A professora do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas (IB/UnB), Mercedes Bustamante, foi eleita membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A escolha foi no início deste mês e os 24 titulares e dez correspondentes eleitos tomarão posse em maio de 2015.
Com doutorado em Geobotânica pela Universidade de Trier, na Alemanha, a professora associada da Universidade de Brasília atua, principalmente, em áreas que envolvem temáticas sobre cerrado, mudanças ambientais globais e uso da terra.
“Ao longo dos 21 anos que estou na UnB, construímos uma rede de colaboração com alunos, professores e pesquisadores de várias instituições e o mérito da indicação faz parte dessa trajetória de participação de várias pessoas”, lembra Bustamante.
A pesquisadora ressalta a satisfação de ver a área de Ecologia representada na ABC, uma vez que muitos desafios atuais da ciência estão relacionados à questão ambiental e à conservação e uso sustentável dos recursos naturais.
Na visão da professora Mercedes Bustamante, a Academia Brasileira de Ciências tem o papel de colocar o conhecimento científico a serviço das políticas públicas e do enfrentamento dos grandes desafios da sociedade.
“Especificamente para a UnB, a escolha chancela com um selo de qualidade a formação acadêmica que oferecemos, com a possibilidade de dar ainda mais visibilidade à produção da instituição”, pondera.
A indicação à Academia Brasileira de Ciências é feita por membro titular da própria ABC e depois votada pelos representantes, em várias etapas de escolha.
Os membros titulares são cientistas radicados no território brasileiro há mais de dez anos e os correspondentes são radicados no exterior por igual período, ambos com destacada atuação e reconhecido mérito científico no Brasil.
Confira a lista dos membros eleitos pela Academia Brasileira de Ciências
PESQUISA – Em novembro, uma equipe de 16 pesquisadores brasileiros e britânicos publicaram artigo na revista científica Science, uma das mais prestigiadas na área. O intuito foi alertar sobre as potenciais consequências que algumas propostas em debate no Congresso Nacional podem representar aos ecossistemas brasileiros.
O PL 3682/2012, por exemplo, prevê a abertura de 10% das áreas de proteção integral para a mineração, além da proibição de novas unidades de conservação em áreas de alto potencial hidrelétrico ou mineral.
De acordo com o estudo, as áreas de proteção integral – como parques nacionais, reservas biológicas, refúgios de vida silvestre e outros – com interesse registrado para a mineração somam mais de 34 mil km², o equivalente ao tamanho da Suíça.
Além disso, 28% das terras indígenas brasileiras têm sobreposição com áreas de interesse de mineração, alcançando 281 mil km², extensão maior que o Reino Unido.
Os pesquisadores defendem que a rede de áreas protegidas desempenha um importante papel na conservação dos ecossistemas brasileiros e suas funções ecológicas, base de serviços ambientais e essenciais para o bem-estar humano.
Também afirmam que os efeitos dos grandes projetos de desenvolvimento são diretos, indiretos e cumulativos e que as políticas de mitigação ambiental, muitas vezes, são mal concebidas.
"O propósito da análise não é dizer que o Brasil não deva se desenvolver e se beneficiar de seus recursos naturais abundantes, mas, sim, que não podemos ameaçar nossa reputação [ambiental internacional] de sucesso e liderança em favor de projetos de desenvolvimento mal planejados, que deixam um longo legado de danos ambientais. É possível gerenciar o nosso desenvolvimento de forma mais sustentável", afirma a pesquisadora da Embrapa e primeira autora do estudo, Joice Ferreira, doutora em Ecologia pela UnB.
O grupo solicita ao governo brasileiro que as iniciativas de desenvolvimento façam parte de uma discussão mais ampla, que envolva a sociedade e englobe uma análise mais abrangente, socialmente inclusiva e de longo prazo, com alternativas que considerem aspectos ambientais e sociais, incluindo os direitos dos povos tradicionais e indígenas.