Um professor comprometido costuma ser inesquecível. A vida profissional do obstinado pela docência, entretanto, não tende a ser fácil. Muitas vezes incompreendido, ele corre o risco de perder espaço se não for estimulado. Para entender melhor esse quadro, um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília e de outras instituições do Distrito Federal lançou esta semana o livro O Professor Universitário Entusiasmado – Seis estudos sobre uma espécie em extinção.

A obra de 164 páginas traz resultados de pesquisas quantitativas e qualitativas sobre o perfil desse professor. Estudantes responderam a questionário em que avaliavam variáveis como a percepção do comprometimento, do domínio do conteúdo e da capacidade de envolver a turma. Docentes ditos entusiasmados também foram alvo de análise. “Os entusiasmados são imbuídos e movidos por valores, princípios e ideais”, explica José Florêncio Rodrigues Júnior, coordenador do grupo de pesquisa e aposentado da Faculdade de Educação (FE/UnB).

Os estudos apresentados indicam que muitos desses professores perdem fôlego e ânimo por não se encaixarem a estruturas estabelecidas. “Soa meio melancólico, mas é assim. Como esses indivíduos se regem por princípios, eles não são fáceis de serem moldados pela administração acadêmica. São vistos como insubordinados, inconvenientes em certo sentido”, avalia José Florêncio. O apontamento é de que os alunos reconhecem o valor do entusiasmado, mas as instituições, em especial as privadas, não estão preparadas para lidar com ele.

Sem paralelos no Brasil, o livro compila estudos do grupo de pesquisa formado também pelos professores Luiz Pasquali e Cristiane Faiad, do Instituto de Psicologia, e Carlos Alberto Lopes, da FE. A professora da Iesplan Jaqueline Rodrigues e a pesquisadora Cléa Silva são as demais integrantes que assinam a publicação. O Professor Universitário Entusiasmado foi publicado com o apoio da Associação dos Aposentados da Fundação Universidade de Brasília, que cede espaço para as reuniões dos pesquisadores.

ESTÍMULO – Segundo o professor José Florêncio, o docente em análise não busca popularidade, mas precisa ter empatia com os alunos. “Ele não pode ser entusiasmado no vácuo”, diz. Trecho do livro aponta as reações dos estudantes em sala de aula como “fator condicionante do entusiasmo docente”.

Outros aspectos que estimulam são perguntas com potencial investigativo e sinalizações corporais assertivas. Por outro lado, os professores pesquisados apontam entre os fatores inibidores a evasão ao fim do período letivo, o descompromisso de alunos e questionamentos feitos em momentos inoportunos. “De repente um aluno levanta o braço e pergunta: professor, quantas faltas eu tenho? No meio da aula. Aí acaba com o entusiasmo total”, lamenta um dos entrevistados.

SERVIÇO

O Professor Universitário Entusiasmado – Seis estudos sobre uma espécie em extinção

Edição do autor

Valor: R$ 35,00

Disponível na Livraria Cultura

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