O título de pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) está entre os grandes reconhecimentos que um cientista pode receber em sua carreira. E é justamente essa a conquista mais recente do professor emérito da Universidade de Brasília Nagib Nassar, do Departamento de Genética e Morfologia (GEM/IB). A edição 2018 do prêmio, concedido anualmente pela agência de fomento, contempla a relevância científica dos trabalhos do docente, voltados ao melhoramento genético de plantas, com enfoque na cultura da mandioca.
PhD em Genética pela Alexandria University, no Egito, Nagib é professor da UnB desde 1980. O título do CNPq reconhece ainda seus esforços na formação de gerações de profissionais nas áreas de Agronomia e Biologia. “Me senti honrado, porque estou levando o nome da UnB para fora”, se alegra.
Aposentado da Universidade desde 2008, Nagib não parou de lecionar: continua replicando seus conhecimentos em sala de aula e desenvolvendo pesquisas. Aos 80 anos, ele considera o novo prêmio uma motivação para continuar dando sequência à trajetória acadêmica. “Fiquei muito grato. É um incentivo para que eu possa trabalhar até o último dia da minha vida”, declara.
TRAJETÓRIA – Natural da cidade egípcia de Assiut, o pesquisador veio para o Brasil em 1974, a convite do Ministério das Relações Exteriores, por meio de acordo bilateral para intercâmbio de pesquisadores. À época professor da Universidade do Cairo, Nagib ministrava aulas sobre culturas tropicais. Naqueles tempos, uma espécie vegetal já chamava sua atenção: a mandioca, base da alimentação de diversos povos africanos.
“Havia uma crise de grande seca na África e muitas pessoas morriam por falta de comida. Queríamos melhorar a produção da mandioca nos países africanos e desenvolver variedades resistentes à seca”, conta o pesquisador. País de origem da planta, o Brasil se mostrava um local promissor para os estudos, o que motivou a vinda de Nagib. Encantado pelas terras brasileiras, decidiu tornar a passagem permanente.
Desde então, tem dedicado suas pesquisas e atividades de ensino às áreas de botânica e melhoramento genético de plantas a partir da conservação de espécies silvestres e métodos para novos desenvolvimentos. Em um de seus estudos, ainda nas décadas de 1970 e 1980, criou um híbrido de mandioca posteriormente disponibilizado a agricultores do oeste africano para uso em suas plantações. A inovação foi apoiada pelo Centro Internacional de Desenvolvimento de Pesquisas (IDRC), no Canadá, e depois pelo CNPq.
Nagib Nassar também foi responsável por lançar o primeiro híbrido da espécie com o dobro de proteínas – descoberta que hoje pode ser conferida em culturas de diversos estados brasileiros. Recentemente, o pesquisador criou uma variedade de mandioca que rende até 8 vezes mais do que as espécies comuns, chegando a atingir de 20 a 24 kg por planta.
Um de seus trabalhos foi premiado pela Fundação Kuwait para Avanço das Ciências em 2014. Com os recursos, o cientista criou sua própria fundação, destinada ao apoio de jovens pesquisadores brasileiros e de países africanos interessados em estudos da cultura da mandioca.
HONRARIA – Desde 2005, o CNPq agracia com o título de pesquisador emérito brasileiros ou estrangeiros radicados no país há pelo menos dez anos cujas obras científico-tecnológicas tenham se destacado entre a comunidade especializada e trazido relevantes contribuições para o país.
Neste ano, a outorga ocorreu no dia 9 de maio, no Rio de Janeiro, juntamente ao Prêmio Almirante Álvaro Alberto. Entre os nove homenageados como pesquisador emérito, esteve o médico e professor Carlos Medicis Morel. O docente atuou na UnB entre 1968 e 1978, na faculdade de Medicina e no instituto de Ciências Biológicas. Foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular (1974-1976) e desenvolveu pesquisas em bioquímica e biologia molecular de tripanosomatídeos – tipo de protozoário parasita de insetos.