O trabalho Conexões e controvérsias no Incra de Marabá: o Estado como um ator heterogêneo venceu o prêmio Anpocs de melhor tese em Ciências Sociais neste ano. De autoria da bacharel em Relações Internacionais e mestre em Ciência Política Camila Penna, a tese foi defendida no programa de pós-graduação em Sociologia da UnB sob orientação do professor Marcelo Rosa.
Estudando a relação entre movimentos sociais e políticas públicas desde o mestrado, a pesquisadora optou por investigar o tema da luta pela reforma agrária "de dentro do Estado".
Para isso, ela passou 9 meses no Incra de Marabá, no sul do Pará, região marcada por fortes conflitos de terra. "Fundado na década de 70, o Incra é um órgão extremamente importante para a política de terras no Brasil", diz. “Segunda maior autarquia do país, ele possui cerca de 6 mil servidores”, conta.
A autora explica o motivo que a levou a decidir pela pesquisa etnográfica em uma superintendência do Incra. "Queria conhecer a relação entre movimentos sociais e Estado, bem como os efeitos dessa interação nas políticas públicas que visam a reforma agrária."
De acordo com Penna, esta é a primeira pesquisa de fôlego em que o Incra é objeto de análise.
"Trata-se de uma tese sobre o mundo rural, com foco no estado do Pará, fora do eixo centro-sul, e que trata do cotidiano de trabalho dos servidores do Incra, frequentemente negligenciados na própria estrutura do Estado brasileiro", explica a autora. Como indicativo disso, ela cita os baixos salários e a sucessiva redução de recursos destinados ao órgão.
"Entre outubro de 2011 e junho de 2012, período em que desenvolvia a pesquisa, houve um corte de 20% no orçamento", lembra.
Concedido todos os anos pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), o prêmio é o mais importante na área. "Recebê-lo foi uma grande honra", diz a autora. "O significado é ainda maior, pois a tese foi pensada e construída a partir das discussões no Laboratório de Sociologia Não Exemplar da UnB", ressalta.
Coordenado pelo professor Marcelo Rosa, o grupo busca contribuir para a construção de uma epistemologia nas Ciências Sociais que consiga apreender a realidade dos países na periferia do sistema capitalista. "Sem tomá-los como desvios em relação ao ocidente desenvolvido, geralmente considerado modelo", diz Penna.
"A não inserção dos trabalhos do grupo no mainstream das Ciências Sociais faz com que o prêmio se torne ainda mais significativo", avalia a autora.
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