Há seis anos, a revista ARede, editada em São Paulo e dedicada à inclusão digital como via de cidadania e educação, realiza o Prêmio ARede e reconhece, anualmente, iniciativas de inclusão sociodigital de jovens, idosos, grupos étnicos e pessoas com deficiência. Este ano, um projeto desenvolvido na Universidade de Brasília foi o único do Centro-Oeste contemplado. O software Participar, que é multimídia, gratuito e serve de apoio à alfabetização e comunicação alternativa de jovens e adultos com deficiência intelectual, foi vencedor na categoria Setor Público - Desenvolvimento Tecnológico.
O Participar, um projeto pioneiro e inovador no Brasil no campo de alfabetização social, inclusão digital e cidadania, foi desenvolvido pelos alunos Tiago Galvão e Renato Domingues, do curso de Ciência da Computação da UnB, como trabalho de conclusão de curso, sob coordenação do professor Wilson Veneziano. O trabalho teve o auxílio de Maraísa Helena Pereira, pedagoga da Coordenadoria de Educação Inclusiva da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
A cerimônia de premiação ocorreu no dia 29 de outubro, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, e contou com a presença da ministra da Cultura, Marta Suplicy, e de representantes de instituições que atuam com a internet brasileira e com inclusão digital. “O projeto Participar demonstrou ser uma contribuição efetiva na inclusão digital. Isso, principalmente, o levou a ganhar o prêmio”, afirma Áurea Lopes, editora executiva da revista. Áurea ainda destacou que a relevância do projeto fez com que outras pessoas pedissem os contatos da equipe da UnB aos organizadores do prêmio.
AMOR À CAUSA - “Foi muito gratificante estar em uma premiação nacional e com este porte. Ganhar este prêmio foi elemento motivacional para a equipe continuar trabalhando com afinco na produção de softwares destinados à educação de deficientes intelectuais. Temos amor à causa e este prêmio mostra que nós, da UnB, temos capacidade para vencer desafios e limitações”, afirma o coordenador do projeto e professor de Ciências da Computação da UnB, Wilson Veneziano.
Desenvolvido ao longo de dois anos, o projeto foi custeado pelos próprios membros da equipe. “Acho que este prêmio veio valorizar o nosso trabalho e proporcionou uma tomada de consciência, servindo para chamar a atenção das autoridades relativas às políticas públicas de que há necessidade de maiores investimentos e que é preciso ter um olhar diferencial para esta área. O projeto é uma ferramenta de trabalho para professores e despertou tanto o interesse do estudo quanto a possibilidade da aprendizagem ao público-alvo”, disse Maraísa.
O desenvolvimento do software teve como parceiros a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do Distrito Federal e a Secretaria de Estado de Educação do Governo do Distrito Federal (GDF). Em 2011, ele foi testado em casos reais nas escolas públicas desses parceiros e atualmente integra seus quadros regulares. O Participar contou ainda com a parceria da UnB TV na produção dos 600 vídeos que integram o projeto, que tem como diferencial os atores principais dos vídeos: um casal de adultos com síndrome de Down. A inovação da proposta está em provocar a identificação e a empatia por parte dos deficientes intelectuais.
“O projeto foi lançado oficialmente em julho deste ano pela UnB. A repercussão na imprensa possibilitou que a editora da revista entrasse em contato comigo e me sugerisse inscrever o projeto para concorrer ao prêmio. Preenchemos os relatórios, descrevendo o trabalho e o inscrevemos. Estamos muito felizes com a escolha e por estarmos entre os premiados. Alguns deles tinham financiamento de milhões de reais e anos de desenvolvimento”, disse Wilson.
SELEÇÃO - Neste ano, cerca de 200 projetos foram inscritos para concorrer ao prêmio ARede, dos quais uma comissão julgadora escolheu 14 vencedores, distribuídos nas modalidades Especial Educação, Terceiro Setor, Setor Público e Setor Privado. Fizeram parte da comissão professores universitários, representantes de bancos privados e de instituições não governamentais.
A repercussão do prêmio serve de motivação para a equipe da UnB, que agora busca apoio financeiro para três softwares em início de produção e voltados para este público-alvo, que, além da alfabetização, propõe incluir a matemática e atividades para a vida diária. O software Participar está em fase de experimentação em outras unidades federativas e está em negociação para ser utilizado em escolas públicas de países africanos de língua portuguesa.