MECATRÔNICA

Divisão de Robótica Inteligente, equipe de competição de robôs da Universidade de Brasília, venceu o Campeonato Latino-Americano e já procura apoio para a Copa do Mundo de Robótica

 

Idealizado pela Divisão de Robótica Inteligente (DROID), um robô nascido da persistência de alunos da graduação representou a Universidade de Brasília em competição internacional. E levou a melhor. O DROID, criado por alunos de graduação da Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Mecatrônica, projetou uma máquina que recebeu, de uma só vez, os títulos de campeão brasileiro e latino-americano de robótica. O evento foi realizado na Universidade de Fortaleza (Unifor) entre os dias 17 e 21 de outubro, dentro da Feira Nacional de Robótica Robotic Trends, e recebeu mais de mil participantes e cerca de três mil visitantes. Os brasilienses se sobressaíram sobre 38 equipes latino-americanas.

 

Todo ano, a Sociedade Latino-Americana de Robótica promove a competição, realizada em espaços alternados – um ano em alguma grande cidade brasileira e o ano seguinte em outra cidade do continente. Quando no Brasil, coincide com o campeonato nacional. O título recebido pelo DROID diz respeito à categoria IEEE Open, reconhecidamente a categoria principal, em que é permitido o uso de materiais – atuador, controlador e sensor - de qualquer natureza. “É a mais aberta, em que toda a criatividade e capacidade de aplicação são necessárias”, afirma Caio Neno Silva Cavalcante, um dos líderes do grupo.

 

Em Fortaleza, a competição, sob abordagem ecológica, teve a sugestiva temática da areia de praia. Nesse ambiente, os concorrentes tiveram que desenvolver mecanismos que permitissem ao robô a autonomia de caminhar desviando de obstáculos e coletando o lixo espalhado. A equipe da UnB, formada por 10 alunos e três alunas, buscou a criação de um robô de 13 kg, cuja estrutura básica é de ferro, alumínio, aço e acrílico – desenhado pelos próprios alunos e de estrutura soldada e montada junto ao prédio de serviços gerais da engenharia mecatrônica. Em cada uma das seis rodas, um motor auxiliava a locomoção, além de outros dois motores de para-brisa, improvisados para a formação da garra e caçamba.

 

O robô montado pelo DROID conta ainda com câmeras frontais e traseiras, bem como um notebook instalado dentro do robô, o que auxiliava o reprocessamento em alto nível dos dados recebidos pela câmera. “Mas o diferencial da nossa equipe era que as outras, embora também levassem câmeras, não traziam a noção de profundidade necessária para melhor performance do robô”, observa Caio Silva. Rodrigo de Lima Carvalho, aluno do 7º semestre de Mecatrônica e há dois anos no DROID, explica: “Usamos câmeras e processamento de imagem, mas nosso diferencial foi o laser usado junto à câmera para melhor reconhecimento do terreno”.

 

APLICABILIDADE - Após um ano de trabalho, a solução encontrada pela equipe foi trabalhar não só com um sensor, comumente usado neste tipo de máquina para receber sinais, mas também um atuador. Este último gera sinais para interferir no mundo, enquanto o sensor apenas recebe. Na prática, um laser horizontal de cor verde refletia sobre os obstáculos e obtinha-se, com isso, uma tripla percepção, em que a ação do sensor e câmera complementavam-se no entendimento dos objetos ao redor. “Ajudamos a complementar a operação, como se dois olhos humanos incidissem sobre um objeto e formando um triângulo de percepção apurada”, resume Caio Silva.

 

Antônio Padilha Lanari Bó, professor de Engenharia Elétrica da UnB, acompanha o trabalho da equipe desde que foi criada e, presente no evento, atestou a qualidade do trabalho. “O que pude ver foi um trabalho muito bem elaborado, em que soluções inventivas foram utilizadas. Nesse tipo de competição, mais do que buscar grandes inovações tecnológicas, é preciso ter uma capacidade de aplicabilidade muito grande do que está à mão”. Ao final da competição, a equipe brasiliense coletou 11 das 20 latinhas espalhadas pela areia, conferindo 108 pontos, 29 a mais que a segunda colocada. É a terceira vez que o grupo participa da competição. Em 2011, ficou em 8º lugar e, em 2010, obteve a 3ª posição.

 

INDEPENDÊNCIA – Criado em 2009, o DROID é filiado à Empresa-Junior de Engenharia Mecatrônica (Mecajun). Perguntado sobre possível participação direta no DROID, Antônio Padilha desconversa. “Na verdade, esse grupo de alunos tem uma independência muito grande, o que inclusive é incentivado pelo departamento. Nós da UnB damos um apoio, digamos, institucional. Porém, quem põe a mão na massa, em processo de tentativa e erro, são eles”.

 

A independência, contudo, custou caro aos alunos. Literalmente. O projeto do robô, que incluía compra de material importado do Canadá e China, custou R$ 3 mil aos alunos, custo que eles bancaram sozinhos. A UnB, através da Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA/DAC), custeou 40% das passagens para Fortaleza. “A UnB tem nos dado incentivo, mas ainda indireto. Em geral, recebemos apoio logístico da Mecajun e mantemos boa relação com nosso Centro Acadêmico, que ajuda como pode”, disse Caio Silva. “Em Fortaleza, vimos equipes mais bem estruturadas e apoiadas”, acrescenta Rodrigo de Lima.

 

Atualmente, o grupo busca apoio do setor privado para seguir competindo. A meta é já trabalhar para o próximo campeonato latino-americano e, quem sabe, chegar à próxima Copa do Mundo de Robótica (Robocup), programada para julho de 2013, na Holanda. “Todos estão investindo nisso agora, é um momento muito bom para o Brasil em matéria de tecnologia. Dessa forma, é vital que esses alunos obtenham apoio agora, para ganhar experiência na Holanda e chegar bem em 2014”, afirma Antônio Padilha, pontuando que em 2014 a competição será em João Pessoa, na Paraíba. “As competições se solidificaram pelo mundo, como meio de desenvolvimento a partir de soluções-problema reais. Além disso, diz respeito à robótica educacional, de inserção de estudantes, motivados pelo uso de novas ferramentas em desafios estimulantes”, conclui o professor.

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