RECONHECIMENTO

Pesquisa da jornalista Cibele Tenório evidencia a trajetória de Almerinda Gama, que deixou sua marca na história da luta política das mulheres no Brasil

A pesquisa de Cibele Tenório resgata a história de Almerinda Gama e a consolida como um ícone inesquecível da luta feminina e política no Brasil. Foto: André Gomes/Secom UnB


Cibele Tenório, jornalista e atualmente doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, venceu recentemente o Prêmio de Não Ficção da Editora Todavia com sua dissertação, defendida em 2020 na UnB, sobre Almerinda Farias Gama, uma das lideranças do sufragismo e pioneira entre as mulheres negras na política no Brasil. Com o reconhecimento, a pesquisa, orientada pela professora Teresa Cristina Marques, será publicada como livro.

 

"Esse trabalho mostra uma figura não trabalhada até o momento, que é a Almerinda Gama. Uma figura íntegra, política e com conhecimento, que formou uma comunidade em torno dela", pontua a docente Teresa Marques. "Os brasileiros merecem saber mais a respeito dela, e tirar ela do esquecimento é realmente um grande presente à sociedade brasileira."

 

A pesquisa de Cibele nasceu da inquietação ao descobrir a história pouco documentada de Almerinda Gama. O minucioso trabalho de levantamento de dados, incluindo visitas ao Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, revelou o pioneirismo da alagoana.

 

"À medida que a gente foi mexendo nos arquivos, entendemos que Almerinda não era apenas alguém que participava, ela era uma liderança excepcional que destoava do grupo tradicional de sufragistas, formado por mulheres brancas, de classe média alta e de famílias com sobrenome de peso", revela Cibele.

 

Almerinda Gama, única representante feminina negra e assalariada na Assembleia Nacional Constituinte de 1933, desafiou convenções ao concorrer à Câmara Federal em 1934, na segunda eleição nacional em que foi permitida a participação de mulheres. Por isso, tornou-se referência na política para futuras gerações de mulheres negras. A ativista também participou da fundação do Partido Socialista Proletário do Brasil (PSPB) e foi do movimento sindical no Rio de Janeiro nos primeiros anos de presidência de Getúlio Vargas.

 

Durante o mestrado em História, Cibele Tenório destacou dois períodos cruciais na vida da sufragista: sua atuação nos anos 1930 e seus últimos anos nas décadas de 1980 e 1990. "Percebemos que o movimento não contemplava outras trabalhadoras como Almerinda, e ali havia certo racismo", relata a pesquisadora.

Almerinda Gama destacou-se como a única líder negra e assalariada da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), onde teve papel crucial para a campanha pelo voto feminino no Brasil. Foto: CPDOC/FGV

  

VESTÍGIOS HISTÓRICOS – Cibele enfrentou desafios na pesquisa, como a falta de informação sobre quando a sufragista faleceu. "Na montagem desse quebra-cabeça, me incomodava muito não saber a data da morte de Almerinda. Fomos entendendo que tinha a ver com racismo e silenciamento da trajetória dela. Era uma violência, um apagamento, era ser, de certa forma, indigente na história", reflete a escritora.

 

“Eu virei o país até achar a certidão de óbito da Almerinda, ligando de cartório em cartório até a gente localizar e, para nossa surpresa, ela morreu em 1999, com quase cem anos”, conta a escritora. “Consegui localizar uma família afetiva dela e reconstituir a história em vários lugares, fazendo essa reparação da data”, conta feliz. 

 

A pesquisa ainda contribui para reconhecer a importância das mulheres negras na construção dos direitos políticos femininos, revelando o ambiente hostil enfrentado por uma mulher negra, feminista e trabalhadora nos anos 1930.

 

Cibele destaca Almerinda como um farol inspirador para as novas gerações de mulheres na política. "A pesquisa não apenas resgata a história de Almerinda, mas a consolida como um ícone inesquecível da luta feminina e política no Brasil. Sua vida e legado agora ocupam o lugar de destaque que sempre mereceram na história brasileira", pontua a pesquisadora, que devolveu a Almerinda identidade e relevância. 

 

Agora no doutorado, Cibele continua dedicada a ampliar as narrativas históricas que incluam mulheres extraordinárias. "Estou estudando o sistema após o sufrágio feminino para entender como as primeiras mulheres foram eleitas, como jogaram aquele jogo político. Tudo isso, a partir da primeira deputada estadual baiana, Maria Luiza Bittencourt", detalha a jornalista. 

 

Sobre a conquista pela orientanda do Prêmio Todavia de Não Ficção, que agracia a produção de biografias e perfis biográficos de pessoas ilustres, a professora Teresa Marques comenta: "A Cibele tem muito talento e esse prêmio é o reconhecimento do trabalho dela. Quando a nossa dedicação repercute na sociedade, é sinal de que estamos alimentando o conhecimento científico e promovendo uma mudança".

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