TEATRO

Atriz revelação em 2016, a estudante do curso de Artes Cênicas Bruna Martini fala à Secom sobre as influências da formação acadêmica em sua trajetória

Estudante de Artes Cênicas Bruna Martini teve primeiro contato com o teatro aos 15 anos. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Camiseta larga e levemente desbotada, cabelos esvoaçantes, rosto limpo e senso de humor afiado. Foi assim que Bruna Martini, estudante do oitavo período de Artes Cênicas da Universidade de Brasília, recebeu as equipes da Secretaria de Comunicação e da UnBTV para um bate-papo informal às portas do Teatro Helena Barcelos, no campus Darcy Ribeiro.  E bastaram poucas palavras para que se tornasse evidente o jeito extrovertido e intenso com o qual a estudante trata de seu amor pelo teatro e de sua pequena, porém promissora, trajetória artística.

 

“O trabalho com teatro tem uma coisa muito visceral. Não é terapia, mas é terapêutico. É você se olhar no espelho do avesso, ver os seus defeitos, como trabalhá-los, saber tornar o tabu em totem. Aprender isso foi a lição mais importante da minha vida”, diz a jovem de 21 anos, que despontou para o teatro nacional ao vencer, em outubro passado, o prêmio de melhor atriz no 6º Festival de Teatro Universitário (Festu), no Rio de Janeiro, com a peça Stanisloves-me. O espetáculo também foi indicado nas categorias Melhor Espetáculo, pelo júri técnico e popular, Melhor Direção e Melhor Direção de Movimento.

 

Na oportunidade, a aluna subiu solitária ao palco do Teatro Sesi Centro, na capital fluminense, para se apresentar a uma plateia repleta de estudantes e profissionais da área. Surpreendeu não só o público, mas também os jurados que a consagraram pela atuação com um troféu, recebido das mãos da veterana atriz Lília Cabral.

 

Mesmo agraciada pela repercussão de seu talento, Bruna não enxerga o reconhecimento como mérito próprio, mas credita-o também à parceria com a diretora do espetáculo e professora do Departamento de Artes Cênicas da UnB Simone Reis – uma de suas principais referências. “A Simone é o tipo de pessoa que trabalha com muito afeto. As pessoas que ela tem por perto são quase filhos. Ela tem uma relação muito protetora e, ao mesmo tempo, lê a gente profundamente”, afirma a estudante.

 

Bruna recebeu de Lília Cabral o prêmio de melhor atriz no 6º Festival de Teatro Universitário (Festu). Foto: Rayssa Coe/Divulgação

  

FORMAÇÃO – Em meio às memórias da vida acadêmica, compartilhadas em tom reflexivo, Bruna afirma que foi a partir das experiências adquiridas com professores extremamente qualificados da Universidade, os quais abriram sua mente para a diversidade de linguagens teatrais e processos criativos, que descobriu sua afinidade com a profissão. Antes disso, a atriz, que teve seu primeiro contato com o teatro durante o ensino médio, pretendia ser dramaturga. “Eu não era a melhor aluna da classe. Então sugeriram, para que eu não reprovasse, trabalhar em um projeto de teatro para ter uma participação mais ativa dentro da escola”, lembra.

 

Após vivenciar quatro anos na UnB, a aluna enxerga no ambiente acadêmico um espaço promissor para que possa se projetar nos palcos Brasil afora. “A UnB é um impulso para o que você gosta e o que você quer. É uma maneira de conhecer uma linguagem e transportá-la para a sua vida. Você não vai entrar e sair [da Universidade] com uma carreira. Isso tem que ser construído."

 

Desde seu ingresso na graduação, a jovem atriz tem participado de projetos teatrais dentro e fora da UnB. Com a peça Entre Quartos, do Grupo Tripé, foi indicada à categoria de melhor atriz, no Prêmio SESC Candango 2016. Já no Laboratório de Performance e Teatro do Vazio (LPTV/UnB), criado em 2009 e coordenado pela professora Simone Reis, se aprofundou na experiência do Teatro Pândego. Trata-se de uma metodologia desenvolvida pela docente, anteriormente à implementação do laboratório, que mistura o simultâneo, o imprevisível e o tragicômico a performances criativas, que nunca se repetem e que se reinventam por códigos pessoais dos próprios atores. 

Professora Simone Reis na instalação sonora e cênica O Espelho, concebida junto ao artista Iain Mott. Foto: Mila Petrillo/Divulgação

 

“Bruna e eu ficávamos horas trabalhando em sala de ensaio, até ela se cansar. Eu adoro dirigir atores criativos como ela e sou muito exigente. Fui acumulando cenas, ideias, imagens, expressões, dramaturgias e nesse meio tempo surgiu a sedenta Bruna. Foi um delírio!”, comenta Simone sobre a jovem aprendiz. E completa: "Ela é transgressora como eu, muito disciplinada, adora experimentar, desconstruir e construir, por isso nos identificamos de cara.”

 

Apesar de visualizar uma necessidade de mudança na cultura de formação da área das artes e de considerar a infraestrutura do curso limitada, Bruna acredita que os passos dados dentro da Universidade e na cena local foram importantes para que buscasse sua independência profissional e desenvolvesse sua própria linguagem performática. “Esse é o diferencial de Brasília no teatro: aqui se formam atores criadores e não atores que reproduzem”, analisa.

 

ESPETÁCULO – Em meio a experimentações e pesquisas desenvolvidas no LPTV, Simone e Bruna começaram a esboçar, em 2015, o que viria a ser o espetáculo Stanisloves-me. O processo conjunto de construção de texto, cena e personagem possibilitou que a estudante, como protagonista do monólogo, imprimisse sua personalidade, desejos e história na interpretação. Não é à toa que o espetáculo se debruça sobre os conflitos internos de uma jovem aluna de Artes Cênicas em busca da perfeição técnica e metodológica como artista.

 

“O Pândego tem um humor estranho, lírico, grotesco, que busca revelar pateticamente o que varremos para debaixo do tapete no dia a dia e por toda uma vida, em alguns casos. A Bruna corporificou isso tudo muito bem. Stanisloves-me é a prova animadora de que é possível fazer teatro de qualidade ensinando teatro”, avalia Simone sobre os conceitos que pautaram a peça.

Bruna Martini no espetáculo solo Stanisloves-me. Foto: Rayssa Coe/Divulgação

 

Da metalinguagem, das brincadeiras, dos improvisos e da autocrítica que interpelam e integram o público ao ambiente teatral, surge aos poucos Bruna como personagem, que rouba a cena e torna a peça única a cada apresentação. “É um espetáculo que fala sobre a vida do ator em Brasília, mas também se permeia por outros lugares. A peça tem o início e o final definido, mas o meio é sempre elaborado a partir do que o público me dá, do que eu sinto e das coisas que acontecem. É um teatro completamente presentificado”, explica a graduanda.

 

O espetáculo também já passou pelos palcos de Brasília na 24ª Mostra Dulcina, na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, e deve retornar ao Rio de Janeiro em abril. Enquanto isso não acontece, Bruna se prepara para passar uma temporada na capital fluminense, onde realiza, em fevereiro, os cursos de interpretação e dança que recebeu como premiação no Festu. A atriz fará ainda uma participação no canal do YouTube Porta dos Fundos.

 

Confira a matéria da UnBTV com Bruna Martini:

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