HOMENAGEM

Indiano atuou por mais de 33 anos no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília

Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Polêmico, impaciente e de fala enrolada e rápida, mas muito capacitado, dedicado ao ensino e à formação prática dos alunos, além de preocupado com o bem-estar de todos que o rodeavam. Essas foram algumas das características recordadas na última sexta-feira (11) por docentes do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília (UnB) que homenagearam Mundayatan Haridasan com a outorga do título de Professor Emérito. Foram mais de 33 anos de trabalho na UnB, aonde chegou em 1980.

 

"É, para mim, uma grande alegria e emoção ter sido escolhido para realizar a saudação ao professor Mundayatan Harisan, de quem fui inicialmente aluno, posteriormente colega de Instituto e, na pós-graduação em Ecologia, colaborador em vários projetos de pesquisa, coautor em diversas publicações. E me tornei seu amigo, pois compartilhamos ao longo desses anos muitas alegrias, momentos difíceis e também de emoção", disse o colega Augusto Cesar Franco.

 

"O seu lado humano, seu entusiasmo pela academia, sua atuação como mentor e incentivador de um grande número de alunos de graduação e pós-graduação lhe renderam o respeito e a admiração entre os pares. Aspecto destacado em todas as cartas que fazem parte do processo de outorga do título de Professor Emérito", completou Franco.

 

Formado engenheiro agrônomo pela Universidade de Kerala, na Índia, em 1965, Haridasan obteve o mestrado em Ciências do Solo pelo Indian Agricultural Research Institute em Nova Delhi, e doutorado em Agronomia (Física do Solo) pela Mississippi State University, no Estados Unidos. Realizou pós-doutorado por essa mesma instituição e voltou à Índia, onde trabalhou em renomados institutos de pesquisa até 1979. No ano seguinte, mudou-se para o Brasil para trabalhar na Universidade de Brasília – onde ficou até sua aposentadoria, em 2013.

 

Na UnB, Mundayatan Haridasan fez parte do grupo inicial de professores estrangeiros contratados, entre 1976 e 1982, para implementar e consolidar a pós-graduação em Ecologia. Ao longo dos anos, cumpriu quatro mandatos completos como Chefe de Departamento e exerceu o cargo de Diretor do IB, sem deixar de ensinar em sala de aula. "Um dos fatos da sua carreira, de que mais se orgulha, foi que a criação do Doutorado em Ecologia ocorreu na sua gestão", revela Augusto Cesar Franco. "Mesmo nessa função, manteve sua atividade de pesquisa e ensino na graduação e na pós-graduação, e de orientação de estudantes. Foi, sem dúvida, um excelente gestor; mas, em primeiro lugar, um professor dedicado e atuante na graduação e na pós-graduação."

 

O homenageado demonstrou toda a sua simplicidade e gratidão ao iniciar sua fala. "Eu não tenho muita certeza de que mereço todo o elogio que meu amigo professor Augusto fez. Eu aceito essa honra, com toda a humildade, como uma manifestação de carinho dos meus colegas do Instituto, onde eu dediquei a maior parte da minha vida profissional: mais de 33 anos. Eu tenho certeza de que vivi num ambiente maravilhoso de trabalho e de convivência nesse tempo todo. Eu tive muita sorte", declarou Mundayatan Haridasan.

Mundayatan Haridasan discursou durante a homenagem. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

O emérito da UnB relembrou diversas experiências vividas ao lado dos colegas nesses anos de carreira universitária e exclamou: "Quem não gostaria de fazer parte de uma equipe dessas? Eu nunca desejei nada melhor para mim. Meus parabéns e agradecimentos aos colegas docentes e outros funcionários que compartilharam essa felicidade comigo!"

 

Especialista em solos tropicais e em interações solo-planta, Haridasan teve formação sólida em manejo e conservação de solos e nutrição mineral de plantas. E faz questão de compartilhar essas conquistas com seus colaboradores de pesquisa. "Agradeço o carinho de todos os que trabalharam comigo nas suas pesquisas para sua formação, mestrado ou doutorado, e pesquisadores de outras entidades, aqui no Brasil e no exterior. Sem a ajuda de vocês, eu não teria alcançado o sucesso no meu conhecimento de cerrado e de outras vegetações do Brasil. Em muitos casos, meus alunos eram meus orientadores nos trabalhos de campo", afirmou.

 

A vice-reitora da UnB, Sônia Báo, que também é professora titular no Instituto de Ciências Biológicas, foi categórica. "O senhor é merecedor dessa homenagem sim", assegurou. "O que eu falei durante a sessão do Conselho Universitário [que aprovou a outorga do título de Emérito] foi que eu considero o professor Haridasan a pessoa que mais estudou e que mais produziu conhecimento sobre as questões do solo dessa área do cerrado. Obrigada por ter ficado no Brasil e na Universidade de Brasília."

 

O reitor, Ivan Camargo, ressaltou que a Universidade precisa de pessoas como Mundayatan Haridasan, que polemizam e pensam de maneira diferente da maioria. E desabafou sobre as dificuldades enfrentadas hoje para trazer professores estrangeiros para o quadro permanente da instituição. "Alguns anos atrás, nós, da UnB, podíamos ir buscar lá na Índia, ou onde fosse, um craque para trabalhar aqui. Hoje está proibido. Podemos apenas ligar e convidar o professor para vir fazer um concurso público. É uma restrição que temos que combater", disse.

 

"Temos que conseguir trazer professores estrangeiros de referência, senão vamos ficar cada vez mais engessados e na mesmice, o que não pode acontecer na Universidade," concluiu Camargo.

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