
O software educacional Expressar é o mais novo produto do Projeto Participar, atividade desenvolvida no Departamento de Ciência da Computação (CIC) da UnB. A ferramenta de apoio pedagógico trabalha expressões faciais em estudantes autistas clássicos, categoria com maior nível de comprometimento e que requer trabalho educacional específico.
A tecnologia é resultado do trabalho de conclusão do curso de licenciatura em Computação dos estudantes Diego André Santos e Wellington Sousa. O download é gratuito e está disponível apenas para tablets com sistema computacional Android.
O Expressar apresenta fisionomias de sorriso, choro, raiva e medo. São utilizados vídeos de atores e fotografias reais, contemplando uma diversidade de rostos de pessoas de várias idades e etnias. O objetivo é que o usuário autista possa reconhecer tais expressões nos ambientes que frequenta.
"Quando o autista vê alguém sorrindo, pode identificar que é um momento de prazer e satisfação e, inclusive, imitar a pessoa. De alguma forma, esse processo pode incluí-lo na sociedade, porque a criança ou o jovem compreende as expressões e tem suas primeiras interações", explica Mara Rúbia Martins, professora da rede pública de ensino do Distrito Federal e especialista em autismo, que testou o programa.
Crianças, jovens e adultos de escolas públicas regulares e especiais do Distrito Federal usaram o software. Por meio de relatórios e questionários, o Expressar foi bem avaliado pelos professores que participaram dos testes.
A ferramenta contempla o conteúdo do currículo funcional do MEC para educação especial e visa complementar as atividades que o aluno faz na sala de aula. Segundo Mara Rúbia, a inclusão dos tablets no trabalho pedagógico é também uma motivação a mais aos estudantes.

Não há pré-requisito ou idade definida para a utilização do programa, porém, a orientação é que a atividade seja mediada por profissionais da área de educação. "Cabe ao professor planejar e organizar o trabalho, além de acompanhar o desempenho do aluno", avalia Mara Rúbia.
Professor do CIC e coordenador do Projeto Participar, Wilson Henrique Veneziano comemora a experiência positiva com a tecnologia, entretanto, alerta para o descaso com o tema no país. "No Brasil, as empresas comerciais desenvolvedoras de softwares não veem as pessoas com deficiência como um mercado importante. É imprescindível que o Estado brasileiro estimule mais as instituições de ensino e de pesquisa nessa área", diz.
CRIAÇÃO – O Expressar foi desenvolvido pelos estudantes Diego André Santos e Wellington Sousa em pouco mais de um ano, orientados pelo professor Wilson Veneziano, com o acompanhamento de docentes da rede pública, especialistas em autismo.
A dupla possuía, até então, pouco conhecimento sobre o público autista. "O maior desafio foi se colocar na posição da pessoa com autismo", explica Wellington.
Ambos destacam a experiência enriquecedora proporcionada pelo trabalho para suas formações e a importância de se desenvolver um produto que terá aplicação prática e que ajudará inúmeras pessoas. "Foi um aprendizado muito bom, porque ao mesmo tempo que colocamos em prática os conhecimentos acadêmicos, aprendemos muito sobre essas pessoas, suas realidades, como se relacionam e suas limitações. É um projeto que vai melhorar a vida de muita gente", diz Diego.

A ferramenta foi desenvolvida em parceria com a UnBTV por meio da produção de vídeos utilizados no programa e com professores de escolas públicas do DF, que contribuíram com especificações e testes da ferramenta. O projeto de desenvolvimento do Expressar recebeu apoio de bolsas de estudo do Programa Pibid da Capes e está no âmbito do Núcleo de Tecnologia Assistiva, Acessibilidade e Inovação da UnB.
PROJETO PARTICIPAR – Criada há cinco anos, a iniciativa é reconhecida por desenvolver tecnologias inéditas no Brasil, que visam colaborar com o trabalho didático e pedagógico de conteúdos voltados para jovens e adultos com deficiência intelectual e autismo. Alguns exemplos são os softwares Participar, voltado para alfabetização, e o Somar, sobre aplicabilidade social da matemática. Existe também uma ferramenta que trabalha gestos sociais para autistas clássicos, o Aproximar.
Segundo Wilson Veneziano, esses programas são utilizados por milhares de escolas públicas brasileiras, pela rede Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e por escolas de Portugal e Angola. Até o fim do semestre, a previsão é que sejam lançados outros três programas educacionais.