Um terremoto de magnitude estimada em 7 na escala Richter produziu destruição e gerou até um pequeno tsunami no Rio Amazonas. O tremor aconteceu em junho de 1690 e o seu provável epicentro localizou-se na margem esquerda do rio, a 45 km abaixo de Manaus. As informações são de artigo científico do pesquisador e professor aposentado José Alberto Veloso, um dos idealizadores do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília. O estudo leva em consideração relatos de padres europeus que à época registraram as consequências do tremor.
O abalo sísmico em questão pode ter sido o mais grave ocorrido em território nacional e foi percebido em uma área de aproximadamente 2 milhões de km². "O tremor sacudiu o terreno de forma violenta e agitou fortemente as águas dos rios da região", explica Veloso.
Segundo o estudo, a força do terremoto produziu ondas semelhantes a pequenos tsunamis. Aldeias indígenas foram inundadas e a corrente do Rio Urubu, afluente do Amazonas, foi momentaneamente invertida.
A pesquisa indica ainda abertura de clareiras na mata em função do tombamento de árvores. Parte desses acontecimentos é atribuída à liquefação de rochas saturadas de água que perderam sua rigidez pela intensa vibração sísmica. "Na área epicentral o chão foi revirado. Partes subiram, outras desceram, encostas escorregaram, apareceram gretas, lagoas secaram e outras nasceram do nada", afirma o pesquisador.
Para Veloso, as evidências desse sismo mostram que o Brasil não está imune a grandes terremotos. Ele informa que um acontecimento dessa magnitude pode ocorrer a cada 500 anos em qualquer ponto do país. "Em 1690 não se falou em muitos prejuízos materiais ou em vítimas. Hoje não seria assim", alerta, ao comentar o crescimento da população e o desenvolvimento das áreas urbanas.
RELATOS - A pesquisa associa estudos sismológicos modernos aos depoimentos dos padres jesuítas Samuel Fritz e Felippe Betendorf. O primeiro elaborou um mapa com os cursos dos rios da região e registrou em diário os estragos feitos pelo terremoto. "Samuel Fritz era uma pessoa excepcional. Dedicou 40 anos de sua vida catequizando índios, edificando missões, que se tornaram cidades e registrando fatos do cotidiano da Amazônia", afirma José Alberto Veloso.
Em relato formal, Betendorf descreveu a existência de um "terrível terremoto" e mencionou falas de povos nativos da área do Rio Urubu que testemunharam o fenômeno. O documento informou sobre grandes inundações e vilas submersas.
O artigo de José Alberto Veloso acaba de ser publicado pela Academia Brasileira de Ciências. O autor também é responsável pelo livro "O terremoto que mexeu com o Brasil", obra que avalia tremor de magnitude 5.1 ocorrido em 1986 no município de João Câmara, no Rio Grande do Norte.