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Estamparia, móbiles e jogos de montar são algumas das peças inspiradas na obra de Lelé, cujo estilo ficou marcado em prédios da UnB

Mostra segue aberta para visitação até 30 de janeiro. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Até 30 de janeiro segue em cartaz no Museu Nacional da República a exposição Lelé em Brasília: reverberações do trabalho de um arquiteto construtor. A exposição está aberta à visitação de terça a domingo, das 9h às 18h30, no anexo do Museu. A mostra traz estampas, esculturas e jogos produzidos por um grupo de artistas da cidade a partir da obra de João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, um dos mais importantes arquitetos brasileiros do século 20.

Dividida em seis categorias – Lelé para cuidar (hospitais e similares), Lelé para trabalhar (escritórios, concessionárias e embaixadas), Lelé para estudar (edificações acadêmicas e escolares), Lelé para morar (blocos em superquadras e residências) e Lelé para circular (parada de ônibus, passarelas etc) – , no espaço podem ser vistas imagens das construções do arquiteto feitas pelos fotógrafos Maylena Clécia e Tarcísio Paniago.

Quem passa pelo local é ainda convidado a interagir com a obra. Na seção Lelé para brincar, são apresentados jogos e artefatos lúdico-educativos. Natália Calamari e Rodrigo Mafra desenvolveram pecinhas de montar, o Lelego. Carimbos coloridos com as obras de Lelé são criação da artista plástica Letícia Brasileiro, que também produziu estampas e esculturas para a exposição.

“Já tinha algumas estampas prontas inspiradas nos edifícios Morro Vermelho e Camargo Corrêa”, conta a artista que, mais recentemente, produziu novas padronagens influenciada principalmente pelas “formas fluidas e leves” dos últimos trabalhos do arquiteto em Brasília, como o Hospital Sarah do Lago Norte.

O espaço é tão humanizado que “você não se sente em um hospital, o que ajuda no tratamento”, diz. “Ali tem luz, tem sol, pássaros, o verde está ali dentro. Não fiquei à noite, mas provavelmente o paciente conseguiria ver a lua também”, recorda Letícia, sobre sua experiência no Sarah. Essa sensação foi traduzida no móbile A revoada.

A revoada traduz sensações despertadas na artista pela arquitetura de Lelé. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

O curador da mostra e professor da UnB Gilberto Lacerda explica que a exposição faz parte dos esforços de divulgação da vida e obra de um dos arquitetos responsáveis pela construção da capital e que, apesar do reconhecimento internacional, "caiu no anonimato para o grande público". "É uma iniciativa de educação patrimonial", resume.

Voltada sobretudo para o público jovem, a exposição faz parte do Projeto Lelé da Cuca de Educação e Divulgação Científica, realizado pelo Laboratório Ábaco de pesquisas interdisciplinares sobre tecnologias e educação da UnB, com a contribuição de diversos parceiros. Além da exposição, foram produzidos catálogo da mostra e podcast com entrevistas sobre o arquiteto. As obras de Lelé em Brasília também poderão ser vistas em breve no site do Museu Virtual da UnB. O projeto contou com o apoio da FAPDF e CNPq.

LELÉ, O CONSTRUTOR* – Lelé é o apelido do arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, professor emérito da UnB e um dos mais importantes arquitetos brasileiros do século 20, sendo considerado por Lucio Costa um dos três mais importantes nomes da arquitetura modernista brasileira: “o arquiteto onde a arte e a tecnologia se encontram e se entrosam – o construtor”. Segundo Lucio, nenhum outro arquiteto brasileiro soube unir com tanto entusiasmo arte e tecnologia. Ele foi responsável por obras que transformaram a forma como o Brasil olhava sua arquitetura.

O arquiteto Toni Cutolo, responsável pela expografia da mostra, e artista plástica Letícia Brasileiro. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Desde a construção de Brasília, passando pela criação da fábrica de escolas e dos Centros Integrados de Educação Pública no Rio de Janeiro, ambos em parceria com Darcy Ribeiro, pela fábrica de equipamentos comunitários em Salvador até o desenvolvimento do Centro de Tecnologia da Rede Sarah de Hospitais, ele soube como ninguém unir técnica e arte, função e sensibilidade.

Para Lelé, o arquiteto devia ser, antes de tudo, um construtor, com profundo conhecimento de materiais, estruturas e técnicas construtivas. “Ninguém pode desenhar aquilo que não sabe como se faz”, dizia, com a autoridade de quem inventou materiais e métodos inovadores para atender às necessidades específicas de cada projeto. “O arquiteto nunca deve deixar de ser o construtor, como o foi durante toda a antiguidade. Se ele perder essa condição, nossa profissão vai entrar num declínio total, como já começa a ocorrer."

Falecido em 2014, aos 82 anos, ele deixou um legado inestimável. Suas obras destacam-se pelas técnicas inovadoras, pelo apuro estético e pelo seu grande alcance social. Em mais de 50 anos de atividade profissional, Lelé construiu escolas, hospitais, universidades e inúmeros prédios públicos.

Lelé (à direita) no canteiro de obras ao lado dos operários: “Ninguém pode desenhar aquilo que não sabe como se faz”. Foto: Arquivo

 

Lelé foi um dos professores pioneiros da UnB e, em parceria com Oscar Niemeyer, atuou em inúmeras frentes de consolidação da Universidade desde 1961, quando se tornou membro do corpo docente da primeira turma de Arquitetura, que entrou em funcionamento em 1962, com sede temporária na Esplanada dos Ministérios e atividades no canteiro de obras do futuro campus.

O Ceplan da UnB, cujo primeiro secretário executivo foi Lelé, sob direção de Niemeyer, foi responsável à época pelo maior canteiro de pré-moldagem da América Latina. Era um campo de experimentação exitosa que objetivava a pré-fabricação da construção no país.

Em 2011, Lelé realizou um sonho antigo deixado pelo amigo Darcy Ribeiro: a construção do Beijódromo, memorial que abriga todo o acervo do antropólogo. O prédio, que é definido como mistura de oca indígena e disco voador, está instalado na UnB e segue os padrões construtivos criados pelo arquiteto, com muito verde, luz e ventilação naturais.

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*com informações do arquiteto Adalberto Vilela, parceiro no projeto Lelé da Cuca e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.

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