artigos
OPINIÃO

Paulo Cesar Marques da Silva é professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Doutor em Estudos de Transporte pela Universidade de Londres, mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e graduada em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente é chefe de gabinete da reitora da UnB.

Robson Coelho Tinoco

 

Parte dos professores têm o hábito, também institucionalizado por um ensino ainda bastante voltado a questões imediatistas, de “cobrarem” leituras em geral que até podem ser originais mas que sejam, sobretudo, compreensivas, indo na esteira de alguns modelos atuais de ensino de leitura literária: leem-se mais críticas e teorias históricas do que propriamente as obras. Avaliam, todavia, a questão da originalidade de leitura quase sempre vinculada a uma limitação imposta, formalmente, por questões de mera gramaticalidade textual: texto bom é aquele que se entende (entendimento = respeito às normas discursivo-gramaticais: paragrafação, clichês literários, compreensão coerente etc.).

 

O que se propõe como boa, moderna (e produtiva) leitura é ler o mundo na obra escrita; ler as marcas de um sujeito-autor que faz de seu mundo artístico um objeto de existência e comunicação. Sujeito que está no mundo e se faz de transformador-sujeito-transformado em fonte viva de acumulação de suas próprias experiências de vida em relação às das outras pessoas. Antonio Candido (2006), Mikhail Bakhtin (2003) e Hans Robert Jauss (1994), dentre outros estudiosos, nas bases de suas teorias e sob seus focos de interesse, tratam dessa questão primordialmente: ler para se perceber enquanto indivíduo social.

 

Apreender a essência de uma mensagem qualquer, seja em uma leitura atenta do complexo Ulysses, de James Joyce ou do Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, tanto quanto na leitura de informações intencionalmente implícitas de um texto publicitário ou de um bilhete, repleto de gírias e linguagem informal sempre requer, mesmo pouca ou muita, uma atitude educacional reflexiva. Na contemporaneidade informacional, positiva e negativamente, essa atitude se amplia frente ao computador, dadas suas possibilidades de navegação por redes informacionais articuladas, disponíveis nas casas, nas escolas, em boas bibliotecas ou lan-houses dos centros e periferias das grandes e mesmo pequenas cidades.

 

Reflexão pode ser um tipo de compreensão e quanto a atividades de leitura, “não basta decodificar as representações indiciadas por sinais e signos; o leitor porta-se diante do texto transformando-o e transformando-se” (SILVA, 1992, p. 44). Assim, refletir sobre uma leitura que se faz, percebendo sua coerência e que sob ela estão as raízes produtoras da mensagem essencial do autor, é compreendê-la além da simples representação verbal de um texto escrito. É perceber esses três propósitos da leitura como os fundamentos de uma produtiva reflexão: compreender a mensagem, compreender-se nela e se compreender por ela. (idem, p. 45)

 

Nesse processo educacional de leitura produtiva – reaplicação contemporânea do sentido freireano de “ler a palavra carregada de mundo” –, a informação subjetiva gera uma informação mais objetiva que, analisada e compreendida, promove aberturas para uma nova análise subjetiva e assim sucessivamente. Isso se dá em um contexto atual em que a cultura cibernética, por causa de sua característica disciplinar e especializada, separa e compartimenta os saberes, o que torna cada vez mais difícil a inclusão desses num contexto determinado. (MORIN, 2002).

 

Quanto à questão sobre hábitos de leitura, note-se que os brasileiros, se comparados, p. ex., a franceses (média de 7, 8 livros ao ano) e argentinos (média de 3, 4 livros ao ano) liam pouco – segundo dados de pesquisa realizada (por volta de 1 a 2 livros ao ano). Todavia, de acordo com pesquisa recente , os brasileiros leem, em média, 4,7 livros por ano e, em algumas regiões, o número é ainda maior, como é o caso do Sul, onde se apurou que são lidos 5,5 livros por habitante ao ano. No Sudeste o número foi de 4,9; no Centro-Oeste, 4,5; no Nordeste, 4,2 e no Norte, 3,9. A pesquisa confirmou, também, que as mulheres leem mais que os homens: 5,3 contra 4,1 livros por ano.

 

Destaque-se que há uma série de fatores que concorrem para tal hábito de leitura como o número de bibliotecas e livrarias à disposição da população . É importante observar, ainda, que a diminuição da prática da leitura é uma questão mundial e, quanto a isso, há dados referentes ao hábito de leitura dos norte-americanos que dão conta de que, ano a ano, baixa o índice de leitura de obras clássicas, o que também se percebe na Inglaterra. Lembre-se que já em fins do século XIX, Machado de Assis observava, em sua coluna de jornal, que lhe espantava como os “brasileiros liam pouco”. (BOSI et alli, 1992)

 

Leia o artigo na íntegra

 

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos.