ESPORTE

Estudantes trouxeram para casa medalhas de ouro e de bronze na natação, além de três pratas no atletismo. Expectativa é receber mais apoio dentro da instituição

O estudante Gabriel Koga exibe as duas medalhas conquistadas na natação. Foto: Arquivo pessoal

 

Conquistar medalhas na natação era algo que o estudante Gabriel Koga, da licenciatura em Computação, sequer imaginava há quatro anos, quando teve seu primeiro contato com a modalidade profissionalmente. Antes de se tornar atleta, o jovem de 19 anos já havia feito aulas, mas não aprendeu a nadar. Um dos entraves vinha da mobilidade: Gabriel nasceu com má formação na perna esquerda e, aos 13 anos, teve de amputá-la.

 

A descoberta do esporte como uma paixão para além da diversão lhe trouxe surpresas. “Aprendi a nadar em uma semana e, logo em seguida, já estava na minha primeira competição. Fui para sentir como seria estar ali. Peguei o terceiro lugar”, recorda. A experiência em provas não só alimentou o desejo de competir mais, como trouxe melhorias em sua técnica e tempo de nado.

 

Hoje, Gabriel se orgulha de sua trajetória como nadador. O estudante da Universidade de Brasília foi medalhista de ouro e de bronze nas Paralimpíadas Universitárias 2019, competição oficial promovida pela Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU). A terceira edição do evento ocorreu entre 24 e 27 de julho, em São Paulo, com provas em oito modalidades. Quatro estudantes representaram a UnB nos jogos e contribuíram para trazer maior visibilidade aos paraesportes.

 

>> Confira os resultados da competição

 

Dedicação e superação são palavras que definem o percurso dos jovens atletas da UnB antes e durante o campeonato, um dos mais importantes do país na categoria universitária. Gabriel que o diga: para conseguir o melhor tempo nos cem metros peito – foram dois minutos, 13 segundos e 46 centésimos – e a terceira colocação nos cem metros livre, foi preciso ajustar os horários de estudo e de trabalho aos treinos intensos, realizados no Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), na Asa Sul.

 

Como os resultados provam, o sacrifício trouxe grandes recompensas. Agora de olho em outras competições nacionais e internacionais, o graduando sonha com a maior projeção dos esportes adaptados às pessoas com deficiência. “Meu foco é conseguir representar o país, trazer ainda mais medalhas e dar maior visibilidade aos esportes paralímpicos para que o pessoal passe a ter gosto em torcer”, anseia.

 

No atletismo, o estudante de Ciência Política Matheus Pereira Silva, 22 anos, conquistou três medalhas de prata. Em sua primeira participação na competição, o atleta conseguiu superar os recordes das provas de cem, 200 e 400 metros da edição passada, com as marcas de 13, 30 e 29 segundos, respectivamente. “Completar as provas foi um desafio, porque estava lesionado", revela. "Ainda assim, foi muito bom ter ficado em segundo lugar”, comemora. 

Ao lado do guia-atleta Halley Cunha, de quem o estudante Matheus Pereira está junto há sete anos, disputando medalhas no atletismo. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Matheus iniciou a carreira na modalidade aos 13 anos. Poucos anos antes, o rapaz teve descolamento de retina nos dois olhos, devido a uma pancada de bola. O acidente o fez perder totalmente a visão. No esporte, descobriu a possibilidade de superar as limitações.

 

Após dois meses de treino, foi premiado com bronze em sua primeira competição, as Paralimpíadas Escolares. Foi o incentivo necessário para seguir se aperfeiçoando.

 

À época, o panorama das competições de paratletismo era diferente. “O cenário era bem incipiente. Havia poucos competidores, principalmente aqui em Brasília. Na minha classe de atletas – com cegueira total – só tinha eu. Hoje tem mudado bastante, existe mais incentivo”, acredita o estudante.

 

Em 2012, a pedido do antigo técnico, foi direcionado para treinos mais avançados e conheceu o atleta-guia Halley Cunha, com quem compartilha suas vitórias desde então. “Temos uma sincronia. Em todas as provas de pista, ele treina comigo. Fazemos os aquecimentos e os educativos juntos e revezamos os treinos na academia”, compartilha o guia.

 

Com o ingresso de Matheus na UnB, conciliar a rotina de treinos às atividades acadêmicas se tornou desafiador. Apesar de considerar necessário maior apoio e patrocínio para paratletas de alto rendimento, em especial os universitários, ele crê que a tendência é seguir evoluindo com a participação em novas competições.

 

DE OLHO NA SELEÇÃO – Na natação feminina, Sarah Izidoro, estudante de Engenharia na Faculdade do Gama (FGA), foi a quarta colocada nos 50 metros livre e cem metros costas. A Universidade também teve uma representante na bocha, modalidade que consiste no lançamento de bolas de uma plataforma para a quadra, com o intuito de situá-las o mais próximas possível de um alvo, o bolim. A estudante de Direito Milena Silva de Moraes, 20 anos, chegou à quarta colocação nas Paralimpíadas Universitárias, com total de 15 pontos marcados. Essa é a segunda participação dela na competição. 

Milena Silva e a mãe, Jocília da Silva, buscam incentivo para aperfeiçoar desempenho nas próximas competições. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Milena nasceu com paralisia cerebral, problema que afetou por completo a mobilidade de suas pernas e, em parte, dos braços. Conheceu a bocha há seis anos e se apaixonou pelo esporte. “O bocha me completa, faz parte de mim”, declara a jovem.

 

Apesar de não ter subido ao pódio desta vez, a discente coleciona títulos em outros jogos nacionais e se orgulha da chance de competir neste ano com atletas da atual seleção brasileira. Tornar-se um deles é seu maior sonho. Para isso, no entanto, tem encarado alguns desafios. Entre eles, a falta de apoio financeiro e de um treinador.

 

Por enquanto, a estudante tem treinado com a mãe, Jocília da Silva, que também a auxiliou em quadra durante o campeonato universitário em São Paulo. “Eu estudo e, nas horas vagas, tento treinar com ela, mas sinto que não é a mesma coisa. Meu sonho é conseguir um técnico na UnB”, almeja a graduanda.

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