O professor do departamento de Farmácia da Universidade de Brasília, Lib Kanzaki, esteve, no início do mês, no município de Oiapoque, no Amapá, para dar continuidade a estudos que buscam avaliar a existência do HTLV-1/2 (Vírus Humano com Tropismo por Linfócitos T do tipo 1 e 2) nesta região.
A pesquisa é coordenada por ele, em colaboração com os professores Aldo Proietti e Roberto Messias, pesquisadores da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e do Laboratório de Fronteira (Lafron), ligado ao Laboratório Central de Saúde Pública do Amapá (Lacen/AP).
Segundo o professor, casos foram reportados na capital, Macapá, e entre membros da etnia indígena Waiãpi, que reside próximo a Serra do Navio. Pessoas com supeitas de estarem infectadas são encaminhadas ao Lacen, na capital do estado, para análise e diagnóstico.
O risco, agora, é que o vírus, muito presente na Guiana Francesa, chegue na pequena cidade vizinha. Isso porque, segundo o professor, a ponte que liga a cidade de Oiapoque e o país vizinho vai ser aberta em breve. "Os estudos mostram alta ocorrência do vírus na Guiana Francesa", diz Kanzaki. “A ponte já está pronta, mas fechada. A a preocupação é que quando essa ponte se abrir, haverá circulação de pessoas e com isso, circulação do vírus."
Para identificar a presença do vírus em Oiapoque, Kanzaki diz que foram testadas cerca de 250 amostras de soro e leite materno, mas nenhuma delas apresentou anticorpos. “Queremos chegar a pelo menos 500 amostras. Para isso, será feita mais uma viagem ao Oiapoque” conta. A pesquisa deve ser concluída até março.
O VÍRUS - O HTLV é um retrovírus da mesma família do HIV, que infecta células-chave do sistema imunológico humano. De acordo com o pesquisador, ele ocorre mais no Japão, África Central e Caribe. A transmissão acontece por via sexual, sanguínea, durante o parto, e também pela amamentação, como no caso do HIV. “Como os recursos são limitados, concentramos os trabalhos, principalmente, nas mulheres gestantes e nas mães que estão amamentando”, diz o professor.
SINTOMAS - O vírus causa várias doenças, entre elas, a leucemia de linfócitos de células T de adulto, ou câncer de células sanguíneas, e mielopatias associadas ao HTLV-1. Com a leucemia ocorre supressão da resposta imunológica e aumento de determinadas linhagens celulares da corrente sanguínea.
Os sintomas iniciais são lesões na pele. Se a pessoa desenvolver a mielopatia, decorrente da inflamação dos feixes nervosos da medula, há comprometimento das áreas do corpo que não conseguem receber estímulos elétricos. O problema é sentido na forma de aumento de lesões motoras. A pessoa infectada apresenta dificuldade ao caminhar, disfunções da micção e constipação, até a total paralisia dos membros inferiores. Ao atingir os músculos respiratórios, pode causar a morte.
"A pessoa que teve contato com o vírus, não necessariamente desenvolverá a doença", esclarece o pesquisador da UnB. “De cada mil pessoas portadoras do HTLV, quatro podem desenvolver a doença, e só por volta dos 50 anos”, diz. Segundo ele, os números dependem da região geográfica.
OUTROS CASOS - Segundo informações da Fundação Osvaldo Cruz, a cidade de Salvador possui mais de 50 mil pessoas infectadas pelo HTLV-1/2. Os grupos étnicos com maior prevalência do vírus são de origem africana, porque ele se originou na África. No Brasil, tem mais chances de ser encontrado na Bahia, e menos em Santa Catarina, por exemplo. Cerca de 2,5 milhões de indivíduos são soropositivos para o HTLV-1/2 no Brasil.
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