2 de maio de 2016. Às 9h21, o Observatório Sismológico (SIS) da Universidade de Brasília (UnB) capta, por meio de suas estações sismográficas, sinais de tremores de terra, com a magnitude de 3,7 graus na escala Richter, na cidade de Esmeralda, em Minas Gerais. Os dados registrados são encaminhados, via satélite, das estações para a central do Observatório, no campus Darcy Ribeiro. No local, um software detecta automaticamente a ocorrência, acompanhada por pesquisadores e técnicos, que processam e analisam as informações recebidas para, em seguida, divulgá-las à população.
Essa é a rotina de trabalho no SIS, um dos mais importantes centros de medição de terremotos do país. Parte do Instituto de Geociências (IG) da UnB, há quase 50 anos realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão voltadas para o monitoramento de sismos no Brasil, além da disseminação de informações sobre abalos sísmicos registrados. No entanto, essas atividades nem sempre foram realizadas com a agilidade a qual a equipe está habituada.
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Professor do IG e membro do SIS, Marcelo Peres Rocha lembra que, já na década de 1980, o centro procurava realizar, com certo pioneirismo, o processo de transmissão de informações à comunidade em geral sobre sismos detectados por sensores instalados em diversas localidades do país. Entretanto, a inexistência de ferramentas para viabilizar a disponibilização dos dados sismológicos pela internet, o que se manteve até poucos anos atrás, era um dos empecilhos na agilidade do processo. “Antigamente levávamos de três a seis meses para poder ter a informação, porque tínhamos que ir a campo buscar o dado, trazer, fazer todas as convenções de formato, processá-lo”, comenta o professor.
Essa realidade mudou com os recursos diversos captados pelo centro para sua ampliação e a criação, em 2011, da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), da qual a UnB faz parte. Atualmente coordenada por Rocha, a iniciativa da Petrobras visa monitorar em território nacional a ocorrência de sismos e gerar informações sobre o assunto, com a implantação de estações sismográficas em diversos pontos do país. Observatórios de outras três instituições também participam: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Observatório Nacional.
Atualmente, o projeto possui 80 estações alojadas por todo o Brasil, sendo 30 de responsabilidade da UnB, localizadas nas regiões Norte e Centro-Oeste. Dessas, praticamente todas estão conectadas por satélite e realizam envio de dados online, o que permite dar resposta imediata à população acerca de qualquer tremor verificado pelos sensores. Além da instalação e manutenção dos equipamentos, é de responsabilidade da instituição tornar públicos os registros sobre o monitoramento de abalos sísmicos aos integrantes da parceria e aos pesquisadores de todo o país. “Os dados vão para todas as instituições da rede por uma questão de garantia de que não se percam e para que todos possam ter acesso para fazer suas pesquisas”, explica Rocha.
A coleta dessas informações é também essencial para a produção científica no Observatório da UnB, que conta com sete projetos de pesquisa, cinco pesquisadores, além de bolsistas de iniciação científica e pós-graduandos. O mesmo é realizado com o que é reportado de outras 30 estações do SIS de projetos fora da rede, que envolvem a observação de sismos em reservatórios de usinas hidrelétrica por meio de contratos. Para além de analisar fenômenos de grande magnitude, a chefe do Observatório Sismológico, Mônica Giannocaro Van Huelsen, aponta que, por meio dos estudos, é possível compreender melhor a estrutura interna da Terra. “Esses dados produzidos são utilizados nas pesquisas para caracterizar geologicamente uma região”, afirma Huelsen.
PARCERIAS – O Parque Nacional de Brasília abriga a única estação brasileira de infrassom pertencente à UnB, capaz de detectar terremotos causados por atividades nucleares. Esse sensor foi instalado com a finalidade de atender, em cooperação com a ONU, às estratégias da Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO). Segundo Huelsen, a estação capta explosões nucleares a grandes distâncias. “Quando se detona uma bomba atômica existe uma onda de choque que viaja pelo som e esse infrassom tem uma sensibilidade maior para captá-la”, alega.
PIONEIRISMO – O Observatório Sismológico da UnB é fruto de um projeto pioneiro para implantação dos primeiros arranjos sismográficos na América Latina, em 1968. Na época, o objetivo era colocar em operação o sistema SASS (South American Array Sistem), para monitorar terremotos na região dos Andes. A Universidade, uma das grandes apoiadoras do projeto, ficou responsável pelos arranjos, instalados dentro da instituição e no Parque Nacional de Brasília. Dessas estações, se originou, na década de 1980, o SIS, com a ampliação do número de instrumentos em outros estados.