Alunos de engenharia na Faculdade de Tecnologia (FT) da UnB, Gabrielle Rodrigues e Wellington Teixeira retornaram há poucos dias de uma viagem à Suécia. Vencedores de um concurso que buscava propostas de soluções sustentáveis em mobilidade urbana, eles puderam conhecer inovações daquele país e o principal parque tecnológico da fabricante de veículos pesados Scania, patrocinadora da competição. Eles avaliam que a experiência ampliou horizontes e os despertou para possibilidades de inovação entre Suécia e Brasil.
Para participar da Inovathon Scania, os brasilienses utilizaram todo o conhecimento acumulado ao longo da graduação, adquirido em atividades do dia a dia e extracurriculares. “Para conseguir trabalhar em uma grande empresa, ou mesmo nas pequenas, é necessário ir além das capacidades técnicas”, concordam.
Gabrielle Rodrigues é estudante do Departamento de Engenharia de Produção (EPR) e, desde a escolha do curso, buscava objetividade. “Procurei algo que apresentasse boa perspectiva de mercado”, relata. Aos 22 anos, a estudante prepara-se para finalizar a graduação e juntar-se à equipe da multinacional Google, em São Paulo. “Estou muito satisfeita com minha escolha”, enfatiza. Durante a jornada acadêmica, a estudante já participou de projetos como Amun Kids, Litro de Luz e Meninas Velozes. “Mesmo sem receber uma bolsa, essas atividades moldaram muito minha personalidade e meu currículo”, afirma.
Estudante do Departamento de Engenharia Mecânica (ENM), Wellington Teixeira tomou conhecimento da competição por meio de uma publicação em uma rede social. Ele acredita que a UnB pode investir mais no campo tecnológico. “O curso de mecânica nos prepara mais para a academia do que para o mercado”, opina. Aos 26 anos, ele já integrou a equipe de mecânica automobilística Apuama Racing, ligada à FT, e gostaria de ver a Universidade dando cada vez mais retornos à sociedade.
COMPETIÇÃO – Os estudantes relatam que, após a primeira etapa, que envolveu provas de idiomas, lógica, conhecimentos sobre mobilidade urbana e entrevista, ficaram entre os 25 selecionados em todo o país, de um total de 500 concorrentes. Na segunda fase, em São Paulo, foram divididos em equipes com cinco integrantes. Nesse momento, Gabrielle e Wellington se tornaram concorrentes. Em 24 horas, tinham que apresentar uma solução para um problema de mobilidade urbana.
O projeto da equipe de Gabrielle, formada por outros cinco universitários, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, ganhou o concurso e o direito de conhecer a matriz da multinacional na Europa. Com foco na sustentabilidade e na preservação do meio ambiente, o time Bela Vista propôs a criação de uma frota de transporte público com veículos menores que os convencionais, movidos a biometano.
A proposta funcionaria semelhante aos serviços de transporte por meio de aplicativos, recalculando a rota continuamente, para economizar combustível e atender o máximo de pessoas. O programa foi pensado para atender áreas periféricas de São Paulo.
“Nossos estudos apontaram que 3/4 dos moradores de periferias têm que andar cerca de dois quilômetros para chegar aos pontos de ônibus e, por isso, o transporte iria até as residências e pontos de reunião”, elucida Gabrielle. O modelo ainda agrega o método de gamificação, no qual o usuário acumula pontuações que podem ser substituídas por passagens integrais.
Wellington foi escolhido para completar o grupo de seis estudantes que iriam à Suécia por ter sido o destaque individual da competição. O estudante acredita que a oratória e a boa apresentação do seu projeto podem ter garantido a participação dele na viagem.
VIAGEM – Os estudantes passaram cinco dias na Europa, a maior parte em Estocolmo, na Suécia, e se impressionaram com a estrutura da cidade. “Eles estão pensando no mundo dos próximos 50 anos. O transporte, a cultura, a educação, tudo está conectado neste pensamento”, lembra Wellington. O estudante já morou em Portugal e, apesar de conhecer o continente, considera que nova experiência foi inspiradora. “Eles não são individualistas, ajudam uns aos outros, pois entendem que isso proporciona algo melhor a todos.”
Gabrielle, por sua vez, mal consegue sintetizar a emoção da primeira viagem internacional. “Eu aprendi muito em um período muito curto. Percebi que a gente pode mudar o mundo, que várias soluções já existem e estão rodando, só falta a gente começar a aplicar aqui no Brasil”, acredita. “Há muita oportunidade para fazer diferença”, completa.
Na comparação entre os países, Gabrielle e Wellington enxergaram a necessidade de mais valorização social no Brasil. “A Suécia não possui problemas como os nossos, eles produzem inovação para cessar possíveis danos. Aqui, a inovação parte das camadas mais vulneráveis, já que quem tem poder social não está interessado no desenvolvimento dos demais”, lamentam.
FUTURO – Prestes a se formar, Wellington é otimista quanto a contribuição que pode oferecer a sociedade. “Farei o que estiver ao meu alcance para promover inovação”, conta. Ele deseja trabalhar em uma empresa que corresponda aos valores acumulados por ele durante as atividades extracurriculares. “Uma empresa que tenha propósitos além das vendas”, aponta.
Na reta final da graduação, Gabrielle trabalha em uma ferramenta de boas práticas e manutenção 4.0 para a indústria tecnológica. “É uma área que eu não aprofundei durante a graduação, por isso estou me divertindo durante a pesquisa e o melhor é que poderei aplicar a ferramenta quando estiver em São Paulo”, compartilha.
*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.