“Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas.” Foi citando o poeta Mário Quintana que Estevão Chaves de Rezende Martins recebeu o título de Professor Emérito da Universidade de Brasília nesta terça-feira (11). A cerimônia aconteceu no auditório da Reitoria, campus Darcy Ribeiro. A entrega da condecoração foi aprovada por aclamação na 452ª reunião do Consuni, em agosto deste ano.
Natural do Rio de Janeiro, Estevão Martins ingressou na UnB como professor em 1977 e se aposentou em julho de 2017. Com formação em Filosofia na extinta Faculdade de Ciências e Letras Nossa Senhora Medianeira, em São Paulo, ele cogitou se dedicar ao sacerdócio, mudando-se para a Áustria em 1971, onde frequentou os cursos de Teologia e Filosofia na Universidade de Innsbruck. Concluiu o doutorado na Universidade de Munique, em 1973.
Ao longo de quarenta anos na UnB, o professor participou de diferentes departamentos que agrupavam História e Filosofia do Instituto de Ciências Humanas (IH), tendo atuado ainda no Instituto de Relações Internacionais (Irel). Entre 2007 e 2011, foi diretor do IH. Ele também ocupou posições importantes em instâncias do governo e no meio acadêmico nacional e internacional.
“É um momento de júbilo e ansiedade pelo longo percurso de conceber, praticar e aprofundar o mister de aprender e ensinar”, exaltou o homenageado, que atualmente dedica-se ao Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS) como pesquisador colaborador sênior. Além de expressar gratidão à UnB, Estevão fez questão de sublinhar a presença de amigos, docentes, servidores técnico-administrativos, alunos e da família à solenidade.
A homenagem ao docente contou com a organização de uma comitiva especial, formada pelo professor emérito Amado Cervo, pelo diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS), Luis Cardoso, pelo docente aposentado Nelson Gomes, pelo professor Arthur Assis, pela secretária do IH, Leila Santos, e pela ex-aluna Walkiria Silva.
A mesa da solenidade foi composta pelo diretor do IH, Perci Coelho de Souza, e pela reitora Márcia Abrahão, que entregou o diploma e a insígnia ao novo emérito. “Este é o reconhecimento de uma árdua trajetória acadêmica e administrativa. Trata-se de valorizar o que a Universidade tem de melhor, que são seus professores”, destacou.
“Tive a oportunidade de conviver com o professor nos conselhos institucionais e ele sempre foi muito cuidadoso e respeitoso, desenvolvendo pareceres com fundamentação consistente”, elogiou a reitora. Ela também afirmou que a atuação de Estevão em diversas unidades da UnB é uma demonstração concreta de multidisciplinaridade.
Com auditório lotado, o evento contou, ainda, com a presença de representantes da Universidade, como a decana Maria Lucília Santos, do DAF, e de outras instituições, como Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre Gusmão do Ministério das Relações Exteriores.
INTERFACES – Com interesse inicialmente focado nas obras do filósofo alemão Immanuel Kant, Estevão Martins realizou cinco pós-doutorados no continente europeu. “Ao longo dos anos 1980, ele foi gradualmente acrescentando à competência de historiador das ideias a de teoria da historiografia”, informou o professor Arthur Assis, orador da cerimônia.
Na opinião do colega, a maior parte da obra do homenageado – que reúne mais de 200 itens bibliográficos – pode ser agrupada em três eixos principais: “o da história da filosofia setecentista; o da teoria, metodologia e didática da história; e o da análise histórica e teórica de configurações políticas, instituições parlamentares e relações internacionais”.
“Só tenho a agradecer à generosidade intelectual do professor Estevão, que foi fundamental na minha formação”, destacou Walkiria, que concluiu o doutorado em História em agosto de 2018. Estudando teoria da história alemã, ela integra os mais de 70 mestres e doutores que já foram orientados pelo emérito.
O professor Estevão salientou que não poderia ter sido melhor a ocasião para receber a honraria, um dia após a celebração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
“O ser humano deve ser considerado um fim em si mesmo. Ter consciência desse imperativo é um requisito moral inefável”, assegurou.