PARCERIA

Objetivo é fortalecer estudos interdisciplinares na área de meio ambiente, clima e doenças vetoriais. Iniciativa tem foco em contextos transfronteiriços

 


Lançamento do Laboratório Misto Internacional reuniu autoridades, pesquisadores e estudantes no auditório da Finatec. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

As doenças transmitidas por vetores ainda são um grande desafio para a saúde pública de países em desenvolvimento. A malária no Brasil, por exemplo, cresceu drasticamente, de 174.522 casos, entre janeiro e novembro de 2016, para 231.212, no mesmo período em 2017. Os dados são da Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO) e representam um aumento de quase 50%. Grande parte dessas enfermidades é causada por fatores relacionados ao meio ambiente. 

 

Para monitorar essas doenças e os processos ambientais, climáticos e demográficos associados, a Universidade de Brasília é uma das instituições que coordenam o Laboratório Misto Internacional (LMI-Sentinela), ao lado da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD). 

 

Lançado nesta terça-feira (25), no auditório da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) da UnB, o LMI foi criado com o objetivo de criar sítios sentinelas em regiões de fronteira para estudo da malária e arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti.

 

“Essas áreas concentram população vulnerável e representam obstáculos para a vigilância em saúde das doenças vetoriais”, afirmou o pesquisador da Fiocruz Christovam Barcellos, um dos coordenadores do LMI, juntamente com Emmanuel Roux, representando o IRD, e Helen Gurgel, professora da UnB.

 

Os observatórios transfronteiriços do meio ambiente, clima e doenças vetoriais, como o LMI, visam contribuir efetivamente para o controle ou eliminação dessas enfermidades em um contexto de mudanças locais e globais. “A iniciativa é inovadora porque, para além da pesquisa, busca incentivar as políticas públicas brasileiras a focar em regiões e populações marginais”, destacou Helen Gurgel, docente da pós-graduação em Geografia.

 

Três áreas serão monitoradas: fronteira entre a Guiana Francesa e o Amapá; ponto de interseção entre a Colômbia, o Peru e o Amazonas; e a divisa entre o Distrito Federal e os estados de Goiás e Minas Gerais. A pesquisadora da UnB explicou que o DF foi contemplado porque concentra grande fluxo de pessoas e vetores. “Por não possuir municípios e ter uma configuração diferenciada dos demais entes da unidade federativa, esse território tem suas especificidades devido a sua posição estratégica”, justificou.

 

FORMAÇÃO – Outra vertente do projeto é a qualificação profissional, a partir do fortalecimento de capacitações. A parceria possibilitará a coorientação de estudantes de graduação e de pós-graduação, bem como a mobilidade de pesquisadores de instituições brasileiras e francesas. 

Christovam Barcellos (Fiocruz), Emmanuel Roux (IRD) e Helen Gurgel (UnB) apresentaram proposta do LMI durante lançamento do laboratório. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

O LMI contribuirá ainda para o desenvolvimento de programas de ensino sobre as temáticas do meio ambiente, clima e doenças vetoriais, dentro dos currículos atuais, ampliando as oportunidades de formação. “Também está prevista a oferta de treinamento e capacitação para gestores e agentes locais de endemias”, disse Emmanuel Roux.

 

Com relação à equipe que integra a rede sentinela, são 15 membros permanentes, sendo oito brasileiros e sete franceses. Também estão envolvidos dez pesquisadores associados, além de 15 integrantes temporários, entre mestrandos, doutorandos, pós-doutores e analistas.

 

Para o levantamento de dados de saúde, o laboratório misto internacional conta com uma série de instituições parceiras, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o Instituto Pasteur, a Agência Regional de Saúde da Guiana Francesa (ARS), a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), a Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá (SVS-AP), o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), a Universidade Federal do Amapá (Unifap) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF).

 

TRAJETÓRIA – O Laboratório Misto Internacional é um dispositivo do IRD criado para formalizar projetos de pesquisa, treinamento e inovação entre pesquisadores do instituto francês e seus colaboradores internacionais. Com orçamento anual de 40 mil euros, o LMI-Sentinela foi inicialmente instituído por um período de dois anos, podendo ser prorrogado por até oito anos.

 

Essa é a primeira vez que um LMI é coordenado por três instituições diferentes. “É uma iniciativa complexa, que envolve uma estratégia ambiciosa”, indicou Helen Gurgel, pontuando que a relação entre os parceiros já existe há muitos anos. “Com esse lançamento, estamos dando visibilidade ao que já vem sendo feito.”

 

Em 2009, teve início o Observatório brasileiro Clima e Saúde (OC&S) na Fiocruz e, no âmbito da UnB, foi fortalecida a abordagem geográfica integrada, a partir do Observatório das Mudanças Ambientais (OCE). Quatro anos depois, foi criado o Laboratório Geografia, Ambiente e Saúde (Lagas), vinculado ao Departamento de Geografia da UnB.

 

Ação recente que contribuiu para fortalecer a temática e as conexões com o OC&S, o projeto Jovem Equipe Associado ao IRD Jeai-GITES (Gestão, Indicador e Território em Ambiente e Saúde no Brasil) foi instituído em 2016.

 

Além da coordenação integrada, o Laboratório conta também com dois comitês: o de Pilotage (CoPil) e o de Monitoramento Técnico e Científico (CMTC). O CoPil tem a função de planejar as ações, validar as despesas e definir a agenda de reuniões do CMTC, o qual, por sua vez, aconselha sobre questões científicas.

 

PROJEÇÃO INTERNACIONAL – Durante a mesa de abertura do evento, as autoridades convidadas mencionaram a importância do Laboratório para fortalecer a internacionalização das instituições que dele participam. “Esse projeto já nasce com grande potencial de contribuição e crescimento, devido à excelência internacional dos atores nele envolvidos”, avaliou a decana de Pós-Graduação (DPG), Helena Shimizu. 

Cláudia Amorim (DPI/UnB), Helena Shimizu (DPG/UnB), Olivier Giron (Embaixada da França) e Marie Pierre Ledru (IRD) na mesa de abertura da solenidade. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Considerando o aspecto internacional como um meio e não como um fim, a decana de Pesquisa e Inovação (DPI) em exercício, Cláudia Amorim, reforçou que o desafio é trazer a complexidade dos temas atuais, algo que, em sua opinião, só é possível a partir da transversalidade. “O DPI está realizando o mapeamento dos laboratórios que podem dar suporte às pesquisas da rede sentinela”, informou.

 

A integração acadêmica entre a França e o Brasil marcou o discurso da representante do IRD no Brasil, Marie Pierre Ledru. “Trata-se de mais uma iniciativa de cooperação científica entre equipes brasileiras e francesas”, apontou.

 

A pesquisadora lembrou a inauguração da Casa Franco-Brasileira da Ciência na UnB no primeiro semestre desse ano, que se constitui num marco das relações entre os dois países. “A partir dessa integração acadêmica e científica, será possível estabelecer novas formas de atuação e avaliar os progressos das ações em conjunto”, acredita Marie Ledru.

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.