MONITORAMENTO

Estudo que mapeia publicações da pós-graduação mobilizou DPG, DPI e BCE. Entre as conclusões, a forte presença da Universidade em pesquisas externas

Análise foi obtida com base em três bases de dados: Scielo, Scopus e Web of Science. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

O que faz uma universidade ter destaque na sociedade? Como obter reconhecimento internacional? Quais são os fatores que contribuem para uma produção científica relevante? É possível avaliar a qualidade das pesquisas? Todas essas questões fazem parte da rotina de instituições de ensino superior. A preocupação vai além de produzir ou gerar conhecimento e cada vez mais tem se voltado à busca pela excelência no ensino, na extensão e, sobretudo, na pesquisa.

 

É com essa perspectiva que a Universidade de Brasília vem criando estratégias para melhorar seus indicadores e sua produção acadêmica e científica. Em abril do ano passado, a instituição lançou o primeiro Plano de Internacionalização, marco que prevê uma série de ações para os próximos quatro anos.

 

Em paralelo, a Universidade também submeteu proposta ao Programa Institucional de Internacionalização da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes PrInt) e foi uma das 25 instituições inicialmente contempladas no edital. Para subsidiar o projeto à agência de fomento, os decanatos de Pós-Graduação (DPG) e de Pesquisa e Inovação (DPI) realizaram um estudo sobre a produção científica da UnB, em parceria com a Biblioteca Central (BCE).

 

“A ideia é fazer um acompanhamento contínuo, inclusive estamos reformulando a estrutura do DPG para criar uma assessoria de monitoramento e de comunicação. O objetivo é trabalhar com as métricas acadêmicas”, expõe a decana de Pós-Graduação, Adalene Moreira. Basicamente, foram obtidas informações sobre as publicações científicas: número de artigos por pesquisador, índice de impacto das citações e nota do periódico científico.

“A nossa pós-graduação é bastante robusta e tem forte expressão no cenário nacional”, afirma a decana Adalene Moreira. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

Coordenadora do diagnóstico, a diretora de Pesquisa (Dirpe) do DPI, Cláudia Amorim, acredita que esse instrumento é uma premissa fundamental para conhecer as potencialidades e as fragilidades, otimizando o investimento: “Em uma época de recursos tão escassos, é preciso saber exatamente onde e porque investir, tanto recurso interno quanto externo”.

 

NÚMEROS EXPRESSIVOS – Iniciado em 2018, o levantamento foi realizado a princípio apenas para os programas de pós-graduação com notas 5, 6 e 7, voltado para atender o Capes PrInt. Mas o trabalho foi expandido para os demais, abrangendo também os de notas 3 e 4. A pesquisa considerou três bases de dados de relevância no contexto mundial, frequentemente utilizadas por rankings universitários: Scopus, Web of Science e Scielo.

 

Assim, o mapeamento foi feito com todos os 91 programas de pós-graduação da UnB, aos quais estão vinculados 2.157 professores, sendo 1.768 do quadro permanente – 389 atuam como colaborador ou pesquisador visitante. Dos docentes permanentes, 20% são bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sendo que metade desses têm reconhecimento de excelência máxima, estando no nível 1.

 

Nos últimos cinco anos, foram desenvolvidos 3.558 projetos de pesquisa e registrados no CNPq 496 grupos de pesquisa, que juntos somam quase 5 mil pesquisadores, sendo que a grande maioria (mais de 60%) não pertence à UnB. “Isso significa que a Universidade tem muita colaboração externa e se relaciona com outras instituições, o grupo não é endógeno, mas aberto para o mundo”, interpreta Cláudia Amorim.

Mais de 1.500 pesquisadores da UnB integram grupos de pesquisa registrados no CNPq. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

Entre 2014 e 2017, a UnB teve uma produção de 15.578 publicações em periódicos qualificados, sendo mais da metade internacionais (54%) e quase um terço (28%) com as notas máximas de avaliação da Capes (A1 e A2). Quanto às bases, 4.271 artigos estão na Scopus e 2.367 na Web of Science e Scielo. A média de trabalhos nessas bases é de 7,49 por professor.

