FILOSOFIA

Pesquisadores de diversos países participam de evento internacional na UnB para discutir trabalho de um dos grandes filósofos da antiguidade

 

Foto: Luis Gustavo Prado/ Secom UnB

 

Eternizado por sua obra, Platão é um dos filósofos da Grécia Antiga mais conhecido por suas reflexões sobre temáticas diversas, como conhecimento, amor, justiça, política e imortalidade da alma, mas também pela influência recebida de outro pensador: Sócrates. Os entendimentos de Platão se tornaram fonte de inúmeros estudos que também o conectam ao pensamento contemporâneo. Com a proposta de promover aprofundamento no legado deixado, a Internacional Plato Society (IPS) trouxe ao Brasil o XI Symposium Platonicum. A Universidade de Brasília foi escolhida para sediar a edição do encontro trienal, que deu início às suas atividades na segunda-feira (4), na Finatec.

 

Até o dia 8 de julho, mais de 200 pesquisadores do mundo todo passarão pelo evento, realizado pela primeira vez em um país do hemisfério sul. Desta vez, o tema da discussão é um dos diálogos de Platão, Fédon, que relata os últimos dias de Sócrates antes de ser condenado à execução. “Fédon trata da alma, do homem perante a morte. A contemporaneidade tem muito a compreender sobre como lidar com essas questões. São temas que não têm tempo nem espaço, são sempre pertinentes”, avaliou o vice-presidente do comitê organizador do evento e professor do Departamento de Filosofia da UnB, Rodolfo Lopes.

 

DIÁLOGOS - Plenárias, sessões paralelas, palestras e apresentações culturais estarão na programação do Simpósio e terão como foco as diversas temáticas suscitadas nos diálogos de Fédon. Primeiras convidadas a exporem seus estudos sobre a obra, as professoras Beatriz Bossi, da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, e Annie Larivée, da Universidade de Carleton, no Canadá, trouxeram interpretações sobre as últimas palavras de Sócrates antes de morrer, descritas nos diálogos de Platão, e a questão dos cuidados da alma. “Devemos nos atentar para entender as últimas palavras de Sócrates à luz de Fédon como um todo. Esse diálogo é sobre como cuidar da alma, a fim de levar uma vida valiosa e se preparar na esperança da imortalidade”, alegou Beatriz Bossi em sua apresentação. 

 

Em Fédon, Platão relata uma afirmação deixada por Sócrates pouco antes de sua execução por envenenamento, na qual conversa com um de seus discípulos sobre uma dívida. Segundo a professora da universidade espanhola, é comum a compreensão de que Sócrates procurava saná-la como um agradecimento pela cura de sua própria vida com a morte; porém, Bossi considera que há uma dualidade no último desejo do filósofo: a gratidão pela vida terrena e sua expressão de cuidado àqueles que amava. “É consistente supormos a finalidade de Platão ao assumir que as últimas palavras de Sócrates se referem a algo essencialmente ligado à saúde psíquica, a fim de levar uma vida boa, o que naturalmente implica também cuidado físico do corpo”, afirmou.

 

Brasil é o primeiro país do hemisfério sul a receber o simpósio. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Por sua vez, na avaliação da professora Annie Larivée, Fédon não trata da história da morte de Sócrates, mas do início de seu legado quanto à arte de cuidar da alma. “Embora seja apresentado, ao longo de Fédon, como um praticante especialmente dotado do cuidado da alma, Sócrates não pretende ser o único possuidor dessa habilidade. Na verdade, ele insiste que seus seguidores, que o consideram insubstituível, devam começar a procurar por guias que também sejam capazes de fornecer tais encantamentos terapêuticos depois de sua partida”, argumentou.

 

ABERTURA - No primeiro dia do evento, estiveram o presidente da IPS e também docente da Universidade no curso de Filosofia, Gabriele Cornelli, o vice-presidente da IPS, Tom Robinson, o vice-presidente do comitê organizador, Rodolfo Lopes, o embaixador da Grécia no Brasil, Kiriakos Amiridis, o representante da Unesco, Fábio Eon e o reitor da UnB, Ivan Camargo. A cerimônia foi transmitida online pela UnBTV, que também exibe as demais atividades pela internet até o final do evento.

 

O representante da Unesco Fábio Eon destacou um dos trabalhos da organização com o Programa de Cátedras, que promove cooperação internacional entre universidades para ampliar a troca de conhecimento. “Nós agora temos 800 cátedras da Unesco em todo o mundo. E aqui em Brasília, nesta Universidade, nós temos três cátedras da Unesco: uma em bioética, uma em educação a distância e uma em filosofia e estudos clássicos”, comentou Eon.

 

Anfitrião do encontro, Gabriele Cornelli disse estar muito feliz pelo fato de o simpósio estar sendo realizado na UnB e destacou o importante processo de internacionalização da IPS, compromisso que vem sendo mantido pela sociedade científica.