Eles são a solução do futuro. Uma opção de transporte que se alimenta de energias renováveis e, portanto, com menor impacto negativo ao meio ambiente. É assim que o professor João Paulo Lustosa, do Departamento de Engenharia Elétrica (ENE/FT) descreve os carros elétricos, objeto de estudo de dois de seus orientados de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sistemas Mecatrônicos (PPMEC): Gabriel Pinheiro e Bruno Justino Garcia.
Os dois estudantes embarcam em agosto para a Alemanha, onde desenvolverão estágio de pesquisa e projetos de dissertação na empresa de tecnologia Elektronische Fahrwerksysteme (EFS), ligada à Audi, automobilística alemã. Lá, o objetivo é desenvolver estudos e protótipos para implementação de duas patentes desenvolvidas por Lustosa na EFS. As duas pesquisas, em resumo, focam em ampliar a segurança e a eficiência das baterias dos carros elétricos.
Em licença não-remunerada da FT, Lustosa tem desenvolvido trabalho na EFS, o que lhe permitiu estabelecer essa ponte com os estudantes que orienta na UnB. A ideia do docente é incorporar à Universidade aquilo que ele está desenvolvendo na empresa, quando retornar à instituição de ensino.
Os estudantes irão desenvolver o estágio sob contrato de um ano prorrogável por mais seis meses. “A meta é montar protótipo com o que está descrito na patente e fazer várias simulações. Conseguindo validar a pesquisa, a ideia é que eles consigam publicar artigos e participar de conferências na área”, projeta Lustosa.
PESQUISA – A pesquisa de Bruno Justino envolve estimação de parâmetros da bateria de carros elétricos. “Existem dois parâmetros sobre a carga das baterias: um sobre o estado da carga e outro sobre a saúde da bateria”, explica o estudante.
Bruno investigará parâmetros estatísticos sobre a vida útil das baterias, para conseguir prever quando devem ser substituídas. “O grande ponto da pesquisa do Bruno é que existe uma certa imprecisão nos cálculos atuais, pois utilizam sistemas matemáticos mais simples, o que pode gerar erro, ou problemas de carregamento e de segurança”, detalha Lustosa.
Já a pesquisa de Gabriel é sobre a comunicação sem fio de sistemas de monitoramento de carros elétricos. “A bateria desses veículos é feita de várias células que têm de ser monitoradas por sensores que garantem, por questão de segurança, que a bateria não vai superaquecer”, ensina o discente. O diferencial é realizar essa comunicação por meio de tecnologia wireless (sem fio).
Lustosa afirma que o grande desafio do trabalho do Gabriel não é só fazer a comunicação, mas uma comunicação altamente segura, que atenda aos protocolos de segurança estipulados pela indústria automobilística.
“Hoje, o fio é mais confiável, mas gasta mais material, envolve maior complexidade de ligação e é pesado”, diz Lustosa. O peso dos cabos, que em alguns carros elétricos podem chegar a 40 quilos, é um limitador, segundo o professor.
“A tendência é evitar cabeamento. Hoje, se uma célula da bateria for danificada, é necessário trocar todas as células. Se você consegue desenvolver uma manutenção mais simples e mais barata, dialoga com tendência da indústria”, relata o professor.
PORTAS ABERTAS – “A oportunidade abre várias portas para Gabriel e Bruno. Depois do mestrado, eles podem receber convites para continuar trabalhando na empresa, o que ocorre com frequência. Podem também seguir a carreira acadêmica”, exemplifica Lustosa.
“O que desenvolvermos conta pontos para o conceito do curso e favorece a internacionalização do PPMEC”, observa Gabriel. Além disso, Bruno avalia que a viagem dos dois pode ser o pontapé inicial para a ida de outros estudantes do programa.
“Vamos trazer conhecimento que não teríamos no Brasil. Podemos criar uma startup, por exemplo. Tudo é uma abertura profissional”, observa Bruno. O estágio de pesquisa na EFS permitirá acesso a laboratório de ponta e a carros elétricos para testes, além de trabalho lado a lado com pesquisadores de ponta.
“Com a parceria, conseguimos desenvolver uma pesquisa de alto nível. São pesquisas complexas e úteis para a sociedade”, reforça Lustosa. “A parceria entre universidade e indústria gera impacto na realidade, além de visibilidade para a pesquisa”, avalia o professor.
FUTURO – “Dominar uma tecnologia que vai ser utilizada nas próximas décadas é fundamental para que seja um profissional de destaque”, avalia o orientador, que destaca que o preço de célula dos carros elétricos está caindo, fazendo com que os veículos se tornem cada vez mais populares. “Em dez anos, devemos ter uma boa popularização dos carros elétricos”, estima Gabriel.
O professor orientador afirma que o desenvolvimento das pesquisas vai ajudar no trabalho de outros colegas e que o conhecimento a ser produzido podem ser usado em pesquisas futuras. Lustosa ressalta que as pesquisas são relevantes para o Brasil. Segundo o docente, poucos países realizam desenvolvimento de baterias e pilhas porque demanda tecnologia de ponta.
A expectativa, contudo é que a pesquisa iniciada na Alemanha crie bases para que o Brasil possa desenvolver algo na área e participar de parte dessa cadeia da indústria. “Estamos fazemos pesquisa acadêmica para servir a sociedade”, enfatiza.