O presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Ribeiro Correia, afirmou que, na área das Engenharias, a UnB está em primeiro lugar no indicador cooperação internacional, com taxa de 45%, em comparação com os demais programas de pós-graduação do país.
Correia proferiu palestra no auditório da Reitoria na tarde de segunda-feira (19), junto à reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão, e a pesquisadores, diretores de institutos e faculdades, coordenadores de programas e estudantes de pós-graduação da instituição.
A UnB foi uma das 35 contempladas no Capes PrInt e recebeu, em 2018, R$ 6 milhões. Em número de programas, é a quarta do país. Na área das Engenharias, o presidente da Capes também mostrou que a Universidade de Brasília é uma das principais: “Só perde para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) quanto à cooperação com a indústria”.
Com foco em programas de bolsas, cooperação internacional e modalidades de financiamento, Correia iniciou a apresentação com o contexto da pós-graduação brasileira que, segundo ele, cresceu significativamente na última década. “Entre 2006 e 2017, a pós dobrou em termos de matrículas e número de programas”, destacou.
Em sua opinião, essa expansão é resultado da atuação do órgão nas últimas gestões, que se tornou “referência nacional e internacional de avaliação no nível superior”. Ele assegura que atualmente a Capes conta com grupo técnico que tem como compromisso o diálogo constante e a busca de soluções para a melhoria contínua do setor.
De acordo com o gestor, que ocupa o cargo de presidente da Capes desde o último mês de fevereiro, a situação brasileira pode melhorar tanto no cenário global, em comparação com países de primeiro mundo – Austrália, Canadá e Estados Unidos –, como também no cenário latino-americano, uma vez que alguns países estão à frente do Brasil nesses indicadores, como Uruguai, Paraguai, Peru e Argentina.
Ele ponderou, no entanto, o êxito do indicador de cooperação internacional, que chega a quase 80% nas Ciências Espaciais. “Quanto às Ciências da Saúde, o Brasil está à frente dos Estados Unidos e da China, em termos de quantidade e também de qualidade na produção de artigos científicos”, exemplificou.
INVESTIMENTO – Quanto ao orçamento anual, Anderson Correia afirmou que a Capes não está em condições de elevar as despesas, mas que o valor tem se mantido na casa dos R$ 4 bilhões, sem considerar o contingenciamento e o programa Ciência sem Fronteiras, que foi extinto.
Atualmente, a Capes subvencia cem mil bolsas de pós-graduação no país, sendo cerca de sete mil para pós-doutorado, 48 mil para doutorado e 43 mil para mestrado, além de outras cem mil voltadas para a formação de professores da educação básica. Correia garantiu que o volume de bolsas tem se mantido nos últimos cinco anos e que, de 2013 a 2018, foram destinados R$ 50 milhões a essa área.
Outro investimento que não sofreu impacto, segundo ele, foi o Portal de Periódicos: “Trata-se de um patrimônio dos pesquisadores, que conta com 45 mil títulos, 130 bases referenciais, 12 bases de patentes e tem mais de 168 milhões de acessos por ano”. Correia admitiu que o programa de internacionalização Capes PrInt sofreu corte de 30%, mas afirmou que, para o ano que vem, o valor deve ser repassado integralmente. Só o Capes PrInt possibilitou o investimento de R$ 300 milhões e cerca de 3.500 bolsas por ano.
O presidente lembrou que a Capes guarda uma ligação com a UnB, uma vez que o primeiro presidente do órgão, Anísio Teixeira, foi um dos idealizadores e fundadores da Universidade de Brasília, da qual também foi reitor.
A decana de Pós-Graduação (DPG), Adalene Moreira, aproveitou a oportunidade para informar que o Decanato tem feito um trabalho interno mais consolidado, elaborando seminários e incentivando o planejamento estratégico dos programas.
DÚVIDAS DA PLATEIA – Ao final da exposição, houve espaço para perguntas e respostas do público que lotou o auditório da Reitoria. A diretora de Pós-Graduação do DPG, Antonádia Borges, perguntou sobre o espaço dimensionado para as Humanidades, tendo em vista que, na UnB, grande parte dos programas de nota sete são das Ciências Humanas. Anderson Correia disse que a Capes está preocupada com as singularidades de cada área, incentivando outras métricas, como o próprio Qualis Livros.
“Em geral, o professor das Humanidades não publica em coautoria, tem muita publicação individual e escreve livros ou capítulos de obras. Além disso, um convite para uma palestra no exterior pode ser considerado uma colaboração internacional", observou.
Quanto ao termo "colaboração com a indústria", o presidente da Capes ressaltou que a palavra "indústria" deve ser entendida numa dimensão ampla, compreendendo setor produtivo, que pode incluir empresas públicas, organizações sem fins lucrativos e outras formas de parceria.
O professor Ricardo Machado, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGECL) da UnB, indagou sobre a saturação de doutores e a falta de políticas de absorção da mão de obra. Para o presidente da Capes, as universidades não têm como absorver todos os mestres e doutores. “Isso era uma realidade há 40 anos. Foi criada uma ilusão de que todo mundo ia arrumar emprego. Hoje, precisamos formar para a indústria”, declarou.
Correia sugeriu, inclusive, que haja mais espaço para quem já está no mercado. “Temos que quebrar nossos preconceitos, porque ainda existe uma aversão grande ao mestrado e doutorado profissional”, apontou.
Palestrante do #InspiraUnB, a vice-reitora da Universidade Católica de Washington, nos Estados Unidos, e pesquisadora da Nasa (a agência espacial norte-americana), Duilia de Mello, participou do evento e afirmou que tem recebido informações sobre os cortes de verba nas universidades brasileiras e presenciado um “pânico mundial” quanto a esse tema.
O presidente da Capes ressaltou que há muita informação sendo distorcida e que é preciso trabalhar com tranquilidade e ter confiança no órgão, que já acumula décadas de história. “No caso do CNPq, houve um erro do governo anterior [Temer] na aprovação da LOA, o que reduziu cerca de R$ 300 milhões do orçamento previsto”, acrescentou.
A reitora Márcia Abrahão encerrou o encontro e manifestou preocupação com o impacto na Capes do corte orçamentário no Ministério da Educação (MEC). Anderson Correia afirmou que há um acordo no Congresso Nacional para essa verba voltar para o MEC e disse estar tranquilo e esperançoso de que o órgão irá conseguir cumprir seus compromissos até o fim do ano.
Também participaram da solenidade decanos e outras autoridades, bem como os diretores da Capes de avaliação, professora Sônia Báo, de relações internacionais, professor Mauro Luiz Rabelo, e de programas e bolsas no país, professora Zena Maria da Silva Martins.