 

Dois indicadores muito expressivos são o número de citações e o índice-H, também conhecido como fator de impacto. As citações correspondem ao número de vezes que um trabalho foi utilizado como referência e o índice-H relaciona o quantitativo de publicações científicas com o de suas citações, ou seja, quantos artigos um pesquisador publicou e quantas vezes foram referenciados.

Scielo está integrado à base Web of Science. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

Os profissionais envolvidos nesse estudo destacam que, embora traga importantes indicadores, há que se considerar as especificidades das áreas. Por exemplo, as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas têm mais grupos de pesquisa, mas por outro lado, o número de publicações em periódicos não é tão expressivo como as Ciências da Vida ou Exatas.

 

“De maneira geral, há uma distribuição bastante homogênea, mas é preciso pontuar que tem muito a ver com a tradição da área. Na Matemática, por exemplo, embora não se tenha muitos grupos, os pesquisadores são muito internacionalizados”, informa a diretora Cláudia Amorim.

Cláudia Amorim explica que a Dirpe tem buscado agrupar e sistematizar os dados para interpretá-los. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

Na opinião da decana Adalene, as iniciativas dos decanatos têm buscado contemplar as particularidades de cada área. “Para algumas, o conhecimento é mais visível por meio da publicação de livros, para outras, a apresentação de estudos em eventos tem muita repercussão. As bases de dados não compreendem a complexidade do sistema científico”, esclarece.

 

Embora as Humanidades tenham um índice-H mais baixo nas bases de dados, trata-se de um campo internacionalizado. Além de ser a área com mais grupos de pesquisa, as Ciências Humanas ou Sociais detêm mais da metade (55%) dos cursos de excelência da UnB.

 

COLETA DE DADOS – O bibliotecário da BCE Miguel Portela conta que o trabalho foi demorado, pois à época ainda não havia o SciVal, ferramenta que utiliza a base Scopus e possibilita a gestão de indicadores de avaliação. “Tivemos que estabelecer critérios para a coleta, uma vez que havia várias possibilidades de pesquisa.”

 

Um exemplo dessas dificuldades é o nome do autor, que pode aparecer de diversas formas: apenas o último sobrenome, os dois últimos ou apenas as iniciais de cada nome, gerando confusões com nomes similares. “Apesar dessas limitações, procuramos ser muito minuciosos”, garante o servidor. 

Miguel Portela e Luciana Setubal participaram do estudo nas duas fases de levantamento de dados. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Também participaram dessa etapa as bibliotecárias Luciana Setubal e Denise Bacellar, responsável pela definição da estratégia metodológica. “A experiência serviu para expandir a visão que as pessoas têm do bibliotecário, foi um retorno muito positivo”, destaca Portela. Na época, os três atuavam no setor de Referência, que presta assessoria em dados bibliométricos.

 

DESAFIOS – Um dos fatores que limitam a visibilidade das instituições nacionais é o idioma. “O inglês é uma das línguas mais utilizadas para divulgação internacional da pesquisa. Publicar em língua estrangeira é uma das metas do Plano de Internacionalização”, afirma Adalene Moreira.

 

“A cooperação com a indústria é outro indicador que deve ser levado em conta, especialmente pela possibilidade de ir além do universo acadêmico e gerar benefício social”, lembra. A docente também reforça a importância de observar onde se publica e o fator de impacto, além da formalização do trabalho científico em plataformas nacionais e internacionais.

 

Nessa perspectiva, recomenda-se ainda aos pesquisadores manter e atualizar perfis acadêmicos em redes como o Orcid, Academia.edu, Research Gate. Para isso, Cláudia Amorim acredita que é necessária uma mudança de hábito. “É preciso criar uma cultura de se mostrar nas mais variadas plataformas. A ideia não é aparecer simplesmente, mas contribuir”, defende.

 

Apesar das adversidades, a decana do DPG reconhece que a Universidade está crescendo, especialmente pela mobilidade discente e docente. “Com os editais e as oportunidades oferecidas neste ano, pelo menos 120 professores vão fazer pós-doutorado fora do país. Isso trará um reflexo sem precedentes, tanto na formação de docentes quanto na cooperação internacional.”

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