CIÊNCIA

Projeto do Instituto de Química e do Laboratório de Produtos Florestais realiza a identificação de várias espécies como o mogno e o cedro

Foto: Reprodução

 

O Instituto de Química da Universidade de Brasília, em parceria com o Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF/SFB), desenvolveu um método para identificar madeiras com o risco de desaparecer. O principal exemplo é o mogno, que só pode ser extraído em áreas de manejo autorizado, mas que é de identificação confusa, por haver várias espécies florestais com madeira similar.

 

O professor Jez Braga, do Instituto de Química, e a doutora Tereza Pastore, pesquisadora do Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro, são os coordenadores da pesquisa. Eles estiveram com os demais pesquisadores, José Arlete Camargos (LPF/SFB), Marcelo de Barros (Perito Criminal da Polícia Federal) e o estudante do curso de Bacharelado em Química Diego da Silva em uma viagem ao Acre no início do mês para a realização de testes do método em campo.

 

A motivação maior da pesquisa, que foi iniciada em 2007 pelo Laboratório de Produtos Florestais, surgiu do mogno. Desde 2003, há uma restrição muito grande ao seu comércio por ser uma espécie considerada em risco de extinção e por estar entre as espécies protegidas pela Convenção Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES).

 

Ilustração: Apoena Pinheiro/UnB Agência

 

“Como a madeira do mogno tem essa restrição grande à sua exploração, é muito importante o desenvolvimento de um método que a identifique”, explica o professor. “Além disso, essa espécie possui uma madeira que visualmente é similar a de várias outras espécies, sendo muito difícil para um fiscal, seja ele do IBAMA, da Polícia Federal, ou de organismos de controle ambiental estaduais, identificar se aquela madeira é mogno ou se se trata de uma das outras espécies similares” conta.

 

O Laboratório de Produtos Florestais junto com a universidade começou esse projeto para tentar desenvolver uma técnica instrumental - espectroscopia no infravermelho próximo e quimiometria - que pudesse fazer a identificação da madeira, substituindo a maneira convencional, feita visualmente por pessoal altamente treinado.

 

Tereza Pastore, pioneira do projeto, explica que a maior dificuldade foi a obtenção das amostras. “Venho trabalhando desde o começo com as espécies cedro, mogno, andiroba e curupixá e, até 2010, o que dificultou o avanço do projeto foi a obtenção dessas amostras, que necessariamente precisam ser em grande quantidade”, conta. “Estávamos trabalhando em nível de laboratório sob condições controladas. Agora que conseguimos estudar a influência da umidade e da temperatura, podemos ir a campo”, completa.

 

O professor Jez, parte da equipe desde 2010, conta que o projeto teve várias etapas. A parte inicial foi desenvolver um método em laboratório, verificar se ele funcionava, e checar a sua precisão em condições de laboratório, utilizando equipamentos de bancada. Depois, foram testados equipamentos de campo portáteis, avaliada a possibilidade de transferir banco de dados de um equipamento para outro, e de identificar amostras de diferentes países. “Tivemos sucesso em todas as etapas, agora estamos tentando implementar em campo” conta.

 

Na viagem ao Acre foi feita uma visita à empresa Agrocortex, uma das maiores do Brasil, que tem manejo florestal autorizado pelo IBAMA e forneceu ao projeto toda a infraestrutura e ajuda para a realização dos experimentos. Ao chegar, foi feita a coleta de amostras das espécies estudadas, como o cedro e o mogno, e feito o preparo para as análises. Segundo o professor, os resultados iniciais mostram que o método desenvolvido em condições de laboratório pode ser adaptado para as condições de campo.

 

A doutora Tereza Pastore explica que, no momento, estão sendo realizados os cálculos para adaptar o novo método para uso em condições de campo e já estão programadas mais três viagens. Uma delas será provavelmente para o Pará, no início do próximo ano, e mais duas, possivelmente internacionais, para se verificar se o método pode também identificar a procedência da madeira e fazer sua certificação.

 

Nas próximas fases do projeto serão feitas novas pesquisas de campo para testar o método novamente com as adaptações que estão sendo feitas. É preciso também avaliar a possibilidade de identificação da madeira através de sua procedência e ampliar o banco de dados para outras espécies.

Foto: Isa Lima/UnB Agência

 

O professor comenta a importância do projeto. “Essa pesquisa é muito relevante para ajudar no controle do comércio e exploração de madeira no país, porque atualmente temos um problema sério de desmatamento e esse tipo de método pode contribuir de forma significativa para o controle das cargas de madeira que estão sendo exportadas pelo país e para poder identificar se aquela madeira é controlada ou de livre comércio.”

 

Jez Braga destaca a colaboração da Universidade de Brasília com o Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro. “É uma parceria que tem dado muitos frutos positivos, já foram publicados três artigos científicos, concluídas duas dissertações de mestrado e ainda estão em andamento uma dissertação e uma tese de doutorado. Estamos com a perspectiva de concluir esse método que vai trazer um benefício grande em termos nacionais”, comenta.

 

O projeto foi financiado pelos órgãos International Tropical Timber Organization - ITTO -, CNPq e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Bioanalítica - INCTBio.

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