessidade política, pois, quando as coisas têm nome, já não se pode ignorá-las”, afirmou.
“É fundamental que sejam desenvolvidos estudos e pesquisas com capacidade analítica para compreender as causas estruturais, mas também específicas dos condicionamentos conjunturais das relações intersubjetivas. Há a necessidade de escutar as mulheres agredidas, assim como de possibilitar a reconstituição dos fatos. Precisamos de ações mais específicas no combate à violência contra a mulher, dada a sua persistência histórica”, disse a pesquisadora do Nepem.
UNIVERSIDADE – Na UnB, Sílvia Bandim está à frente dos trabalhos na Coordenação dos Direitos da Mulher, que integra a Diretoria da Diversidade e tem como objetivo dar acolhimento e apoio institucional às mulheres. “Muitas têm medo. Como denunciar um professor, por exemplo? Com que coragem? Quem vai estar do lado dela?”, indagou a coordenadora.
Ela destaca que o espaço está aberto todos os dias da semana tanto para atendimento com apoio psicológico. A partir de lá também é possível receber instruções para ações legais. “Ajudamos a formalizar as denúncias e a encaminhá-las, junto com as mulheres, à ouvidoria da UnB, para que elas não vão sozinhas, sabemos o quanto é difícil”, afirmou Sílvia, que destaca que a Coordenação também atua para formar uma rede com atores, inclusive de fora da Universidade.
Entre outras iniciativas em andamento estão um projeto para levantar situações de agressão às mulheres dentro dos quatro campi e estudos para propor uma nova norma para punir esse tipo de violência.
Ainda no âmbito da Universidade, um grupo de estudantes criou a Iedas – Frente de Mulheres da UnB. Uma de suas representantes, Talyta Viana, participou da aula pública com a professora Lourdes Bandeira e aproveitou para ressaltar a importância desse movimento. “Ainda não temos um local físico, porque somos alunas de vários cursos e de todos os campi da UnB. Estamos estruturando espaços não só para ouvir as mulheres, mas também para dar informações. E toda semana promovemos uma reunião para levar propostas, relatos do que aconteceu na semana, e então damos o encaminhamento necessário”, conta a aluna do sétimo semestre do curso de Engenharia de Energia.
Hoje há 25 meninas na Frente, mas o grupo recebe dúvidas e contribuições pela página que têm no Facebook – a qual teve quase 1.500 curtidas em um mês.
DIA LARANJA – O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, quando lançou a campanha UNA-SE pelo Fim da Violência contra as Mulheres, em 2008, proclamou que o dia 25 de cada mês seria o Dia Laranja, uma oportunidade para ampliar a conscientização e agir pela eliminação da violência contra mulheres e meninas. A cor, simbólica, foi escolhida por ser vibrante e otimista.
“A ideia é que todo dia 25 tenhamos, aqui na Universidade, uma ação relacionada ao enfrentamento da violência contra as mulheres”, afirmou Amanda Kamanchek Lemos, da ONU Mulheres, no evento promovido pela UnB.