Janiele Custódio nem concluiu a graduação em Engenharia de Produção na Universidade de Brasília, mas já se prepara para cursar o doutorado em Engenharia de Sistemas na George Washington University (GWU) nos Estados Unidos (EUA), sem a necessidade de concluir o mestrado na área. Para ser admitida nessa universidade, Janiele apresentou um projeto de modelo de otimização dinâmico para ser utilizado por companhias produtoras de energia. Esses conhecimentos poderão ajudar a determinar estratégias de venda da eletricidade no mercado de curto prazo para que, dessa forma, essas empresas desfrutem de maiores benefícios.
Basicamente, o projeto concentra-se em analisar o impacto das variações do preço de ações na bolsa de eletricidade e a aversão de risco do tomador de decisão no processo 'compra-venda' da energia oferecida. Em sua pesquisa, a estudante vai necessitar aplicar conhecimentos de Economia, Análise de Sistemas, Matemática Financeira, Estatística e outras áreas. Além, é claro, de Engenharia de Produção e Pesquisa Operacional.
Em geral, a sequência do percurso acadêmico inicia com a graduação, passa para o mestrado e segue para o doutorado. Na UnB, como na maioria das universidades brasileiras, para ingressar no curso de doutoramento, o estudante deve ter concluído o mestrado. Em casos extraordinários, pode ser suprimida essa necessidade. Para que tal situação ocorra, ao finalizar a graduação, o estudante deve apresentar um projeto de pesquisa de caráter científico inovador reconhecido pela instituição de ensino.
O professor Jaime Martins de Santana, decano de Pesquisa e Pós-graduação (DPP), esclarece que, apesar de não ser muito frequente, na UnB existe a possibilidade de o aluno ingressar diretamente no doutorado. “Para suprimir o mestrado, o estudante deve realizar um projeto de iniciação de pesquisa que apresente inovação e sucesso. Caso os estudos apresentem uma considerada profundidade científica a respeito do tema proposto, a UnB pode incluí-lo no programa de doutorado, sem a necessidade de ele realizar o mestrado”, explica o decano. Uma resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE/UnB) regulamenta a situação de ingresso especial. A UnB, porém, ainda não oferece doutorado em Engenharia de Produção. Na maioria das universidades dos EUA, o procedimento de ingresso direto no doutorado ocorre com mais frequência.
No caso de Janiele, ela passou por todo processo de admissão e obteve bolsa de estudos. Foi aprovada com méritos e recomendações de seus professores do Brasil. A estudante agradece, em especial, o apoio de Reinaldo Garcia, docente que orientou seus estudos. "Ele foi fundamental no meu progresso acadêmico. Reconheço o esforço e a dedicação do professor", declara.
Em 2010, ingressou na UnB pelo critério de cotas raciais, mas classificou-se em primeiro lugar entre todos os candidatos do seu curso (cotistas ou não). Ela apoia as políticas de ações afirmativas. “Sou absolutamente a favor do sistema de cotas. Considero excelente estudar na UnB, que é uma universidade tão inclusiva. Eu não trocaria por nada os anos que passei aqui. E, apesar de todos obstáculos, acho muito bom terem sido tomadas algumas ações para mitigar a sub-representação de negros e pardos nas melhores universidades do Brasil”, declara a estudante.
CURRÍCULO – Janiele Custódio é natural do Espírito Santo. Tem 23 anos e fez o ensino médio no Colégio Militar de Brasília. Além de ser a primeira colocada do curso de Engenharia de Produção na Universidade de Brasília, ela também passou na seleção da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) para cursar Engenharia Química. Por motivos particulares, optou por ficar em Brasília. Na UnB, foi monitora de Cálculo 1 e de Planejamento e Controle de Produção. Seu Índice de Rendimento Acadêmico (IRA) é 4,20, num total de 5.
Em 2013, pelo Programa Ciência sem Fronteiras, teve oportunidade de cursar Engenharia Industrial, durante dois semestres, na Purdue University, nos EUA. De volta ao Brasil, ela participou de projetos de pesquisa junto ao Comando do Exército, ao Hospital Universitário de Brasília (HUB) e a outros órgãos públicos. Fez estágio em empresas privadas e, atualmente, está empregada no setor de engenharia de uma multinacional do setor de produtos para estética.
Em sua carreira acadêmica, Janiele participou de diversas conferências, grupos de estudos e congressos. Além disso, é coautora de artigo científico publicado na revista Produção Online, da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO) e, de trabalho apresentado no 22o Simpósio de Engenharia de Produção.
CURSO – A Engenharia de Produção é responsável por gerenciar recursos humanos, financeiros e materiais, além de definir a melhor forma de integrar mão de obra, equipamentos e matéria-prima, a fim de avançar na qualidade e aumentar a produtividade de uma empresa. Por isso, é considerada fundamental em indústrias e empresas de quase todos os setores.
Durante sua formação, o estudante da área aprende conhecimentos de Administração, Economia e Engenharia para racionalizar o trabalho, aperfeiçoar técnicas de produção e ordenar as atividades financeiras, logísticas e comerciais de uma organização.
Janiele conclui o curso neste semestre e inicia o doutorado nos EUA em setembro próximo. Ela considera estar preparada para começar o doutorado, apesar de não ter a titulação do mestrado. “Acredito que posso desenvolver as minhas pesquisas de forma madura. Sou disciplinada e estou tranquila para me aprofundar nos estudos”, avalia a pesquisadora.
UNIVERSIDADE - A George Washington University (GWU) é uma instituição privada. Fundada em 1821, foi uma das primeiras universidades a aceitar mulheres nos curso de Engenharia, além de ser a escola que mais forma doutoras nessa área nos Estados Unidos. Localizada na capital norte-americana, Washington D.C., seu campus principal encontra-se a quatro quarteirões da Casa Branca. Ao seu redor, estão as sedes do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização dos Estados Americanos (OEA), Cruz Vermelha e os departamentos de Estado dos EUA.
A universidade norte americana tem 24.531 estudantes, provenientes de mais de 140 países. Ao todo, são 10.813 estudantes nos cursos de graduação e 13.718 em pós-graduação (mestrado e doutorado). Entre os ex-alunos e professores da instituição de ensino, incluem-se personalidades como Colin Powell, J. Edgar Hoover, Jacqueline Kennedy, e os atores Alec Baldwin e Courtney Cox.
A previsão de Janiele Custódio é concluir o doutorado na GWU em 2020. No Brasil, ela pretende utilizar os conhecimentos adquiridos nos setores de pesquisas aplicadas às industrias e na formação de novos pesquisadores.
MULHERES NA ENGENHARIA – A Women in Engineering (WIE) é um grupo sem fins lucrativos, voltado para apoiar mulheres que trabalham ou estudam nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O grupo faz parte do Institute of Electrical and Eletronics Engineers (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos – IEEE), a maior associação de profissionais e pesquisadoras para o avanço da tecnologia em todo o mundo.
No Brasil, há representações da WIE/IEEE em todas as regiões. A associação é responsável por fornecer materiais, auxílio financeiro e prêmios para as profissionais integrantes. Além disso, a engenheira associada tem espaço para divulgação de pesquisas e projetos, além de constituir ampla rede de contatos de várias partes do mundo para o cadastro de currículos.
A Universidade de Brasília está filiada ao grupo há cerca de três anos e hoje aproximadamente 40 alunas têm vínculo com o WIE/IEEE. Regularmente, elas se reúnem para pensar cursos, palestras e capacitações para as profissionais integrantes. Janiele ainda não é filiada, mas tem a intenção de conhecer o trabalho desenvolvido pela organização.