GRADUAÇÃO

Realização de vestibular para licenciaturas e estímulo a atividades acadêmicas com uso de tecnologias são ferramentas para alavancar formação pela modalidade

Oferta de cursos EaD na Universidade de Brasília é a mais expressiva nos últimos seis anos. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O avanço no uso de tecnologias na educação e as demandas por novas metodologias de aprendizagem têm colocado o ensino superior brasileiro diante de uma nova realidade. Instituições de ensino têm focado em estratégias diferenciadas de formação, com a oferta do ensino a distância (EaD). Dados do último Censo da Educação Superior mostram que, em 2018, o número de cursos da categoria nas universidades brasileiras cresceu 50,7% com relação ao ano anterior. Pela primeira vez, a oferta de vagas ultrapassou a das graduações presenciais, alcançando 7,17 milhões contra 6,3 milhões.

 

Pioneira na modalidade, a Universidade de Brasília acompanha a tendência de crescimento. Em 2019, retomou a oferta do vestibular para licenciaturas a distância, cujas provas aconteceram no último domingo (20), em dez cidades: Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Cuiabá (MT),  Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Rio Branco (AC), São Paulo (SP) e Vitória (ES).

 

Considerada internamente um caso de sucesso, a seleção contabilizou 13.251 inscrições para 1.300 vagas. Os candidatos concorrem a oportunidades de ingresso em oito graduações nas áreas de Geografia, Letras-Português, Pedagogia, Artes Visuais e Física, Educação Física, Teatro, Música – os três últimos considerados cursos inovadores na modalidade EaD. 

 

Esta edição do certame trouxe novidades. Além de ampliar o número de graduações disponibilizadas em relação a última seleção em 2017, o processo passou a ser feito por vestibular presencial. Cursos nas áreas das artes terão prova a distância para Certificação de Habilidade Específica. Vagas remanescentes serão redistribuídas com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

 

Coordenador da Universidade Aberta do Brasil (UAB) na UnB, Marcello Ferreira destaca que, em 2019, a procura pelo processo seletivo teve grande salto, ultrapassando até mesmo a demanda por alguns cursos presenciais da instituição. Ele acredita que a repercussão é fruto do amplo trabalho de divulgação nos 29 polos presenciais em nove estados do país, além do Distrito Federal, onde parte das atividades dos cursos é ministrada.

Marcello Ferreira ressalta qualidade dos cursos a distância da Universidade. Foto: Cead/UnB

 

“Foi um sucesso absoluto. Fizemos divulgação direcionada do vestibular com a participação da administração superior da UnB e das prefeituras, entidades e instituições dos municípios onde estão os polos.” O gestor lembra ainda que, há ao menos seis anos, a instituição não tinha oferta tão expressiva de cursos e vagas. Ele frisa o trabalho estratégico para abertura do processo seletivo.

 

“Os cursos EaD têm perspectiva de atingir o sujeito que não estuda há alguns anos, tem dificuldade com as tecnologias e está afastado dos grandes centros urbanos. Fizemos escolhas estratégicas dos cursos, vagas e polos a serem ofertados. Além disso, ao realizar o vestibular, estamos privilegiando as vocações e demandas locais”, aponta. 

 

PROGRESSO – Para o coordenador da UAB na UnB, a instituição tem se destacado cada vez mais na promoção e qualificação do ensino a distância como instrumento para aprimorar a formação superior. “Ofertamos cursos em áreas do conhecimento muito diversas e temos um compromisso grande com o desenvolvimento nacional e regional. Nossos cursos têm qualidade social e são reconhecidos externamente, alguns com nota 4 e 5 na avaliação da Capes”, ressalta.

 

Um dos diferenciais para alavancar a área tem sido a atuação do Centro de Educação a Distância (Cead). A unidade viabiliza as ações educativas e formula políticas institucionais em articulação com o sistema UAB, responsável por fomentar a modalidade na educação superior pública. Entre as iniciativas do Cead, está o programa Aprendizagem para o Terceiro Milênio (A3M), que visa identificar, promover e valorizar metodologias educativas inovadoras no ambiente acadêmico.

