COMPUTAÇÃO

Após anos de dedicação, estudantes se destacam entre equipes brasileiras e representarão Universidade em nível internacional

 

Trio de estudantes (ao centro) irá representar a Universidade no mundial de 2019, em Portugal. Apoio de docentes (nas laterais) foi essencial para alcançar classificação. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Cinco horas de ansiedade, pressão e muita adrenalina. Em frente a um computador, estudantes encaram o desafio de transformar soluções para problemas do dia a dia em códigos de programação, no menor tempo possível. O ambiente reflete o clima de competição vivenciado por três alunos da UnB durante a final brasileira da Maratona de Programação, realizada em novembro, em Salvador.

 

Rafael Chehab, do curso de Engenharia da Computação, José Marcos Leite e Luis Gebrim, ambos de Ciências da Computação, formam a equipe que obteve a quarta colocação na prova. A classificação garantiu a participação inédita da UnB na fase mundial da competição, a International Collegiate Programming Contest (ICPC). A etapa ocorrerá de 31 de março a 5 de abril de 2019, na cidade do Porto, em Portugal. Além da UnB, outras cinco equipes nacionais foram selecionadas.

 

O time da Universidade de Brasília conseguiu resolver nove dos treze problemas aplicados nesta edição. Seis questões foram submetidas logo na primeira hora de prova, fator determinante para o resultado final. A primeira colocada venceu por apenas uma questão de vantagem. “É um esforço que temos feito há muito tempo para conseguir, pela primeira vez, fazer tudo dar certo. Valeu a pena”, diz Rafael Chehab, contente com o resultado.

 

Para driblar o nervosismo, o trio resolveu entrar na disputa em clima descontraído. A própria concepção do nome da equipe evidencia isso: UnB – 100% é pouco, pagode importa demais. “Os grupos de pagode geralmente têm uns nomes legais”, brinca José Marcos sobre a escolha, uma alusão a três grupos do gênero musical.

 

Apesar de não terem muita afinidade com esse tipo de música, eles garantem que o ritmo estará na ponta da língua em caso de vitória na competição internacional. As expectativas para a estreia fora de casa são altas. “No mundial, além de ser difícil criar as soluções, é complicado implementá-las. Mas, com um treino intensificado, pretendemos ao menos chegar perto de ganhar o primeiro lugar na América Latina”, projeta Luis Gebrim. 

 

No Brasil, a maratona é promovida pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e explora criatividade, raciocínio lógico, habilidade de programação e capacidade de trabalho em equipe. Os grupos, formados por três estudantes universitários – de graduação ou de pós-graduação –, têm cinco horas para propor soluções para diversas questões, de diferentes níveis de complexidade.

 

De acordo com o contexto proposto, os participantes devem descobrir qual a aplicação computacional para se chegar a uma resposta eficiente. Os exercícios envolvem a execução de tarefas cotidianas, que podem ser descritas por meio de algoritmos de programação, como o planejamento de rotas para se chegar mais rápido a determinado destino.

 

À disposição, os grupos têm computadores para desenvolver as programações e materiais impressos para consulta. A cada submissão incorreta, há uma penalização de vinte minutos para a equipe, que no final conta como critério de desempate. Vence aquela que conseguir resolver corretamente o maior número de problemas e tiver menos penalidades acumuladas.

Durante a prova, balões indicam os acertos das equipes para cada questão. Foto: Arquivo pessoal

 

APRENDIZADO – Os esforços para alcançar o almejado sonho de ir ao mundial foram grandes. Antes de enfrentar as 70 melhores equipes brasileiras e as 405 mais bem colocadas da América do Sul, o trio colocou seus conhecimentos à prova em outras duas seletivas – uma entre alunos da UnB e outra de caráter regional.

 

Além da determinação, foram necessárias muitas horas de dedicação aos estudos. Desde março deste ano, os estudantes reservam cinco horas de cada sábado para revisar exercícios aplicados em provas anteriores, nacionais e internacionais.

 

A experiência adquirida como competidores foi outro fator favorável para o bom resultado. Rafael Chehab, 19 anos, e José Marcos Leite, 22, participam da maratona desde 2015; já Luis Gebrim, 20, passou a integrar o time em 2016. Eles consideram a prática essencial para melhorar o desempenho e conquistar melhores colocações.

 

“A programação competitiva é uma área grande, com problemas e soluções diferentes do que vemos normalmente em sala de aula. Isso faz com que seja necessária bastante prática e estudo constante para aprender novas coisas”, destaca Rafael. Um indicativo de como a união entre aprendizado e sua aplicação funcionam está na evolução da UnB nas últimas edições. Em 2015, a instituição finalizou a etapa nacional em 45º lugar; em 2017, chegou à 16ª posição.

 

Para incentivar discentes de áreas afins a desenvolverem habilidades necessárias a maratonas, o atual técnico da equipe, professor Vinícius Borges, do Departamento de Ciências da Computação (CIC), ministra a disciplina Programação Competitiva. A atividade também contribui para aprimorar metodologias de aprendizado em classe.

 

“Treinamos o aluno para identificar o algoritmo a ser utilizado na resolução do problema e a complexidade desse algoritmo, além de mostrarmos os tópicos mais cobrados nessas maratonas”, explica o docente. É em sala de aula que o professor observa potenciais talentos para renovação da equipe.

 

Além da oportunidade única de estarem entre as melhores equipes universitárias do mundo no domínio da programação, o professor do CIC Guilherme Novaes Ramos considera a experiência importante para o desempenho acadêmico dos estudantes. O docente treinou o time da UnB de 2012 a 2017.

 

“A programação é basicamente uma habilidade. Imagina estudá-la cinco horas por semana durante alguns anos? Por isso os estudantes se desenvolveram bastante. Quando veem a teoria – o que costumamos focar bastante nas aulas –, eles têm esse complemento prático para absorver muito melhor o conteúdo e aplicar”, garante.

 

OPORTUNIDADES – Além do aprendizado adquirido, o estudante José Marcos Leite enxerga no resultado outras perspectivas para alavancar sua carreira profissional. “Nas grandes empresas, as entrevistas de emprego geralmente seguem o formato de resolver um problema, no estilo da maratona. Nessa parte de entrevista, na qual muita gente tem dificuldade, conseguimos ir relativamente bem”, observa.

 

A projeção internacional também favorece o contato profissional com multinacionais do ramo. Segundo o professor Guilherme Novaes, não são poucos os casos de grandes empresas patrocinadoras da competição que captam ali potenciais profissionais para atuarem no mercado.

 

“Esse é o principal palco para a atividade deles. Está todo mundo de olho. Esses meninos, com certeza, sairão de lá com um emprego garantido", vislumbra. "Possivelmente, vão poder escolher onde trabalhar”, acrescenta.

 

Os alunos já iniciaram a preparação para próxima etapa. Além dos estudos regulares, eles foram convidados pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a participar de um treinamento com ex-maratonistas e treinadores de equipes vencedoras do mundial. A atividade ocorre de 21 de janeiro a 2 de fevereiro, em Campinas, São Paulo.

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