 

O decano de Ensino de Graduação (DEG), Sérgio de Freitas, acredita que a UnB tem evoluído consideravelmente nesse quesito, ao estimular a adoção de novas tecnologias em sala de aula, além de aprimorar suas plataformas e adquirir novos recursos informacionais. “O perfil de aprendizagem dos jovens é de alguém que está naturalmente imerso nas tecnologias e as usa para aprender. As novas metodologias têm que incorporar isso”, afirma.

 

Ações de planejamento estratégico e de institucionalização da modalidade também têm sido prioritárias para aperfeiçoar as atividades na área. Nesse sentido, um dos focos de atuação tem sido a convergência entre cursos presenciais e a distância, tendo em vista a crescente inclusão de novas tecnologias na formação acadêmica.

 

“O que compreendemos hoje é que EaD e presencial são formas de fazer o que é a missão da instituição: promover a formação. A tendência no mundo é ocorrer uma hibridização, porque recentemente vemos forte integração da tecnologias na educação”, alega Marcello Ferreira.

 

Avanços no quesito estão em curso com o trâmite de uma proposta para ocupação de até 40% da carga horária de cursos presenciais com atividades a distância, o que já é permitido por lei. Outra prioridade é melhorar a oferta de serviços a graduandos de cursos a distância, equiparando o acesso ao de estudantes das graduações presenciais.

 

PANORAMA Apesar da evolução da modalidade em todo o país, Marcello Ferreira observa que, hoje, grande parte das graduações EaD estão concentradas em instituições privadas: cinco delas possuem mais de 50% das matrículas em cursos na modalidade. Em 2018, 99 universidades públicas e 244 privadas dispunham de ensino a distância na graduação.

 

Mesmo que a diferença entre o número de instituições ofertantes nas duas categorias seja pequena, as particulares são responsáveis por pouco mais de sete milhões de vagas, enquanto as públicas detém 113,1 mil. Um dos fatores para entender o cenário é o custo reduzido dos cursos em relação aos presenciais, o que gera maior interesse de investimento.

Gráficos adaptados de divulgação do Censo da Educação Superior. Arte: Francisco George/Secom UnB

 

Entretanto, o docente também acredita que essa diferença é consequência das diretrizes estabelecidas em 2016 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para a oferta de cursos na modalidade a distância. “Essa resolução trouxe uma definição importante para aspectos que estavam nebulosos na legislação sobre o assunto. Isso, de alguma forma, ajudou a iniciativa privada a configurar, com maior definição, seus projetos institucionais, o que culminou no crescimento do ensino a distância nessas instituições”, afirma. 

 

Por outro lado, a reestruturação no sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) impôs recentemente algumas limitações à expansão da oferta em instituições públicas. Criada em 2005 e gerenciada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a política tem como foco a interiorização dos cursos a distância, com criação de polos em localidades estratégicas e apoio a pesquisas em metodologias inovadoras voltadas às tecnologias da informação e comunicação. A UnB integra a UAB desde 2007.

 

Segundo Ferreira, em um primeiro momento, o sistema contribuiu para o avanço da modalidade nas universidades públicas, com o incentivo à criação de cursos de graduação, pós-graduação e extensão em diversas áreas do conhecimento. No entanto, após a mais recente crise econômica no país, a reformulação das estratégias de fomento e a redução de recursos para as instituições impactaram negativamente a continuidade da oferta.

 

“O sistema passou a realinhar suas prioridades estratégicas, o que significou a preferência por cursos de licenciatura e por determinadas áreas do conhecimento, principalmente ciências exatas e língua portuguesa, além da priorização de certos tipos de polo”, esclarece.

 

O coordenador da UAB na UnB enfatiza que a atual definição do modelo de trabalho com a modalidade limita a atuação das instituições públicas com qualidade. “Isso mostra um alto grau de indução da política, redução dos recursos e da autonomia das instituições. Antes, podíamos escolher as modalidades de oferta e as áreas de conhecimento prioritárias”, critica.

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.